Em um mundo em que a única constante é a mudança, as empresas já não se podem dar ao luxo de serem apenas resilientes. A resiliência permitiu-nos resistir às crises, mas a antifragilidade permite-nos crescer com elas. Num ambiente de “peri-risco”, onde as crises não são apenas constantes, mas simultâneas e cada vez mais imprevisíveis, a capacidade de antecipar e transformar a incerteza em vantagem tornou-se o verdadeiro diferencial competitivo.
A maioria das organizações ainda funcionam segundo um
modelo reativo. Seis em cada dez empresas esperam que a crise lhes bata à porta
para atuar. Implementam protocolos de comunicação, preparam porta-vozes e
concebem respostas que, em muitos casos, chegam demasiado tarde. Num mundo
interligado e volátil, essa estratégia já não é sustentável. A antifragilidade
é a evolução natural da gestão empresarial: não se trata apenas de resistir ao
impacto, mas de transformar o risco em oportunidade.
A resiliência ensinou-nos a sobreviver. A
antifragilidade ensina-nos a prosperar no caos. Enquanto uma empresa resiliente
recupera após um choque, uma empresa antifrágil cresce com cada desafio. A
chave é a antecipação: ouvir ativamente as partes interessadas, identificar os
primeiros sinais de risco e agir rapidamente. Não se trata de gerir crises, mas
de as evitar ou, melhor ainda, de as transformar num trampolim para a inovação.
Um exemplo claro de antifragilidade é a Mattel e a Barbie. Durante anos, a
marca foi criticada pela sua falta de diversidade. Em vez de resistir à mudança
ou simplesmente responder às críticas com pequenos ajustes, transformaram o
desafio numa vantagem competitiva. Reconfiguraram a sua estratégia, expandiram
o seu portfólio e, com o lançamento do filme da Barbie, transformaram a sua
marca num ícone cultural renovado. Este é o poder da antifragilidade:
transformar uma ameaça em crescimento.
Não se pode ser antifrágil em tudo. Cada organização
deve identificar as ameaças que mais afetam a sua sustentabilidade e
concentrar-se nelas. Já não basta prevenir as crises, é necessário conceber
estratégias para as aproveitar. Para tal, é essencial dispor de sistemas de
avaliação de riscos transversais a toda a organização. As empresas devem deixar
de considerar as soft skills como competências secundárias. No contexto atual,
o pensamento crítico, a negociação e a inteligência emocional são ferramentas
essenciais para a tomada de decisões estratégicas. Em vez de esperar que as
mudanças ocorram, as empresas devem conceber múltiplos cenários e preparar-se
para cada um deles.
Não se trata de prever o futuro, mas de estar
preparado para qualquer resultado possível. A empresa deve funcionar como um
sistema de escuta ativa. As expectativas dos clientes, dos trabalhadores e dos
investidores devem traduzir-se em estratégias concretas e ágeis. As empresas
que construíram a sua identidade em torno de determinados valores devem assumir
que existem expectativas em relação a elas. Alterar a sua posição em função do
contexto político ou social pode levar a uma perda de confiança difícil de
recuperar. Num mundo em que a credibilidade e a confiança são ativos
fundamentais, a antifragilidade não é apenas uma vantagem competitiva, mas uma
necessidade para a sobrevivência das empresas.
As empresas mais ágeis estão se afastando das
estruturas rígidas e adotando modelos de liderança baseados na colaboração e na
adaptabilidade. Para os gestores, o desafio não é pequeno: transmitir esta
mentalidade a toda a organização implica uma profunda mudança cultural. A chave
é alargar os sistemas de escuta, analisar as tendências e utilizar ferramentas
como a inteligência artificial para tomar decisões informadas. O futuro
pertence a aqueles que sabem ler a mudança antes de ela acontecer. As empresas
que adotarem a antifragilidade não só resistiram ao ataque do ambiente, como
encontraram na incerteza o seu melhor aliado para o crescimento. Aquelas que
continuam a esperar pela chegada da crise para reagir serão simplesmente
deixadas para trás.
Iván Pino - Sócio e Diretor Geral de Assuntos Corporativos Latam da LLYC
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