A humanidade nunca esteve tão próxima de vencer o tempo. A promessa de prolongar indefinidamente a vida, outrora restrita à mitologia, hoje é pauta científica, tecnológica e cultural. Projetos como o AlphaFold, do Google DeepMind — capaz de prever a estrutura de todas as proteínas conhecidas e abrir caminho para a cura de praticamente todas as doenças — são celebrados como marcos de uma nova era. Pela primeira vez, o sonho da imortalidade parece possível. Mas o que essa obsessão por viver para sempre revela sobre nós?
A busca pela eternidade expõe uma angústia
profunda: o medo da finitude. Por trás da corrida por terapias genéticas,
inteligência artificial e aprimoramento biológico, há o desejo de escapar
daquilo que mais nos define: a vulnerabilidade. Vivemos em uma cultura que
trata o envelhecimento como defeito, o erro como fracasso e a morte como tabu.
Nesse processo, a vida perde sua espessura, transformando-se em um projeto
interminável de manutenção e controle.
A imortalidade, tão almejada, traz consigo um
paradoxo. Ao eliminar os limites, elimina-se também o sentido. O tempo deixa de
ser medida e torna-se apenas repetição. Sem a urgência do fim, desaparece a
necessidade de escolher, de amar, de arriscar. O ser humano passa a existir,
mas não necessariamente a viver. A promessa de eternidade pode se tornar uma
prisão invisível, onde tudo é possível, e nada é essencial.
Talvez o verdadeiro avanço não esteja em estender a
existência, mas em reaprendermos a habitá-la. Em reconhecer que é justamente a
transitoriedade que confere significado à vida. A consciência da morte é o que
transforma cada instante em algo precioso, irrepetível. A imortalidade
biológica pode até ser alcançada um dia, mas, sem propósito, continuará sendo
apenas uma vitória técnica sobre o corpo, e uma derrota silenciosa da alma.
Sebastian Dumon - autor de “Ascensão Imortal”, da trilogia “Sete Imortais”, que reflete sobre os limites da ambição humana e da ciência em um mundo distópico
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