Cartão de crédito é a forma de parcelamento preferida. 23% dos
consumidores tiveram crédito negado no último mês e 37% acreditam que está mais
difícil conseguir crédito este ano
Quem nunca comprou algo que não precisava e não estava nos
planos? Aparentemente um ato inofensivo, isso pode se tornar um problema
grande, principalmente em meio à crise econômica que o Brasil ainda está
passando. A pesquisa “Uso do Crédito” realizada pelo Serviço de Proteção ao
Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL)
mostra que 37% dos consumidores admitem ter comprado algo de que não
precisavam nos últimos 30 dias, devido à facilidade de crédito. Os itens
mais comprados por impulso são roupas, calçados e acessórios (14%), perfumes e
cosméticos (8%), idas a bares e restaurantes (6%) e smartphones (6%).
Na visão dos entrevistados, as lojas que mais facilitam o crédito e estimulam
as compras são as virtuais (29%), seguidas dos supermercados (19%) e lojas de
departamento (17%).
Quando recebem o contato de bancos, lojas ou financeiras lhe oferecendo
cartões, aumento do limite do cheque especial ou crédito extra, 36% veem a
proposta e avaliam de acordo com o orçamento, 24% não chegam nem a ver a
proposta e 17% não veem a proposta porque sabem que o orçamento não permite. No
entanto, 11% ouve e aceita a proposta porque gosta de ter crédito disponível ou
avalia de acordo com a vontade de fazer compras.
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, o consumidor precisa
ficar atento às armadilhas do crédito fácil. “É muito comum as pessoas
receberem oferta de um cartão de crédito assim que abrem uma conta em banco, ou
mesmo ter acesso a linhas de crédito que ficam disponíveis de forma automática
na conta corrente, estimulando a contratação de um empréstimo, por exemplo”,
diz Kawauti. “Porém, nem sempre o crédito é necessário ou vem a ser a melhor
solução. É um instrumento bastante útil para viabilizar metas de consumo, sem
dúvida. Entretanto, se o consumidor não estiver com o orçamento preparado para
quitar as parcelas, o endividamento pode fugir ao controle e trazer inúmeros
problemas”, analisa.
Dinheiro e cartão de crédito são formas de pagamento mais
utilizadas
O levantamento identificou que as formas de pagamento mais utilizadas nas
compras são o dinheiro (68%), o cartão de crédito (45%) e o de débito (35%).
Mais da metade (58%) buscaram evitar determinadas formas de pagamento a crédito
nos últimos três meses, principalmente os financiamentos (27%) e crediários
(23%).
Quase metade da amostra (47%) sente que atualmente há maior dificuldade
das lojas em aceitar certas modalidades de pagamento, especialmente o crediário
(24%), o cheque pré-datado (23%) e o financiamento (18%). Quando o
estabelecimento não aceita a forma de pagamento que o consumidor escolheu, 37%
daqueles que têm sentido mais dificuldades desistem da compra, mas 27% garantem
que acabam pagando à vista.
O pagamento à vista é escolhido por 38% dos entrevistados caso o preço seja
muito inferior que na compra parcelada, mas 19%, no entanto, preferem parcelar,
caso a diferença de preço não seja grande para poder comprar mais coisas se
necessário.
A maioria (67%) conhece a diferença do valor à vista e do valor parcelado de um
produto. Considerando os últimos 30 dias anteriores a pesquisa, os consumidores
pagaram, em média, três prestações/parcelas de cartão, cheque, empréstimo ou
financiamento. Considerando todas compras parceladas feitas, em média, os
entrevistados demorarão seis meses a pagar
todas elas.
Cartão de crédito é a forma de parcelamento preferida de 61%
A grande aceitação do cartão de crédito entre os consumidores brasileiros
transparece mais uma vez, quando se considera a forma de parcelamento preferida
dos brasileiros: 61% dos que irão parcelar nos próximos mês preferem utilizar o
cartão de crédito (queda de 10,8 pontos percentuais em relação a 2016). Outros
14% dizem preferir o crediário/carnê, enquanto 10% preferem utilizar o cartão
de lojas.
Ainda considerando quem pretende comprar parcelado no próximo mês, no momento
de definir o número de parcelas da compra, quatro em cada dez escolhem a opção
que oferecer a menor quantidade possível de prestações (43%). Em contrapartida,
26% sempre pedem o número máximo de parcelas sem juros, independentemente do
valor da compra, enquanto 19% afirmam que quanto maior o valor da compra, maior
o número de parcelas pedidas para pagar.
Dois em cada dez entrevistados (20%) planejavam comprar parcelado roupas,
calçados e acessórios, já 13% celular e smartphone e 10% móveis para a casa.
Considerando até o final de 2017, os produtos mais visados para compras
parceladas são celulares e smartphones (17%), roupas, calçados e acessórios
(15%) e eletrodomésticos (13%).
23% tiveram crédito negado no último mês. 37% acreditam que está
mais difícil conseguir crédito em 2017
Em oposição a quem consome devido ao crédito fácil, o levantamento do SPC
Brasil e da CNDL também mostra que 23% dos consumidores tiveram crédito negado
no último mês ao tentar comprar numa loja de forma parcelada, sendo os
principais motivos, nome sujo (6%) e limite de crédito excedido (5%). Com o
acesso ao crédito mais restrito, muitos lojistas parecem dispostos a facilitar
as condições de compra e garantir mais recursos em caixa, uma vez que metade
dos consumidores garante ter recebido ofertas de descontos para efetuar o
pagamento à vista em dinheiro nos últimos 30 dias (50%).
Praticamente quatro em cada dez entrevistados acreditam que em 2017 está
mais difícil conseguir crédito (37%, com queda de 10,2 p.p em relação a
2016), ao passo em que 33% julgam estar igual e 18% pensam estar mais fácil
este ano. Para o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Júnior, é natural
que quem empresta recursos esteja mais cauteloso, em meio ao desdobramento da
profunda recessão que tomou conta do país nos últimos dois anos. “As condições
para a concessão ficaram mais rígidas e nesse período houve um ciclo contínuo
de alta dos juros que acabou encarecendo e desestimulando a busca por
empréstimos. Como só recentemente essa tendência em relação aos juros foi
revertida, ainda não houve tempo para que o consumidor percebesse reflexos
positivos”, explica Pellizzaro.
“Por um lado, a restrição ao crédito impacta sensivelmente o comércio, pois as
pessoas tendem a reduzir o consumo, especialmente no caso de produtos e
serviços de maior valor. Mas, por outro lado, evita o crescimento da
inadimplência. O ideal será quando estivermos numa situação em que o consumo
cresça de maneira sustentável”, indica o presidente. Para ele, é preciso ter
muito cuidado na hora de contratar o crédito. “É melhor adiar um sonho de
consumo do que contrair uma dívida de longo prazo e, sobretudo, incompatível com
a renda e o orçamento.”
Metodologia
A pesquisa traça o perfil de 601 consumidores de todas as regiões brasileiras,
homens e mulheres, com idade igual ou maior a 18 anos e pertencentes às todas
as classes sociais. A margem de erro é de 4,0 pontos percentuais e a margem de
confiança, de 95%.