Para cientista político do CEUB, um dos principais feriados nacionais celebra a história da mudança do regime político e prova lições de cidadania
A
Proclamação da República, celebrada no dia 15 de novembro, marca um dos
momentos mais significativos da história do Brasil. Para além da troca de
regimes - da monarquia parlamentarista ao período republicano presidencialista
- simboliza a transformação na forma de governo, com impacto nas estruturas
políticas nacionais e nos princípios que ainda hoje moldam o ideal de cidadania
no Brasil. Cientista político e professor de Direito Constitucional do Centro
Universitário de Brasília (CEUB), Alessandro Costa detalha a importância do
episódio para o país.
Apesar
de ser feriado nacional, a Proclamação da República muitas vezes é confundida
com o Dia da Independência, celebrado em 7 de setembro. Segundo Costa, os dois
eventos são fundamentais, mas refletem momentos e objetivos históricos
distintos: “A Independência, em 1822, simbolizou o grito de soberania do jovem
Estado brasileiro, enquanto a Proclamação da República, em 1889, representou o
rompimento com a monarquia e a redefinição da estrutura política. Ambos
moldaram a formação da identidade nacional, mas a república buscava afirmar a
figura do cidadão em substituição ao súdito do império.”
Segundo
o docente do CEUB, a transição do status de súdito para cidadão brasileiro foi
um processo que levou tempo e enfrentou inúmeras limitações. Embora a república
representasse uma nova organização política, a estrutura da pirâmide social
permaneceu praticamente inalterada. "As camadas mais baixas, compostas em
grande parte por ex-escravos e seus descendentes, continuaram em posição
desprivilegiada. Somente as oligarquias locais, as camadas mais altas da
sociedade, inicialmente se beneficiaram, assumindo o poder e moldando o novo
sistema político a favor de seus interesses próprios", explica.
Após
o ato da proclamação, o professor considera que o cenário começou a mudar à
medida que o sistema republicano foi consolidando direitos e garantias para a
população. Para Costa, a atual Constituição foi fundamental nesse processo,
pois incorporou plenamente os direitos e garantias individuais dos cidadãos,
ampliando a rede de proteção e assegurando a cidadania a todos os brasileiros.
"A Constituição de 1988 cumpre esse papel ao consolidar direitos que,
anteriormente, não tinham a mesma proteção e aplicabilidade", ressalta o
especialista.
Coisa pública
A título de curiosidade: do latim res publica, que significa “coisa pública”, a palavra República reforça a noção de que os bens e os interesses do Estado pertencem ao povo. Nesse sentido, o docente do CEUB salienta a importância desse princípio no texto constitucional. "Nossa Constituição deixa claro, no artigo 1º, que ‘todo o poder emana do povo’, o que fundamenta a noção de que o Estado deve satisfazer as necessidades de seus cidadãos, protegendo seus direitos fundamentais, como o direito à vida, à liberdade, à educação e à cultura”.
Sobre a ideia de ser um cidadão republicano, Alessandro explica que o conceito se baseia em indivíduos que acreditam na igualdade civil e no equilíbrio entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, que atuam como contrapesos. “Ser republicano é respeitar os direitos de todos, acreditar na lei e na democracia, preservando a ética pública e os valores que fundamentam a república”, finaliza o cientista político.
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