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quarta-feira, 16 de julho de 2025

Acidentes domésticos nas férias

Como conciliar liberdade e proteção? 


Durante o período de férias escolares é comum o aumento de acidentes domésticos e a preocupação dos pais. Ao mesmo tempo é uma época preciosa para as crianças explorarem, aprenderem e desenvolverem novas habilidades. Como permitir que os filhos experimentem a autonomia sem expô-los a riscos desnecessários? Até que ponto devemos confiar e até onde precisamos redobrar a atenção? 

Na psicologia Adleriana, acreditamos que o papel dos pais não é apenas proteger, mas principalmente preparar a criança para a vida. Ao permitir que as crianças participem ativamente do dia a dia doméstico, estamos dando espaço para que elas desenvolvam coragem, responsabilidade, senso de capacidade e autoestima, inclusive em situações que exigem cuidado. 

Nenhum aprendizado é mais eficaz do que aquele adquirido através da prática. Subir numa cadeira para alcançar a pia, arrumar as camas ou tomar banho sozinho são pequenas ações que, além de desenvolverem habilidades físicas e cognitivas, fortalecem a autoestima da criança. Privá-la dessas experiências é como enviar mensagens inconscientes: “Você não é capaz”, “Você não sabe”, “Você não consegue”.

Encorajar a criança a fazer sozinha não significa negligenciar os riscos. O papel do adulto é avaliar o ambiente e garantir segurança: produtos tóxicos e objetos cortantes fora de alcance, janelas protegidas contra quedas, porta da rua fechada e assim por diante. Dentro de um espaço seguro, no entanto, pequenos erros são mais do que aceitáveis, são bem vindos. Sob a supervisão de adultos, realizar tarefas como por exemplo, varrer o chão, pôr e tirar da mesa, lavar a louça entre outras, ajuda a criança a desenvolver percepção de risco e autocontrole.

Se o perigo não for iminente, ao invés de um “não faça isso, é perigoso!”, experimente um “O que poderia acontecer se você colocasse a mão nessa panela?” seguido por um “Como podemos fazer isso de um jeito mais seguro?”. Conversar com a criança e ajudá-la a entender o perigo e imaginar como evitá-lo faz com ela se sinta parte da família e alguém a ser respeitado.

O equilíbrio está em oferecer liberdade com limites claros e tolerantes. Não criamos filhos como peixes dentro de um aquário, com temperatura da água controlada e um espaço 100% seguro, da mesma forma que não os expomos a perigos desnecessários. A ideia é depositar confiança na capacidade da criança, incluí-la nas tarefas domésticas e permitir que ela construa seu mundo através do exemplo dos pais. 

As férias são um campo fértil para cultivar a independência e o senso de responsabilidade. Com orientação, diálogo e um ambiente seguro, podemos permitir que as crianças cresçam encorajando-as a experimentar coisas novas – sem abrir mão da proteção. Afinal, como Adler dizia: "A criança precisa de coragem para viver, e essa coragem nasce quando ela sente que pertence e que é capaz." 



Yafit Laniado - psicóloga e hipnoterapeuta, criadora da Relacionamentoria, consultoria especializada


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