Dados indicam que esse tipo de tumor já é a principal causa de morte entre homens diagnosticados com câncer antes dos 50 anos
Diagnósticos de câncer colorretal em pessoas abaixo dos 60 anos estão cada vez mais comuns em um cenário que, segundo especialistas, é preocupante. É o que aponta novo estudo publicado neste início de ano na “CA: A Cancer Journal of Clinicians”. A pesquisa, realizada pela American Cancer Society (ACS), analisou a incidência da doença, assim como a mortalidade, em todas as faixas etárias de 1995 até 2020 na população dos Estados Unidos. A pesquisa mostrou que a taxa de mortalidade geral vêm caindo, mas que os diagnósticos em pessoas jovens sobem há décadas.
Os dados apontam que 13% dos pacientes diagnosticados com câncer colorretal têm menos de 50 anos, um percentual que cresceu 9% em comparação a períodos anteriores. Na pesquisa americana, para os jovens adultos, esse tipo de tumor tornou-se ainda a principal causa de morte nos homens e a segunda principal causa nas mulheres, atrás apenas do câncer de mama. No final da década de 1990, ocupava o quarto lugar entre homens e mulheres com menos de 50 anos. O aumento contínuo da incidência é "muito preocupante", afirma Renata D’Alpino, co-líder nacional da especialidade de tumores gastrointestinais e neuroendócrinos da Oncoclínicas.
“Embora a gente saiba que o câncer é um doença de causa muitas
vezes multifatorial, precisamos olhar o que mudou nessas últimas décadas em
termos de fatores ambientais. E a epidemia de obesidade é provavelmente um
fator que contribui para o aumento das taxas. Mas não é tudo e muitas
pesquisas, estudos e trabalhos estão sendo feitos para tentar descobrir o que
exatamente está causando um risco aumentado de câncer colorretal. Ainda não
temos todas as respostas”, explica a oncologista.
Para a médica, os novos dados reforçam a importância da conscientização sobre a manutenção do acompanhamento médico contínuo para o diagnóstico do câncer colorretal em estágios iniciais. “É preciso estimular o conhecimento da população em geral sobre como é feita a detecção precoce de tumores e disponibilizar os serviços necessários, que incluem a disponibilidade de médicos, exames e tecnologias. Quanto mais cedo descoberta a doença, melhor o prognóstico, com resultados positivos às terapias e maiores chances de cura”, frisa Renata D’Alpino.
Atualmente, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer colorretal é o terceiro mais incidente no Brasil. Para 2024 são previstos 45.630 novos casos da doença no país.
Atenção aos diagnóstico precoce
Para a oncologista da Oncoclínicas, um ponto de grande relevância
no combate ao câncer colorretal é o estabelecimento de uma recomendação mais
clara para triagem de casos assintomáticos, quando não há sinais de sintomas
clássicos que podem levantar suspeitas - caso de sangramentos corriqueiros
visíveis nas fezes - entre a porção da população com menos de 50 anos.
Entre as ações possíveis, a especialista destaca uma iniciativa
liderada pela US Preventive Services Task Force que considera que testes menos invasivos
poderiam ser iniciados precocemente e repetidos com intervalos menores em
comparação à colonoscopia. Além disso, prevê mudar a idade de rastreamento para
os 45 anos, devendo ser repetido a cada 5 anos em caso de resultados normais,
como já vem sendo sugerido desde 2019 pela ACS.
“Nos EUA o debate sobre uma possível mudança de protocolo,
passando a adotar a idade de 45 anos como recomendada para o início do rastreio
periódico, está sendo baseada na avaliação de centenas de levantamentos e
ensaios clínicos que levam em conta o perfil de pessoas assintomáticas na faixa
etária acima dos 40 anos. Uma forma possível de ampliar as chances de prevenção
seria a indicação de pesquisa das fezes, por meio de testes imunoquímicos e
testes de sangue oculto nas fezes em pessoas mais jovens e que não apresentam
mudanças de saúde perceptíveis. De acordo com os resultados, havendo achados
suspeitos, a colonoscopia seria então realizada”, ressalta a Renata D’Alpino.
Entenda a doença
O tumor colorretal se desenvolve no intestino grosso: no cólon ou
em sua porção final, o reto. O principal tipo de tumor colorretal é o
adenocarcinoma e, em 90% dos casos, ele se origina a partir de pólipos na
região que, se não identificados e tratados, podem sofrer alterações ao longo
dos anos, podendo se tornar o câncer. A principal forma de diagnóstico e
prevenção é através do rastreamento do exame de colonoscopia, em que um
aparelho chamado colonoscópio, que conta com uma câmera na ponta, é introduzido
no intestino e faz imagens que revelam se há presença de possíveis alterações.
No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda iniciar o rastreio do câncer de
cólon e reto da população adulta de risco baixo na faixa etária de 50 anos.
“Grande parte dos tumores de intestino aparecem a partir dos
chamados pólipos, que são lesões benignas que crescem na parede interna do
órgão, mas que se não identificadas preventivamente podem evoluir e se tornarem
malignas com o passar do tempo. Após os 50 anos de idade, a chance de
apresentar pólipos aumenta, ficando entre 18% e 36%, o que consequentemente
representa um aumento no risco de tumores malignos decorrentes da condição a
partir dessa fase da vida e, por isso, ela foi estabelecida como critério para
início do rastreio ativo”, explica a oncologista.
Ela lembra que pessoas com histórico pessoal de pólipos ou de
doença inflamatória intestinal, como retocolite ulcerativa e doença de Crohn,
bem como registros familiares de câncer colorretal em um ou mais parentes de
primeiro grau, principalmente se diagnosticado antes de 45 anos, devem ter
atenção redobrada e realizar controles periódicos antes da idade base indicada
para a população em geral.
De
olho na prevenção
A médica afirma que muitas vezes o tumor só é descoberto
tardiamente, diante de sintomas mais severos, como anemia; constipação ou
diarréia sem causas aparentes; fraqueza; gases e cólicas abdominais; e
emagrecimento. Apesar do sangue nas fezes ser um indício inicial de que algo
não vai bem na saúde, muitas pessoas costumam creditar essa ocorrência a outras
causas convencionais, como hemorroidas, e acabam postergando a busca por
aconselhamento médico e a realização de exames específicos. Isso faz com que
muitas pessoas só descubram o câncer em estágios avançados.
Por isso, a prevenção primária e secundária à doença devem ser
amplamente estimuladas. “A primária se refere a mudanças nos hábitos
alimentares e de vida, como investir alimentos com mais fibras e laticínios e
evitando carnes vermelhas e processadas. Essas mudanças de estilo de vida
consistem ainda em combater a obesidade, praticar atividades físicas
regularmente e evitar o tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas”, destaca
Renata D’Alpino.
Já a prevenção secundária se baseia em exames que avaliam a
presença de sangue oculto nas fezes e de imagem, com destaque para a
colonoscopia - principal ferramenta para identificar o câncer colorretal.
"Esse procedimento é capaz de identificar problemas mais graves e
silenciosos, como o caso do câncer, além da doença de Crohn e retocolite ulcerativa.
Por isso, é fundamental que informações de qualidade sejam transmitidas à
sociedade com o objetivo de conscientizar sobre a importância da colonoscopia
e, principalmente, alertar que o exame pode salvar vidas", complementa a
especialista.
Renata D’Alpino reforça que hábitos de vida saudáveis são
considerados fatores protetivos que contribuem para a redução de riscos da
doença. Por isso, é fundamental investir em uma dieta rica em fibras e prática
de exercícios físicos regulares. Esses cuidados podem não só auxiliar na
prevenção do câncer colorretal, como no combater o crescimento dos casos de
câncer como um todo.
Oncoclínicas&Co.
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