Especialista em fisiologia do exercício aponta os riscos do uso indiscriminado do medicamento e defende o caminho clássico: exercício, alimentação e rotina saudável
Nos últimos meses, o Ozempic — medicamento
originalmente desenvolvido para o tratamento da diabetes tipo 2 — ganhou os
holofotes como uma solução rápida para o emagrecimento. Celebridades e
influenciadores adotaram a substância como uma aliada na perda de peso, mas
especialistas em saúde e desempenho físico acendem o alerta: os riscos e
consequências do uso sem acompanhamento adequado podem ser maiores do que se
imagina.
A substância age imitando o hormônio GLP-1,
responsável por controlar a glicose no sangue e promover maior saciedade. Essa
ação reduz o apetite e leva à perda de peso. No entanto, parte significativa
dessa perda pode vir da massa muscular, e não apenas da gordura corporal.
“Estudos mostram que cerca de 40% do peso perdido
com a semaglutida pode ser de massa muscular. Isso compromete o metabolismo,
enfraquece o corpo e traz riscos sérios à saúde a longo prazo”, explica Felipe
Kutianski, professor de Educação Física e especialista em fisiologia do
exercício.
De acordo com o especialista, a perda de músculo
afeta diretamente a capacidade do corpo de queimar gordura e manter o peso a
longo prazo. Além disso, contribui para o efeito rebote — comum entre os
usuários do medicamento —, em que o peso é recuperado após a interrupção do
uso, geralmente em forma de gordura, e com menos tônus muscular.
Uma pesquisa recente publicada na JAMA
Network revelou que cerca de 75% das pessoas que utilizam Ozempic
voltam a ganhar peso em até um ano após parar o tratamento. Para Kutianski,
isso se deve à falta de mudança comportamental.
“O remédio pode até ajudar em um primeiro momento,
mas não ensina a comer melhor nem incentiva o movimento. Quando o efeito passa,
o corpo sente. E aí começa o ciclo vicioso do efeito sanfona”, afirma.
Além da perda muscular, o uso de Ozempic pode
causar enjoos, vômitos, prisão de ventre, fraqueza, tontura, arritmias e outros
efeitos colaterais. Também não é indicado para pessoas com histórico de
pancreatite, doenças gastrointestinais graves ou determinados tipos de câncer.
“Emagrecer com saúde exige constância. É um
processo que passa pelo exercício físico, alimentação balanceada e sono de
qualidade. Pode não ser imediato, mas é real, seguro e sustentável”, reforça
Kutianski.
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