Pesquisa realizada
pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) mostra que 9 em cada
10 brasileiros se automedicamFreepik
Tomar um analgésico por conta própria quando se tem
uma dor de cabeça, sintomas de resfriados ou até mesmo aquela pontada nas
costas já virou um hábito do brasileiro, alerta o Instituto
de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ). Segundo uma pesquisa
realizada pela instituição em abril deste ano, 9 em cada 10 brasileiros
se automedicam, especialmente mulheres,
pessoas economicamente ativas e com um
maior nível de instrução (ambos gêneros).
Por mais que tomar algum remédio sem prescrição
médica ainda seja comum, o Dr. Marcelo Bechara, clínico
geral e cirurgião, indica que o uso recorrente pode ser um
problema. “A automedicação diária pode camuflar um sintoma mais persistente,
alguma condição mais grave. Então, só aliviar a dor é tratar a consequência e
não a causa”, aponta.
Ainda, segundo o estudo, com a facilidade de acesso
à informação, 68% das pessoas conseguem obter orientações sobre
doenças e seus tratamentos mais rapidamente e, inclusive, conseguir remédios
que obrigatoriamente necessitam de receita.
E o Dr. Bechara confirma esse dado.
Para ele, a internet é um dos maiores concorrentes em diagnósticos médicos. “Os
pacientes pesquisam em buscadores com frequência. Agora, com a inteligência
artificial, complica ainda mais a situação. Muitas vezes o paciente chega com
diagnóstico, feito por ele mesmo e está totalmente errado. Esses programas não
sabem interpretar um exame associado ao quadro clínico, por exemplo”, comenta o
especialista.
Além das dores rotineiras, os brasileiros também
recorrem à prática para transtornos como ansiedade, insônia,
estresse e perda de peso. Para essas
questões, medicamentos mais fortes são utilizados, podendo causar danos
permanentes, como a dependência psicológica e o vício
químico.
“Para as dores intensas, o uso de opioides pode
viciar, se propagando pelo cérebro em uma ação semelhante às substâncias das
bebidas e cigarros, mas com capacidade de vício muito maior. Isso acontece
porque, ingeridos por um período prolongado, os remédios podem causar a
farmacodependência”, adverte Dr. Bechara.
O especialista enfatiza também que, para o
controle, é importante saber qual remédio é indicado para determinada condição
e tomar na dose certa pelo tempo necessário, principalmente para ajudar na
promoção da saúde e até a economizar nas finanças.
Histórico
O estudo do ICTQ não dá um panorama do porquê
isso acontece com tanta frequência, mas Bechara esclarece que existe um
contexto por trás desta situação, como a forma burocrática em que acontecem as
consultas preventivas e a consciência dos pacientes sobre suas enfermidades.
“Dormir mal, sedentarismo, obesidade são fatores
que contam muito. As pessoas estão inflamadas, sentem-se mal e querem resolver
isso de forma mais fácil. Fora que ninguém quer pegar fila nos Pronto Socorros
ou nas clínicas, mas querem ir direto para o tratamento. Não tem paciência para
consulta. No entanto, tem que mudar o modo de pensar, que é o mais difícil”,
revela Marcelo.
O Dr. Bechara deixa claro também que
a falta de rigor na fiscalização é um desafio. “Na teoria, tudo tinha que ser
com receita, mas sabemos que as farmácias vendem sem controle. Sem falar no
mercado clandestino, onde se encontram desde remédios para tratamento de
déficit de atenção, como o venvanse até hormônio anabolizante”,
finaliza.
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