Segundo o levantamento, de cada 10
estudantes do país, 7 estão matriculados em instituições da iniciativa privada
Se antes a tradição era contar com o auxílio
financeiro dos pais para bancar a faculdade, hoje esse cenário já é bem
distante da realidade de boa parte dos brasileiros, especialmente depois da
crise econômica que o país enfrentou nos últimos anos. Os estudantes agora, não
só participam do orçamento familiar, como também pagam para estudar.
Dados da
Companhia
de Estágios – assessoria e consultoria especializada em vagas de estágio e
trainee – revelam que, dos 74,4% de alunos que estudam em instituições
particulares, apenas um quarto não tem qualquer gasto com educação, pois, os
custos são pagos por terceiros, o restante precisa investir parte da renda para
garantir os estudos.
O levantamento anual feito pela recrutadora
identificou que esse tipo de despesa – faculdade e/ou cursos extracurriculares
– compromete um terço da renda de 21% dos alunos, enquanto para outros 20%, os
gastos consomem mais da metade do orçamento mensal. Contudo, os especialistas
afirmam que, se o jovem quiser se destacar profissionalmente após a recuperação
da economia do país, agora é a hora de investir.
Perfil
econômico dos jovens em formação
De acordo com a pesquisa “O Perfil do candidato a
vagas de estágio em 2018”, que contou com a participação de 5.410 estudantes de
todas as regiões do Brasil, quase metade dos entrevistados (49,1%) possui uma
renda familiar de até 3 salários mínimos, enquanto 32% dispõe de um orçamento
familiar maior que esse valor e cerca de 18% conta apenas com o salário mínimo.
Dentre esses jovens, uma parcela de 59% afirma
ter participação direta nas despesas do lar, desde arcar com toda ou boa parte
das dívidas, até pagar alguma conta ocasionalmente. Já entre aqueles que cursam
o nível superior, 22% revelam que os pais são os responsáveis pelo pagamento da
faculdade, enquanto 21% paga os próprios estudos e 21% estuda em uma
universidade pública. O restante possui algum tipo de bolsa ou financiamento.
Ensino
superior no Brasil
Pagar para estudar é a realidade da maioria dos
brasileiros que estão na faculdade. Segundo os últimos dados divulgados do
Censo da Educação Superior de 2016, realizado pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), existem no Brasil,
atualmente, 2.407 instituições de ensino superior, dessas apenas 298 são
geridas pelo poder público, contra mais de 2,1 mil instituições particulares.
Além de possuírem menos unidades, as estatais ainda contam com outra
desvantagem: a forte concorrência. Por isso muitos jovens buscam outras
alternativas que possam auxiliar nessa empreitada, já que o apoio financeiro
dos pais anda comprometido devido aos percalços da economia.
Os
desafios depois da aprovação
Após a tensão do vestibular surgem novas
responsabilidades na vida dos calouros e uma das principais é arcar com as
mensalidades da graduação. Para isso alguns ainda podem contar com a ajuda
financeira da família, já outros precisam recorrer a incentivos do governo,
através de programas como o Financiamento do Ministério da Educação (Fies) – um
empréstimo que o aluno só paga depois de formado –, ou o Programa Universidade
para todos (Prouni) – voltado para alunos de baixa renda que fizeram o Ensino
Médio em escolas públicas, que podem concorrer a bolsas de estudo integrais ou
parciais.
Mas, para quem não é contemplado por esses
benefícios, bancar a graduação pode se tornar um desafio cada vez maior, já que
o valor é reajustado anualmente, especialmente em tempos de recessão econômica.
Justamente por isso muitas instituições privadas oferecem também o crédito
universitário, um convênio entre banco e faculdade, que garante empréstimos com
juros menores, ou, há ainda programas de concessões de bolsas oferecidos pelas
próprias faculdades para quem não tem condições de pagar o valor total.
Estágio
é alternativa mais atraente
Tudo isso ajuda, mas, para quem está em início de
carreira e ainda não possui muita experiência no mercado, o cenário é ainda
mais desafiador: muitos precisam contribuir com o orçamento familiar e ainda
bancar os estudos, no entanto, conquistar uma vaga de emprego formal é cada vez
mais difícil. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelam
que os jovens entre 14 e 24 anos são os mais prejudicados pela recessão do
país, o que acontece, justamente, devido à inexperiência e falta de
qualificação desse grupo. O levantamento da Companhia de Estágios também
demonstra que, além disso, boa parte dos estudantes afirma não estar preparada
para encarar o mercado formal no momento e, portanto, enxerga no estágio uma
oportunidade para ganhar experiência e segurança.
Diante dessas dificuldades, o estágio tem ganhado
cada vez mais espaço e se destacado na preferência dos estudantes. De acordo
com Tiago Mavichian, diretor da recrutadora, os números já refletem esse
cenário: “Os programas de aprendizagem atraem cada vez mais candidatos, para se
ter ideia, nossos dados internos registraram um aumento gradual desde o início
da crise, em 2014. O número de candidatos nos processos seletivos de todo o
país cresceu mais de 20%”.
Para o especialista as projeções futuras são
ainda mais positivas: “Esse mercado vem recuperando as vagas suprimidas pela
crise e tende a crescer ainda mais. O número de vagas subiu 19% somente no ano
passado, mesmo período em que houve mais de 200 mil novos inscritos em nossa
plataforma. E a pesquisa demonstra que, atualmente, 58% dos estudantes estão
priorizando a busca por uma oportunidade de estágio em detrimento de vagas
formais ou autônomas.
Investimento
a longo prazo
O estudo revela que mais da metade dos estudantes
conseguem fechar as contas do mês no azul, mas, em contrapartida, não sobra
nenhuma quantia para poupar, inclusive, boa parte deixou de fazer algum curso
complementar, justamente, por esse motivo. No entanto Mavichian alerta que o
momento é crucial para quem quer construir uma carreira sólida e se estabelecer
após a faculdade. O diretor da recrutadora afirma que, mesmo nos processos
seletivos para estagiários, que não exigem experiência prévia, a concorrência
está alta e aquele que investe em qualificação consegue se destacar dos demais:
“Apesar da oferta de vagas ter acompanhado o crescimento da demanda, a disputa
ainda é acirrada e os recrutadores são criteriosos, portanto, quem investir em uma
formação complementar tem grandes chances de sair na frente e garantir a vaga”
– acrescenta o especialista.