Nos países de média e baixa renda, onde vive 85%
do público infantojuvenil diagnosticado com câncer, estima-se que apenas 20%
irão sobreviver
O câncer infantojuvenil é a primeira causa de morte por doença no
Brasil na faixa etária de zero a 19 anos. Para o triênio de 2023 a 2025, o
Instituto Nacional do Câncer (INCA) estimou cerca de 8 mil novos casos por ano.
Conhecido como Setembro Dourado, este mês busca conscientizar a população sobre
a doença.
Apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento, os índices de
sobrevida não apresentaram melhorias significativas ao longo dos anos, girando
em torno de 65% no Brasil, com discrepâncias entre as regiões. As taxas são
mais elevadas no Sul e Sudeste e menores no Centro-Oeste, Nordeste e Norte.
“Quando avaliamos o cenário global, a diferença na sobrevida é
ainda mais significativa. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 80% das
crianças e adolescentes com câncer serão curadas em países desenvolvidos”,
afirma a Dra. Maristella Bergamo, especialista da Sociedade Brasileira de
Oncologia Pediátrica (SOBOPE).
Nos países de média e baixa renda, onde vive 85% do público
infantojuvenil diagnosticado com câncer, estima-se que apenas 20% irão
sobreviver. “Diversos fatores interferem tanto nessa discrepância quanto nas
taxas de sobrevida, sendo talvez o mais importante o atraso no diagnóstico”,
afirma a médica, que coordena o BR AYA - Comitê de Adolescentes e Adultos
Jovens da SOBOPE.
Diagnóstico tardio e o impacto no tratamento
s principais sinais e sintomas relacionados ao câncer
infantojuvenil são comuns a outras doenças na mesma faixa etária. A febre e
cansaço podem acometer pacientes com leucemia; gânglios, pessoas com linfoma;
dores de cabeça, aqueles com tumores cerebrais, entre outros exemplos que
ilustram como o quadro pode confundir família e médico, levando à demora no
diagnóstico e início do tratamento.
Diversas pesquisas buscam elucidar as causas e efeitos do
diagnóstico tardio. Recente revisão sistemática de 95 estudos realizados em
países de baixa e média renda apontou alguns dos principais fatores que
influenciam neste aspecto: crença na medicina tradicional, renda familiar,
falta de transporte e distância dos centros especializados.
Dados do INCA publicados na cartilha “Diagnóstico Precoce do
Câncer na Criança e Adolescente” mostram que o tipo e a localização do tumor,
assim como a idade do paciente, a distância do centro de referência e os
entraves no sistema de encaminhamento contribuem para o atraso no diagnóstico.
“Isso pode acarretar em necessidade de tratamento mais agressivo, maior
possibilidade de sequelas e menores taxas de cura”, explica Dra. Maristella.
Atenção às queixas e demais fatores
Para os representantes da SOBOPE, como os sinais e sintomas podem
ser confundidos com os de outras doenças pediátricas, é imperativo que o médico
esteja atento e vigilante para um diagnóstico precoce e encaminhamento o mais
rapidamente possível ao centro de referência, levando em conta tanto a queixa
quanto outros fatores, como a história familiar de câncer.
“Não se trata de um paciente com câncer sozinho. A oncologia pediátrica é feita com muitas mãos, com muitos profissionais de diversas áreas atuando para diminuir a desigualdade e aumentar a sobrevida de todas as crianças e adolescentes com câncer ao redor do mundo. Ganhar tempo no diagnóstico é o primeiro passo”, conclui a especialista.
Dra. Maristella Bergamo - oncologista pediátrica, especialista da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica
SOBOPE
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