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quinta-feira, 9 de maio de 2024

Automedicação dificulta o diagnóstico de doenças mais graves, revela especialista

Freepik 
Pesquisa realizada pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) mostra que 9 em cada 10 brasileiros se automedicam

 

Tomar um analgésico por conta própria quando se tem uma dor de cabeça, sintomas de resfriados ou até mesmo aquela pontada nas costas já virou um hábito do brasileiro, alerta o Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ). Segundo uma pesquisa realizada pela instituição em abril deste ano, 9 em cada 10 brasileiros se automedicam, especialmente mulheres, pessoas economicamente ativas e com um maior nível de instrução (ambos gêneros).

Por mais que tomar algum remédio sem prescrição médica ainda seja comum, o Dr. Marcelo Bechara, clínico geral e cirurgião, indica que o uso recorrente pode ser um problema. “A automedicação diária pode camuflar um sintoma mais persistente, alguma condição mais grave. Então, só aliviar a dor é tratar a consequência e não a causa”, aponta.

Ainda, segundo o estudo, com a facilidade de acesso à informação, 68% das pessoas conseguem obter orientações sobre doenças e seus tratamentos mais rapidamente e, inclusive, conseguir remédios que obrigatoriamente necessitam de receita.

E o Dr. Bechara confirma esse dado. Para ele, a internet é um dos maiores concorrentes em diagnósticos médicos. “Os pacientes pesquisam em buscadores com frequência. Agora, com a inteligência artificial, complica ainda mais a situação. Muitas vezes o paciente chega com diagnóstico, feito por ele mesmo e está totalmente errado. Esses programas não sabem interpretar um exame associado ao quadro clínico, por exemplo”, comenta o especialista.

Além das dores rotineiras, os brasileiros também recorrem à prática para transtornos como ansiedade, insônia, estresse e perda de peso.  Para essas questões, medicamentos mais fortes são utilizados, podendo causar danos permanentes, como a dependência psicológica e o vício químico.

“Para as dores intensas, o uso de opioides pode viciar, se propagando pelo cérebro em uma ação semelhante às substâncias das bebidas e cigarros, mas com capacidade de vício muito maior. Isso acontece porque, ingeridos por um período prolongado, os remédios podem causar a farmacodependência”, adverte Dr. Bechara.

O especialista enfatiza também que, para o controle, é importante saber qual remédio é indicado para determinada condição e tomar na dose certa pelo tempo necessário, principalmente para ajudar na promoção da saúde e até a economizar nas finanças.


Histórico

O estudo do ICTQ não dá um panorama do porquê isso acontece com tanta frequência, mas Bechara esclarece que existe um contexto por trás desta situação, como a forma burocrática em que acontecem as consultas preventivas e a consciência dos pacientes sobre suas enfermidades.

“Dormir mal, sedentarismo, obesidade são fatores que contam muito. As pessoas estão inflamadas, sentem-se mal e querem resolver isso de forma mais fácil. Fora que ninguém quer pegar fila nos Pronto Socorros ou nas clínicas, mas querem ir direto para o tratamento. Não tem paciência para consulta. No entanto, tem que mudar o modo de pensar, que é o mais difícil”, revela Marcelo.

O Dr. Bechara deixa claro também que a falta de rigor na fiscalização é um desafio. “Na teoria, tudo tinha que ser com receita, mas sabemos que as farmácias vendem sem controle. Sem falar no mercado clandestino, onde se encontram desde remédios para tratamento de déficit de atenção, como o venvanse até hormônio anabolizante”, finaliza.

 

Marcelo Bechara - médico há mais de 16 anos. Formado em Medicina pela Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES), seguiu na área de Medicina Clínica e Cirurgia Geral, tendo atuado como Subsecretário de Saúde na Prefeitura de Praia Grande e na linha de frente da Covid-19 durante a pandemia, também como regulador de vaga e chefe do SAMU, na rede pública de saúde. Atualmente, Bechara atua com Medicina Integrativa, na clínica que recebe seu nome, inaugurada em 2023 em Praia Grande, São Paulo.


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