A nutrição desempenha papel essencial na recuperação funcional de pacientes submetidos a processos de reabilitação física e clínica. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), especificamente da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2017-2018) e da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2019), condições como desnutrição, excesso de peso e insegurança alimentar interferem significativamente nos resultados da reabilitação. A integração de estratégias nutricionais individualizadas é essencial para otimizar a recuperação e reduzir complicações.
A reabilitação é um componente essencial na recuperação de pacientes acometidos
por lesões, doenças crônicas ou após procedimentos cirúrgicos. Entretanto, o
sucesso do processo reabilitacional está diretamente ligado ao estado
nutricional do paciente. A má nutrição, seja por deficiência ou excesso, afeta
negativamente a cicatrização, força muscular e disposição geral.
De
acordo com o IBGE, o Brasil vive atualmente uma transição nutricional, com o
aumento simultâneo da obesidade e da insegurança alimentar, criando um cenário
desafiador para a saúde pública e os programas de reabilitação.
Dados do IBGE
- Excesso de peso: presente em 55,4% dos adultos brasileiros (POF
2017–2018);
- Obesidade: acomete 19,8% da população;
- Insegurança alimentar: atinge 36,7% dos domicílios brasileiros
(2020);
- Desnutrição hospitalar: prevalência estimada entre 30% e 50% dos
pacientes internados.
Impactos na Reabilitação
- Pacientes desnutridos apresentam menor resposta à fisioterapia e
maior incidência de infecções;
- Obesos enfrentam maior dificuldade de mobilidade e maior risco de
complicações ortopédicas;
- A má nutrição retarda a cicatrização, reduz a força muscular e
prolonga o tempo de internação.
Os
dados acima evidenciam um cenário de risco nutricional que afeta diretamente a
eficácia dos programas de reabilitação. A desnutrição reduz significativamente
os ganhos funcionais de terapias físicas e ocupacionais. Por outro lado, o
excesso de peso sobrecarrega articulações e dificulta a progressão da
reabilitação. Artigos científicos publicados na Revista Brasileira de Nutrição
Clínica e no Jornal Brasileiro de Reabilitação reforçam que o suporte
nutricional adequado acelera a recuperação, reduz internações e melhora a
qualidade de vida.
A
atuação do nutricionista dentro das equipes multiprofissionais é
imprescindível. Estratégias como avaliação nutricional precoce, suplementação
individualizada e educação alimentar são essenciais para a adesão e sucesso do
tratamento.
O
nutricionista tem papel importante, avaliando o estado nutricional individual
por meio de histórico clínico, exames, hábitos alimentares e dados
antropométricos (peso, altura, circunferências e dobras cutâneas). A partir
dessa avaliação, é elaborado um plano alimentar personalizado, que inclui
prescrição dietoterápica em conjunto com a equipe multiprofissional. Para os
pacientes em uso de dieta enteral são calculadas as necessidades energéticas e
proteicas e acompanhada a adequação por meio de indicadores assistenciais
visando a recuperação do estado nutricional, dando assim o suporte necessário
para a jornada de reabilitação.
Durante
a internação, o nutricionista acompanha a evolução do estado nutricional e a
aceitação alimentar, ajustando o plano conforme necessário. Estratégias de
gastronomia são utilizadas para tornar a alimentação mais prazerosa, ajudando
também no bem-estar emocional.
Além
disso, a suplementação individualizada é importante para fornecer os nutrientes
certos à regeneração de tecidos, músculos e órgãos, favorecendo a recuperação
de funções físicas e cognitivas. Em resumo, a intervenção nutricional adequada
e integrada com a equipe multiprofissional é fundamental para acelerar a
recuperação, evitar complicações e garantir melhor qualidade de vida ao
paciente em reabilitação.
Exemplo: Paciente idoso pós-AVC
- Perfil: homem, 82 anos, 1,70 m e
peso de 38 kg (desnutrição grau III), pós-AVC, com infecção urinária
requerendo gastrostomia.
- Motivo do tratamento: desnutrição
extrema, infecção persistente e falha de ingestão por via oral.
- Tratamento nutricional:
nutrição enteral hiperproteica com 1,5 cal/ml.
- Desfecho:
após 11 meses, peso de 56 kg (ganho de 18 kg), melhora da composição
corporal, incluindo recuperação da ingestão oral. Atualmente, com 62 kg,
hidratado, com composição corporal adequada e capaz de caminhar e se
alimentar normalmente. Durante o período de internação, o paciente utilizou
dieta enteral com aporte calórico e proteico adequados às suas
necessidades para ganho de peso e massa muscular, contribuindo assim para
o processo de reabilitação motora com equipe de fisioterapeutas. O
paciente também foi acompanhado pela equipe de fonoaudiólogos realizando a
introdução segura de alimentos via oral junto a equipe de nutricionistas
até atingir o objetivo de desmame total da dieta enteral para dieta via
oral com o mesmo aporte calórico e proteico assegurando os ganhos
nutricionais, através de alimentação equilibrada e calculada com os
principais nutrientes necessários para o processo de reabilitação.
O
estado nutricional é um fator determinante na resposta clínica de pacientes em
reabilitação. A análise dos dados do IBGE evidencia a necessidade de ações de
saúde pública que promovam o acesso à alimentação saudável e à avaliação
nutricional qualificada. A nutrição como parte integrante do processo de
reabilitação é fundamental para garantir melhores desfechos funcionais e maior
qualidade de vida aos pacientes. A nutrição não é apenas complementar: ela
refaz o alicerce da reabilitação, promovendo resiliência física, melhor
recuperação funcional e qualidade de vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário