Trabalho publicado na The Lancet e conduzido pela MEDSIR demonstrou eficácia de tratamento sem a necessidade de quimioterapia
Brasil produz apenas 2% de pesquisas clínicas no
mundo, mas diversidade étnica e número de oncologistas pode ajudar alavancar no
setor
Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) estimam que de 2023 a
2025, o Brasil terá 73.610 casos de câncer de mama, o que representa uma taxa
alarmante de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres. De acordo com o relatório do
instituto, a maioria deles, quando tratados adequadamente e com diagnóstico
precoce, apresenta bom prognóstico. Inovações no campo de tratamento do câncer
de mama têm revolucionado as perspectivas de pacientes, com destaque para a
terapia alvo, que direciona tratamentos específicos para células cancerígenas,
e avanços em pesquisas clínicas, como o estudo PHERGain, conduzido pela MEDSIR e publicado na revista científica
britânica The Lancet.
Esse estudo clínico envolveu pesquisadores de 45 hospitais em sete
países europeus e contou com a participação de 356 pacientes diagnosticadas com
câncer de mama HER2-positivo em estágio inicial. Este tipo específico de câncer
é caracterizado pela superexpressão do receptor HER2, que pode desencadear o
crescimento descontrolado das células cancerosas. Os resultados do estudo
clínico demonstraram a viabilidade, segurança e eficácia de um tratamento
específico direcionado ao receptor HER2, que bloqueia os sinais de crescimento
celular sem a necessidade de quimioterapia. Essa abordagem mostrou taxas
elevadas de remissão do tumor e baixa incidência de recorrência ao longo de
três anos.
Para Antonio Llombart-Cussac, cofundador e líder científico da MEDSIR, o câncer de mama é um desafio significativo para a saúde pública em todo o mundo, demandando uma compreensão abrangente de seus fatores de risco e a busca contínua por tratamentos mais eficazes. "As descobertas das pesquisas clínicas sobre o câncer de mama estão impulsionando uma mudança significativa na abordagem terapêutica, fornecendo insights cruciais para tratamentos menos invasivos, que promovem melhores resultados e qualidade de vida para as pacientes", explica Llombart-Cussac.
Diversidade étnica brasileira e estudos clínicos nacionais
A diversidade étnica no Brasil tem um papel relevante para
pesquisas clínicas oncológicas, pois as brasileiras apresentam predisposições
genéticas e fatores de risco únicos para o câncer de mama, influenciando sua
incidência, progressão e resposta a tratamentos. Outro ponto positivo do país é
o número de médicos oncologistas, são 4.730, segundo o Estudo de Demografia
Médica de 2023. Antonio Llombart-Cussac avalia que essa combinação de fatores é
ideal para o avanço no campo da pesquisa clínica. “Ao planejar e conduzir estudos
clínicos, a diversidade étnica é essencial para garantir que os resultados
sejam representativos e aplicáveis a toda uma população. Além dessa
diversidade, o Brasil conta com uma excelente rede de profissionais”, argumenta
ele, que recentemente conduziu a capacitação de 30 oncologistas para o
desenvolvimento de ensaios clínicos sobre o câncer de mama. “Queremos estimular
a criação de uma rede global de cientistas comprometidos com a pesquisa
oncológica a partir de uma abordagem disruptiva e inovadora para melhorar a
vida dos pacientes em todo o mundo”, completa.
A oncologia lidera o foco das pesquisas clínicas no mundo,
representando 24% do total. A China e os Estados Unidos figuram no topo do
ranking dos países que mais investem em pesquisa clínicas. Do total de
trabalhos já realizados, os dois foram responsáveis por 30,5% e 30,4%,
respectivamente. O Brasil encontra-se na 19ª posição com 2,3%.1
Câncer de mama pelo Brasil
O câncer de mama feminino é prevalente em todas as regiões do Brasil.
Segundo o relatório do INCA, a Região Sudeste pode chegar a registrar 39.330
novos casos desse tipo de câncer entre 2023 e 2025, o que representa uma taxa
de incidência de 84,46 por 100 mil mulheres. A região é a mais populosa do
país, com grandes áreas urbanas e uma maior densidade demográfica. Com uma
população mais concentrada, há uma maior exposição a fatores de risco
ambientais e de estilo de vida que podem contribuir para o desenvolvimento do
câncer de mama.
A Região Sul ocupa o segundo lugar em estimativa de número de
casos, com uma taxa de incidência de 71,44 por 100 mil mulheres. 73,9% da
população dessa região é de etnia branca, grupo com maior risco para
desenvolver câncer de mama, o que pode explicar a alta incidência.
A Região Nordeste apresenta uma taxa de incidência de 52,20 casos
por 100 mil mulheres, que pode ser atribuída a uma combinação complexa de
fatores socioeconômicos, estilo de vida, acesso limitado a cuidados de saúde e
possíveis influências ambientais.2
Referências
1 Guia Interfarma 2022. Acessado em abril/2024. Acesso em link.
2 Estimativa 2023. Instituto Nacional do Câncer. Acessado em abril/2024. Link.

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