A Doença de Huntington, uma condição genética causada por mutação no cromossomo 4 que atinge entre 13 mil e 19 mil brasileiros, afeta as capacidades motoras e cognitivas. A partir de avanços significativos em saúde reprodutiva - com técnicas de Fertilização In Vitro (FIV) e Teste Genético Pré-Implantacional para Doenças Monogênicas (PGT-M) -famílias com risco aumentado para apresentar essa doença têm novas opções para tomar decisões informadas sobre sua saúde e a dos futuros descendentes, incluindo o aumento das chances de nascimento de bebês saudáveis
A Doença de Huntington é uma condição neurodegenerativa hereditária
causada por uma mutação no gene HTT no cromossomo 4. Ela afeta aproximadamente
3 a 10 em cada 100 mil pessoas em todo o mundo. No Brasil, estima-se que entre
13 e 19 mil pessoas tenham a doença. Caracteriza-se pela degeneração
progressiva das células nervosas no cérebro, levando a sintomas motores,
cognitivos e psiquiátricos graves. O início dos sintomas é mais comum entre os
30 e 50 anos, com possibilidade rara de manifestação na fase juvenil, inferior
aos 20 anos. A expectativa de vida média é de 15 a 20 anos após o diagnóstico.
Avanços em terapias genéticas e intervenções para
alívio de sintomas, assim como para o controle da progressão da doença e
redução do risco de passar a alteração para a próxima geração, propiciam um novo
cenário para os pacientes com Doença de Huntington. Destaque para os estudos
com terapias baseadas em RNA e moduladores da proteína huntingtina e o
desenvolvimento de métodos de prevenção para as futuras gerações das famílias
afetadas através do teste genético pré-implantacional para doenças monogênicas
(PGT-M), que está proporcionando esperança, rompendo com a cadeia de
hereditariedade permitindo a priorização de embriões saudáveis, livres da
mutação responsável pela doença de Huntington, permitindo a priorização de
embriões saudáveis, livres da mutação responsável pela doença de Huntington
Quando o assunto é PGT-M para doenças de
manifestação tardia, como a Doença de Huntington, é possível que o paciente não
queira saber seu status de afetado, pois essa informação pode ter sérias
consequências psicológicas. Para essas situações os protocolos específicos de
Não Revelação e de Exclusão são recomendados, pois permitem que os pacientes e
suas famílias previnam a transmissão da mutação genética sem que seja revelado
o status de afetado dos progenitores. O suporte contínuo de profissionais de
saúde, incluindo o aconselhamento genético, desempenha um papel crucial ao
longo desse processo. “A Doença de Huntington representa um desafio
significativo para muitas famílias. É fundamental oferecer soluções
personalizadas, como o PGT-M com os seus protocolos de Não Revelação e Exclusão
que são projetados para permitir que os pais façam escolhas informadas,
respeitando suas preferências e necessidades médicas, éticas e emocionais”,
afirma a bióloga Susana Joya, aconselhadora genética e assessoria científica da
Igenomix Brasil, do Grupo Vitrolife.
Não revelação no PGT-M - O Non Disclosing (Não Revelação) é um protocolo em que se
realiza a análise da mutação no paciente, mas sem revelar informações sobre a
condição de afetada(o) do progenitor. Para manter o sigilo sobre o statusde
acometido ou saudável, o paciente, ao passar pelo tratamento de FIV (necessário
para ter acesso à análise do embrião), fica sem parte das informações do
tratamento, que não podem ser reveladas, pois tais informações podem permitir
que conclua que é afetado. “Pode acontecer, por exemplo, que a paciente seja
jovem, com muitos embriões cromossomicamente saudáveis, mas que receba um laudo
indicando que nenhum embrião é recomendado para transferência ao útero, a
informação pode levá-la a concluir que todos os embriõestinham a mutação para
Doença de Huntington, o que revelará que é portadora da mutação”, exemplifica
Susana Joya.
"Exclusão" no PGT-M
- No protocolo de Exclusion, a análise da mutação não é
realizada, mas sim uma análise indireta com base no haplótipo de risco, ou
seja, se faz a exclusão da fita de DNA do cromossomo 4 (cromossomo onde fica o
gene HTT) que venha da parte afetada da família que está sob risco. Nessa
situação, todo embrião que herde a informação desse cromossomo da parte da
família que tenha casos da doença não será transferido ao útero materno. Ou
seja, sempre haverá 50% dos embriões caracterizados “sob risco” que não serão
transferidos.
Tratamento para prevenir uma
doença genética antes da gravidez - O primeiro
passo para prevenir uma doença genética, explica a bióloga Susana Joya, é
confirmar o risco reprodutivo aumentado do casal, observando seu histórico
familiar ou interpretando resultados de testes genéticos do casal e seus
familiares. Essa análise pode ser realizada mesmo que a doença não tenha se
manifestado na pessoa que busca a concepção. “Famílias com casos de
enfermidades de manifestação tardia, como a Doença de Huntington, muitas vezes
querem prevenir a passagem da condição, porém temem descobrir neste processo
que possuem a doença que ainda não se manifestou”, observa.
Para casos de enfermidades autossômicas dominantes,
como é o caso da doença de Huntington e outras doenças com o risco de
transmissão de 50% a cada gestação, é necessário realizar uma investigação
junto a médico geneticista do gene ou estudo de genes associados a condição e a
partir desse diagnóstico iniciar o protocolo do PGT-M.
A partir do diagnóstico genético da doença da
família, o segundo passo é confeccionar uma sonda específica para rastrear a
mutação genética no embrião. Este processo é realizado antes do casal iniciar a
fertilização in vitro (FIV), que permitirá o acesso aos embriões, que serão analisados
geneticamente por meio de sonda. “A FIV é fundamental para que a fecundação do
óvulo possa ser realizada no laboratório da clínica de reprodução assistida e
algumas células sejam retiradas do embrião. As células retiradas são enviadas
para análise genética por meio do PGT-M”, acrescenta Joya.
Em todo o processo, que vai desde o primeiro passo
até o recebimento do laudo com o resultado da análise genética do embrião,
também é fundamental contar com aconselhamento genético, no qual se orienta a
família sobre os benefícios e limitações das técnicas de análise, fator que
amplia o entendimento sobre os resultados dos exames.
Sintomas da Doença de
Huntington - Por ser uma doença progressiva e degenerativa, os
sintomas na Doença de Huntington, aparecem de forma lenta e vão ficando mais
graves com o passar do tempo. Os primeiros sinais são percebidos entre os 35 e
44 anos.
- Nos estágios iniciais é possível notar movimentos
involuntários rápidos na face, no tronco e nos membros. Porém, eles podem ser
confundidos com movimentos voluntários. Com isso, os movimentos anormais podem
também ser pouco perceptíveis. Com o tempo, no entanto, esses movimentos
tornam-se mais evidentes.
- Os músculos podem contrair-se brevemente e de
forma rápida, resultando em movimentos repentinos nos braços ou em outras
partes do corpo, às vezes de maneira repetitiva e sequencial.
- As pessoas podem apresentar um andar
excessivamente elegante ou alegre, como se fossem fantoches. Podem também fazer
caretas, flexionar os membros e piscar mais frequentemente. À medida que a
doença avança, os movimentos tornam-se descoordenados e lentos. Eventualmente,
o corpo todo é afetado, o que dificulta significativamente atividades como
caminhar, sentar-se, comer, falar, engolir e vestir-se.
- Alterações mentais frequentemente precedem ou
coincidem com o desenvolvimento de movimentos anormais. Inicialmente, essas
alterações são discretas. Com o tempo, as pessoas podem tornar-se irritáveis,
excitáveis e agitadas, perdendo o interesse por atividades cotidianas. Podem
ter dificuldade em controlar seus impulsos, experimentando sentimentos de
desânimo ou comportamento promíscuo.
- À medida que a doença progride, a pessoa pode
apresentar comportamento irresponsável e vagar sem um propósito definido. Ao
longo dos anos, há uma perda gradual da memória e da capacidade de pensar
racionalmente. Podem manifestar depressão severa e tentativas de suicídio.
Também é possível o desenvolvimento de ansiedade ou de transtorno
obsessivo-compulsivo.
- Na fase avançada da doença, a demência é severa e
muitas vezes as pessoas ficam restritas à cama. Elas requerem cuidados em tempo
integral ou internação em um centro de cuidados médicos. A expectativa de vida
média é de 15 a 20 anos após o diagnóstico.
Para mais informações referente a Doença de
Huntington assista o vídeo.
Referências bibliográficas
1 – Mayo Clinic – Disponível em https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/huntingtons-disease/symptoms-causes/syc-20356117
2 – Shi D, Xu J, Niu W, Liu Y, Shi H, Yao G, Shi S,
Li G, Song W, Jin H, Sun Y. Live births following preimplantation genetic
testing for dynamic mutation diseases by karyomapping: a report of three cases.
J Assist Reprod Genet. 2020 Mar;37(3):539-548. doi: 10.1007/s10815-020-01718-5.
Epub 2020 Mar 2.
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