Em meio a tantos dados que envergonham a população
brasileira, como índices de corrupção, pobreza, violência urbana e fraquíssimo
desempenho na educação, dentre outros, há alguns oásis de eficiência capazes de
orgulhar qualquer nação. São como raios de sol penetrando entre nuvens negras
que prenunciam tempestade, fios de luz e esperança de que é possível ter dias
melhores para todos.
O Brasil – que já foi chamado de “celeiro do mundo”
– é o terceiro maior produtor de alimentos do planeta. Responde por 80% a 81%
de todo suco de laranja produzido no mundo e por metade da produção mundial de
açúcar. A participação nacional no mercado global de soja atinge entre 40% e
42%. No mercado de açúcar de 50% a 51%. Detém, ainda, de 30% a 32% de toda a
produção de café e carne de frango no planeta. Sozinho, o país abastece de 29%
a 32% do milho produzido mundialmente, além de fornecer de 25% a 27% da carne
bovina consumida globalmente.
Esses números dão a dimensão do sucesso do
agrobusiness brasileiro que, em 2023, foi responsável por 27% a 29% do Produto
Interno Bruto (PIB) nacional, algo em torno de US$ 585 a US$ 630 bilhões no
ano. Metade (49% a 50%) das exportações brasileiras foi garantida pelo agro em
2023, rendendo de US$ 166 a US$ 170 bilhões de receita. Seu desempenho foi
fundamental para o superávit de 150% na balança comercial, gerando saldo positivo
de US$ 148 bilhões. Além disso, o setor gerou, no mesmo ano, de 30% a 31% do
total de empregos no país.
O desenvolvimento e o excelente desempenho do
agronegócio nas últimas décadas devem-se, em grande medida, à Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), criada há 50 anos. A estatal
pode ser considerada o alicerce tecnológico para a expansão do agrobusiness
graças às pesquisas, desenvolvimento e inovação na agricultura, o que permitiu
a introdução de novas culturas, inclusive com a incorporação do cerrado, bem
como o aumento da produtividade do setor.
O presidente da Embrapa, Celso Martinez, afirma
que, para cada R$ 1,00 aplicado na empresa, em 2022, o retorno para a sociedade
brasileira foi de R$ 34,70. Esse número mostra o acerto no investimento público
em pesquisa e desenvolvimento, merecendo destaque no caso da Embrapa seu
fundador, o então ministro da Agricultura do governo Médici (1969-1974),
Alysson Paulinelli, e, do lado empresarial, Olacyr de Morais, pioneiro na
tropicalização da soja no Centro-Oeste. O sucesso do cerrado e as novas
fronteiras agrícolas também tiveram grande contribuição de um visionário,
Juscelino Kubitschek, que governou o país de 1956 a 1961 e que pode ser
considerado o maior presidente do Brasil nos últimos 68 anos.
Hoje o Brasil pode se orgulhar como nunca de sua
extraordinária produção agrícola. O país responde por 30% de toda a produção
mundial de alimentos. É, por isso, um grande fornecedor para todo o planeta.
O Brasil também se destaca na produção de petróleo.
Em 2023, passou a ocupar a 8ª posição entre os países produtores desse fóssil,
com 3,4 milhões de barris/dia. Os principais são: Estados Unidos (12,9 milhões
de barris/dia), Rússia (10,6 milhões), Arábia Saudita (9,6 milhões), Canadá
(4,9 milhões), Iraque (4,3 milhões), China (4,2 milhões) e Irã (3,9 milhões de
barris/dia). O Brasil responde por 4,1% da produção mundial de petróleo, graças
à Petrobras, a maior empresa nacional em valor de mercado (R$ 532 bilhões) e
uma das maiores do mundo.
Na produção de gás natural, o Brasil ainda não tem
o mesmo destaque do petróleo, porém, reúne todas as condições para crescer e já
registra resultado significativo. Extrai 150 milhões de metros cúbicos por dia,
o que lhe dá a 31ª posição no mundo. Estados Unidos, Rússia, Irã, China e Catar
ocupam as cinco primeiras colocações no ranking mundial.
Essa produção de óleo cru e gás natural tem grande
relevância econômica para a nação, representando grande participação no Produto
Interno Bruto. Em 2023, contribuiu com 12% a 14% do PIB, o correspondente ao
volume entre US$ 260 a US$ 305 bilhões. Além disso, petróleo e gás
representaram de 8% a 9% das exportações brasileiras, arrecadando entre US$ 33
e US$ 37 bilhões. Sua participação no superávit da balança comercial brasileira
foi ainda maior: entre 25% e 26%, algo entre US$ 25 e US$ 26 bilhões.
O setor mineral também tem papel importante no PIB
Brasil, somando de 4% a 5% do Produto Interno Bruto, ou seja, entre US$ 87 a
US$ 109 bilhões. Nas exportações, registra participação entre 13% e 14%, o
correspondente entre US$ 44 e US$ 47 bilhões. Quase um terço (30% a 32%) do
superávit da balança comercial advém desse setor, com receita anual entre U$ 30
bilhões a US$ 32 bilhões.
Esses números demonstram que os setores mineral, do
agronegócio, e do óleo e gás natural são os pilares que sustentam a economia e
os empregos no Brasil.
Somados, respondem por 43% a 48% do PIB,
movimentando anualmente US$ 1,05 trilhão, e sua participação é superior a dois
terços (entre 70% e 73%) do total das exportações nacionais, somando cerca de
US$ 246 bilhões por ano.
O superávit desses três setores em 2023 foi 208%
maior do que o superávit total da balança comercial brasileira. O agro teve
superávit de US$ 141 bilhões; óleo e gás, de US$ 26 bilhões, e o setor mineral,
de US$ 32 bilhões, totalizando US$ 206 bilhões, ante US$ 98,8 bilhões de
superávit da balança comercial.
Sem o extraordinário desempenho desses três
setores, certamente a balança comercial brasileira seria deficitária. Em
consequência, haveria grande volatilidade na taxa de câmbio e o real estaria
ainda mais desvalorizado em relação ao dólar.
Não faltam motivos, portanto, para que o governo
desenvolva programas de incentivo e garanta o respeito e segurança aos
investidores desses segmentos que são fundamentais para a economia nacional.
Especificamente no caso do agronegócio, o Brasil
deve estar muito atento à preservação da floresta amazônica, nosso maior bioma
e reserva ambiental de importância global. Manter a floresta em pé significa
garantir o regime de chuva nas regiões agrícolas – graças aos rios voadores,
não existe agricultura sem água – e a manutenção dos níveis das hidroelétricas,
fundamental para a produção de energia que abastece o setor industrial, outra
fonte vital para a economia nacional.
Como se vê, o Brasil tem aspectos extraordinários
que precisam ser valorizados e incentivados. Somos um país de enorme potencial
e de grandes oportunidades. É preciso visão estratégica do governo para
estimular o setor produtivo privado e garantir a mesma economia e eficiência –
sem corrupção – nas empresas privadas que contribuem para a riqueza nacional em
setores estratégicos. É o Brasil que dá certo e pode muito mais. Porém, só
aplaudir não basta. Como dizia o pai da gestão moderna, o escritor e professor
austríaco Peter Drucker (1909-2005), “não podemos prever o futuro, mas podemos
criá-lo”.
Samuel Hanan - engenheiro com especialização nas áreas de macroeconomia, administração de empresas e finanças, empresário, e foi vice-governador do Amazonas (1999-2002). Autor dos livros “Brasil, um país à deriva” e “Caminhos para um país sem rumo”. Site: https://samuelhanan.com.br
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