Alex Ruane foi o protagonista
da 7ª Conferência FAPESP 2024, que abordou o tema “Mudanças Climáticas e
Segurança Alimentar”Conferência foi apresentada na FAPESP na sexta-feira
foto: Phelipe Janning/Agência FAPESP
As tendências atuais são
incompatíveis com um mundo sustentável e equitativo; os sistemas alimentares
continuam vulneráveis aos riscos climáticos; e as projeções de mudanças
climáticas indicam desafios crescentes: estes foram os principais alertas
feitos por Alex Ruane na 7ª Conferência FAPESP
2024, cujo tema foi “Mudanças Climáticas e Segurança
Alimentar”.
Ruane é pesquisador da Nasa, a
agência espacial norte-americana, onde codirige o Grupo de Impactos Climáticos,
e cientista associado do Centro de Pesquisa de Sistemas Climáticos da
Universidade Columbia, em Nova York. Foi também o autor principal do capítulo
12 do 6º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC AR6), da Organização das Nações Unidas (ONU), com informações sobre
riscos climáticos.
Reiterando o que havia dito
em entrevista concedida
à Agência FAPESP, o pesquisador enfatizou a necessidade de
proatividade no processo de mitigação e adaptação, para o qual as escolhas
feitas agora e nos próximos dez anos são cruciais. E disse que “os modelos
agrícolas podem nos ajudar a começar a habilitar e implementar ações de
adaptação e mitigação que sejam viáveis, equitativas e justas”.
Neste contexto, afirmou, “o
mundo está pedindo ao setor agrícola que assuma um desafio quádruplo: aumentar
a produção de forma sustentável para fornecer alimentos saudáveis para
populações em crescimento e desenvolvimento; adaptar-se às mudanças climáticas
e aos extremos climáticos em andamento; mitigar as emissões de terras
agrícolas; manter incentivos financeiros para a agricultura”.
O cientista apresentou dados,
mostrando que os dez anos compreendidos entre 2011 e 2020 foram, na média,
1,1°C mais quentes do que o período entre 1850 e 1900. Se a tendência atual não
for modificada, o mundo poderá ultrapassar na próxima década o limiar de 1,5°C,
a partir do qual lidar com a crise climática se tornará excepcionalmente mais
difícil. Cinco cenários se apresentam, então, indo do mais favorável, caso o
aquecimento fique abaixo de 1,5°C, ao calamitoso, caso a temperatura média
global aumente 4°C ou mais.
No pior cenário, a frequência
de eventos extremos de calor poderá aumentar até 40 vezes, com incrementos de
temperatura superiores a 5°C, e chuvas extremas tenderão a ocorrer 2,7 vezes
mais, com acréscimo de precipitação de até mais de 30%.
O pesquisador destacou que não
é apenas o aumento médio da temperatura global que afeta a produção agrícola e
a segurança alimentar. Mas também os eventos extremos suscitados pela crise
climática, que exercem um impacto direto sobre as plantações.
Ruane reiterou o papel vital
dos modelos climáticos e agrícolas no planejamento para o futuro: “Esses
modelos permitem que os governos e outras partes interessadas desenvolvam
estratégias de mitigação”. E discorreu sobre o projeto Agricultural Model
Intercomparison and Improvement Project (AgMIP), que ele
coordena e cuja missão é melhorar significativamente os modelos agrícolas e as
capacidades científicas e tecnológicas, para avaliar os impactos da
variabilidade e mudança climática e outras forças motrizes na agricultura,
segurança alimentar e pobreza em escalas locais e globais.
Um dado importante, que o
pesquisador já havia assinalado na entrevista, é o fato de que as adaptações
necessárias para enfrentar as mudanças climáticas exigem investimentos de longo
prazo. Por isso, os formuladores de políticas e os investidores precisam
começar a planejar agora para garantir que as infraestruturas e tecnologias
necessárias estejam disponíveis no futuro.
A palestra também abordou a
questão da justiça social no contexto das mudanças climáticas. Ruane argumentou
que as soluções para os desafios climáticos e de segurança alimentar “devem ser
justas e equitativas, garantindo que as populações mais vulneráveis, que são as
mais afetadas pelas mudanças climáticas, recebam o apoio necessário”. E
destacou que a justiça social não é apenas uma questão ética, mas também uma
necessidade prática para garantir a sustentabilidade das soluções
implementadas.
O palestrante concluiu
reafirmando a urgência de agir. Destacou que as escolhas que fizermos nas
próximas décadas serão cruciais para determinar o futuro do nosso planeta e das
gerações vindouras. E encorajou os participantes a pensar em soluções
inovadoras e a trabalhar juntos para enfrentar os desafios impostos pelas
mudanças climáticas e pela insegurança alimentar, sublinhando a necessidade de
colaboração entre governos, setor privado, sociedade civil e comunidade
científica.
A conferência contou com a
presença de Marcio de Castro Silva Filho, diretor
científico da FAPESP, e Carlos Alfredo Joly,
membro da coordenação do Ciclo de Conferências FAPESP 2024. A moderação foi
de Jurandir Zullo Junior,
do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da
Universidade Estadual de Campinas (Cepagri-Unicamp).
Na abertura do evento, Silva
Filho informou que, apesar de o Brasil ser o terceiro produtor mundial de
alimentos, apenas atrás dos Estados Unidos e da China, 20% da população do
Estado de São Paulo, o mais rico do país, apresentam algum nível de insegurança
alimentar. E que 3% padecem de insegurança grave. A boa notícia trazida pelo
diretor científico foi que a FAPESP está elaborando um novo programa, focado em
segurança alimentar, que deverá se desenvolver em sinergia com outras
iniciativas existentes.
A 7ª Conferência FAPESP 2024 –
“Mudanças Climáticas e Segurança Alimentar” pode ser assistida na íntegra
em: www.youtube.com/live/gsnWaibumWo.
José Tadeu Arantes
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/setor-agricola-e-estrategico-nas-acoes-de-mitigacao-das-mudancas-climaticas-diz-cientista-da-nasa/52648
Nenhum comentário:
Postar um comentário