Em 2009, o Diário do Comércio abriu para o público o Museu da Corrupção on-line, expondo em suas galerias virtuais os principais escândalos da história do país desde a década de 1970. A iniciativa nos rendeu um Prêmio Esso
Os escândalos de corrupção se
sucedem no Brasil. Mensalões e rachadinhas, vampiros e anões, grandes ou
pequenos, pouco importa, é recurso público - nosso dinheiro - que jorra de
algum Petrolão ou atola na cueca de excelentíssimos parlamentares. O curioso,
para não dizer patético, é que os corruptos de ontem são protagonistas
políticos de hoje.
É claro que falta memória ao
brasileiro, algo compreensível diante da avalanche de malfeitos, com escândalos
novos soterrando os antigos. Por isso, rememorar os casos de corrupção no país
sempre será importante, e o Diário do Comércio se orgulha de
ter desenvolvido uma das iniciativas mais emblemáticas nesse sentido.
Em 22 de abril de 2009, sob a direção
do jornalista Moisés Rabinovici, o DC abriu ao público o Muco, o Museu da
Corrupção on-line. Um tour pelas instalações virtuais remetia a episódios
ocorridos desde a década de 1970, como a Operação Satiagraha, Máfia das
Sanguessugas, juiz Lalau e o TRT, chegando aos desvios na Petrobras.
Cada caso era acompanhado de
seu inquérito, processo e sentença judicial, além das notícias relacionadas a
ele, compondo um vasto material organizado pela equipe do jornal com o objetivo
de expor a corrupção e os corruptos, para que não fossem esquecidos.
Não é preciso dizer que ninguém
queria fazer parte daquele acervo - tanto que, quando sentenças prescreviam ou
suspeitos eram inocentados, imediatamente pediam ao Muco que seus nomes
deixassem de ser expostos.
No vídeo abaixo são
apresentadas as instalações virtuais do museu, desenvolvidas pelo web designer
William Chaussê com os recursos disponíveis 15 anos atrás. O prédio e suas
galerias renderizadas em Flash chegaram a receber um milhão de visitantes por
mês, que além de conhecimento, encontravam por lá lembrancinhas.
Pois é, como qualquer museu que
se preze, o Muco tinha a sua lojinha que oferecia algemas, cueca com estampa de
dólar e mala de dinheiro, entre outros souvenirs digitais de brincadeira.
Tinha também área de
alimentação, com um cardápio recheado de pizzas com nomes de escândalos que
acabaram abafados, e uma agência de viagens que mostrava os destinos prediletos
dos parlamentares, um turismo pago com dinheiro público.
A iniciativa do Diário
do Comércio ganhou destaque internacional, e o museu passou a receber
contribuições do exterior, principalmente estudos sobre o combate à corrupção.
Além disso, com apenas nove meses aberto ao público, o Muco ganhou o Prêmio
Esso de Melhor Contribuição à Imprensa, a mais relevante premiação do
jornalismo brasileiro.
Em 2014, porém, com o fim da
versão impressa do DC e a reestruturação da equipe do jornal, o Museu da
Corrupção parou de ser atualizado. Diferente de um museu tradicional, a
atualidade tem grande importância para o Muco. Para conseguir acompanhar a
escalada de escândalos e seus desdobramentos, que passaram a brotar na imprensa
quase que semanalmente, seria necessário um grande número de colaboradores.
O museu fechou no ápice do
Petrolão, documentando o que foi possível. O desejo é que reabra, quem sabe
patrocinado, mais moderno, explorando recursos que as tecnologias atuais
permitem. E com galerias bem mais amplas: afinal, nesse lapso de 10 anos,
quanta propina, dinheiro lavado e contratos superfaturados fizeram os bolsos
dos corruptos estufarem?
Assim, de memória, lembro da
Lava Jato, operação Greenfield, operação Zelotes, pedaladas, superfaturamento
das vacinas, o caso das joias... Mas, com certeza, me falta memória.
Fonte:
https://dcomercio.com.br/publicacao/s/dc-100-anos-um-acervo-da-corrupcao-brasileira
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