“Se
a causa não for tratada, a cirurgia pode prejudicar”
Ainda não
tem cura, mas há tratamentos que podem resgatar a qualidade de vida
O lipedema (lipo = gordura + edema = inchaço)
afeta mais de 10% das mulheres e é caracterizado pelo acúmulo anormal de
gordura nas pernas e, em alguns casos, nos braços, causando dor, inchaço,
dificuldade de locomoção e autoestima baixa.
O cirurgião plástico Dr. Fernando
Amato, que integra uma equipe especializada no assunto, responde abaixo às
principais dúvidas sobre lipedema e alerta: “A cirurgia não pode ser a primeira
e única opção”.
Quais os sintomas
do lipedema?
Dr. Fernando Amato - Os principais sintomas do lipedema são o aumento do
volume das pernas, coxas e/ou braços desproporcionalmente ao restante do
corpo; geralmente o acúmulo
de gordura ocorrer dos dois lados;
queixa principal de alteração da sensibilidade, podendo relatar dor, dor ao toque,
queimação e peso; inchaço; sensação de peso e cansaço nas pernas; dificuldade
de locomoção; autoestima baixa e impacto negativo na qualidade de vida.
Existe algum fator
responsável por causa o lipedema?
Dr. Fernando Amato - A causa é multifatorial, o que dificulta o diagnóstico e tratamento, mas envolve desde fatores genéticos e familiares, como fatores hormonais, uso de medicações, hormônios, doenças crônicas, alterações venosas e linfática.
Porém, existe uma forte relação do
surgimento do lipedema com histórico familiar, puberdade, gravidez e menopausa,
além da obesidade. Outro ponto: a maior parte dos pacientes com lipedema é
composta pelo sexo feminino, sendo extremamente raros no
sexo masculino.
O lipedema pode se
apresentar em níveis diferentes?
Dr. Fernando Amato - Sim, classificamos em estágios, de acordo com a gravidade
da doença:
·
Estágio 1: Leve aumento do volume, sem alterações na textura da
pele;
·
Estágio 2: Aumento moderado do volume, com textura da pele
irregular;
·
Estágio 3: Aumento significativo do volume, endurecimento e
espessamento do subcutâneo com nódulos grandes e coxins de gordura;
·
Estágio 4: lipedema com comprometimento linfático, linfedema. Conhecido como
lipolinfedema.
Como é
feito o diagnóstico?
Dr.
Fernando Amato -
O diagnóstico é
feito por um médico especialista, considerando-se principalmente os sintomas, o
histórico do paciente e a realização de exames físicos. Os complementares, como
ultrassom, ressonância magnética, linfografia, densitometria e bioimpedância,
podem auxiliar no diagnóstico ou excluir outras patologistas com apresentações
semelhantes.
Lipedema
tem tratamento?
Dr.
Fernando Amato – Não existe uma cura, mas é uma
condição em que é possível e necessário resgatar a qualidade de vida da
paciente. E, ao contrário do que muitos pensam, a cirurgia não é a primeira
opção e deve ser vista como uma alternativa, quando o tratamento clínico não
encontra resultados, ou por questões estéticas.
O tratamento do
lipedema é individualizado e depende do estágio da doença. As opções de
tratamento podem incluir medicamentos, suplementos e vitaminas, dieta, terapias
conservadoras e entre elas cito a fisioterapia, drenagem linfática, uso de meias
compressivas e controle do peso; e como a última opção, quando nenhuma medida
clínica apresentou mudanças, ou apresentou mudanças parciais, preferencialmente
com estabilização dos sintomas, pode ser recomendado a realizado da
lipoaspiração, técnica cirúrgica para remover o excesso de gordura
"doente".
Por
que a cirurgia não deve ser a primeira linha de tratamento?
Dr. Fernando Amato - Porque antes de partir para uma cirurgia, é preciso identificar a causa da doença e tratá-la. Se a causa não for identificada e tratada, a cirurgia pode trazer melhora temporária, mas a longo prazo pode ter retorno dos sintomas.
O lipedema pode
ser visto como um ICEBERG, em que na superfície vemos apenas os sintomas e
abaixo todas as alterações que podem causar a condição. Se retirarmos apenas a
gordura e não tratarmos a causa do lipedema, estamos apenas tirando a gordura
inflamada, o que pode trazer uma melhora dos sintomas temporariamente. A longo
prazo, se os fatores que contribuíram para o desenvolvimento da doença
continuarem existindo, a paciente poderá acumular gordura em outras partes do
corpo, e poderá desenvolver o lipedema em outras partes que não eram
sintomáticas.
Portanto, a
orientação é procurar um especialista, identificar por meio de uma boa e
detalhada investigação clínica o que causa o lipedema, colocar em prática os
tratamentos citados acima e fazer a modificação de estilo de vida, que é
fundamental no tratamento: alimentação equilibrada e de qualidade nutricional,
atividade física frequente, diminuir ou não beber álcool e não fumar já vão
ajudar expressivamente no tratamento.
A cirurgia, como a lipoaspiração, não pode ser a primeira opção no tratamento e deve ser considerada quando as tentativas citadas no texto não deram o resultado esperado. A lipoaspiração pode ser considerada a partir daí para remover o excesso de tecido adiposo, mas deve ser avaliada caso a caso por um especialista. Mas ressalto: sem mudança no estilo de vida a cirurgia pode ser frustrante.
Dr. Fernando C. M. Amato – Graduação, Cirurgia Geral, Cirurgia Plástica e Mestrado pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP). Membro Titular pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, membro da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) e da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos (ASPS).
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