A cada hora, sete homens recebem o diagnóstico; Rastreamento ativo e detecção precoce são a chave para aumento das chances de cura
Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) sobre o câncer de
próstata revelam um quadro preocupante: durante o triênio 2023-2025, 72 mil
novos casos serão diagnosticados a cada ano, totalizando 216 mil, fazendo deste
o mais incidente entre os homens depois do carcinoma de pele não-melanoma no
Brasil. No âmbito mundial, a tendência é igualmente inquietante, sendo este
responsável por 3,8% das mortes somadas a todos os tipos de tumores segundo os
dados mais recentes da GLOBOCAN, levantamento feito pela Organização Mundial da
Saúde que avalia os impactos do câncer nos diferentes países.
O câncer de próstata é um tipo de neoplasia maligna (tumor) com
uma perspectiva de cura otimista caso seja identificado rapidamente. "De
maneira didática, podemos dizer que durante toda a vida, nossas células se
multiplicam e as antigas são substituídas pelas novas. Contudo, quando há um
crescimento descontrolado, são formados tumores tanto benignos, quanto malignos
- como é o caso do câncer de póstata", diz Denis Jardim, oncologista líder
nacional da especialidade de tumores urológicos da Oncoclínicas.
O especialista explica que a próstata é uma glândula do tamanho de
uma noz, que tem a função de produzir o chamado líquido seminal, responsável
por nutrir e transportar os espermatozóides. Presente apenas em pessoas do
gênero masculino, está localizada na frente do reto, abaixo da bexiga, e
envolve a parte superior da uretra, canal por onde passa a urina.
Por ser um tumor silencioso, a principal
ferramenta para diagnóstico em fases iniciais da doença é o exame de PSA. No Brasil, segundo o Inca, a cada dez
homens diagnosticados com câncer de próstata, nove têm mais de 55 anos. Além disso, cerca de 75% dos casos atingem homens com
65 anos ou mais e a doença mata mais de 15,5 mil brasileiros todos os anos.
“Diante do aumento contínuo nos índices de
longevidade da população, o cenário tende a se agravar e levar a uma situação
preocupante para a saúde pública, com um alto volume de casos, sendo alguns
deles em estágios mais avançados que necessitarão de tratamentos mais
intensos”, ressalta Denis Jardim.
A percepção do oncologista da Oncoclínicas é reforçado por um dado
adicional e preocupante no que se refere aos efeitos da doença sobre a
população masculina: um homem morre a cada 38 minutos no Brasil em decorrência
de tumores de próstata.
Diagnóstico precoce é palavra de ordem
Por conta desses números, as ações de
conscientização do Novembro Azul se mostram ainda mais importantes. Um dos
principais objetivos é alertar para o diagnóstico precoce, que além de permitir
a adoção de tratamentos menos invasivos, promove chances de cura que podem
passar de 90% em 5 anos na doença localizada, assegurando mais qualidade de
vida e evitando que o paciente tenha outros impactos à saúde em geral.
“Pacientes que têm o diagnóstico tardio de um
câncer de próstata, além das consequências de passarem por tratamentos mais
agressivos para controle da doença, muitas vezes necessitam de terapias de
longa duração que podem apresentar consequências para a saúde no geral”,
explica Denis Jardim.
No começo, pelo fato dos sintomas serem
silenciosos, a doença comumente é detectada a partir da avaliação clínica e/ou
exame de PSA. Quando aparentes, os sinais mais comuns são: dificuldade para
urinar, presença de sangue na urina, parada de funcionamento dos rins - indicam
estágio avançado -, além de problemas decorrentes da disseminação para outros
órgãos, tal como dor, nos casos de metástases ósseas.
Por isso, a conscientização sobre a rotina de acompanhamento médico
e o rastreamento ativo é sempre a melhor opção. Homens que se encontram no
grupo de risco, composto por quem tem mais de 50 anos ou com histórico
familiar, devem estar atentos aos exames necessários para rastreamento do
câncer de próstata.
“Por apresentar sintomas mais evidentes quando a
doença já apresenta evolução, é recomendável que homens a partir de 50 anos
façam anualmente o exame clínico (toque retal) e a medição do antígeno
prostático específico (PSA) - feita em unidades de nanogramas por mililitro
(ng/ml) por meio de um exame simples de sangue - para rastrear possíveis
alterações que indiquem aparecimento da doença. Quando há suspeita da
neoplasia, é indicada uma biópsia através de ultrassonografia transretal para a
confirmação do diagnóstico, precedida muitas vezes de uma ressonância”,
destaca.
O oncologista da Oncoclínicas ressalta que casos familiares de pai ou irmão com câncer de próstata, antes dos 60
anos de idade, podem aumentar o risco em 3 a 10 vezes em relação à população em
geral. Afrodescendentes também devem iniciar o rastreio preventivo antes. “A
indicação é que para quem tem histórico da doença na família e/ou outros
fatores que levam à maior propensão ao risco de desenvolver tumores de
próstata, o acompanhamento comece mais cedo, a partir dos 45 anos”, diz.
O problema, aponta o médico, é que muitos homens
deixam de detectar o câncer nos estágios iniciais, quando as chances de cura
são mais altas e os tratamentos menos invasivos, pelo preconceito cultural em torno do tema, o
que aumenta os índices de mortalidade pela neoplasia e dificulta a detecção da
condição em estágios iniciais - ponto crucial no aumento das chances de cura.
“A grande barreira para os homens é
fazer esse acompanhamento médico de prevenção. Mesmo quando os sinais de
problemas se tornam inegáveis, em muitos casos o diagnóstico efetivo da doença
só acontece após um agravamento perceptível da saúde ser notado por pessoas
próximas, como familiares e amigos”, enfatiza Denis Jardim.
Para a definição do tratamento, é necessário analisar o estágio e
agressividade do tumor e, com isso, o oncologista irá projetar individualmente
alternativas terapêuticas. Já nos casos da doença localizada, a cirurgia,
radioterapia associadas ou não ao bloqueio hormonal e a braquiterapia podem ser
uma opção. “Em estágio inicial e de baixa agressividade, devemos manter um
acompanhamento contínuo de consultas e exames, além do tratamento. Quanto aos
pacientes que apresentam metástases, temos uma série de abordagens que podem
ser realizadas, como quimioterapia, bloqueio hormonal, medicamentos para
controle da ação da testosterona e ainda os chamados radioisótopos, que são uma
nova classe de medicamentos com partículas que se ligam ao osso e passam a
emitir doses de radioterapia local”, orienta Denis Jardim.
Incentivo a uma vida mais saudável e mudança de perspectiva
Uma revisão sistemática de estudos mostrou que praticar exercícios
físicos pode reduzir os sintomas e também melhorar a qualidade de vida dos
pacientes com câncer de próstata. "Além de ajudar os pacientes que estão
em tratamento, a realização de exercícios físicos também pode ser um aliado à
prevenção da doença, pois pessoas sedentárias e com excesso de peso também se
classificam como grupos de risco”, aponta o especialista.
E quando falamos em alimentação, manter uma dieta balanceada
também deve entrar na lista de cuidados com a saúde. "É recomendado que
seja buscado o apoio de nutricionistas para a elaboração de um cardápio
personalizado. Contudo, é de extrema importância evitar ao máximo o consumo de
embutidos, carnes processadas, gorduras, entre outros, para o equilíbrio da
saúde como um todo", acrescenta.
Outros tumores masculinos podem deixar homens reféns de seu
próprio desconhecimento
Apesar de menos incidente, quando falamos dos tumores que afetam a população do gênero masculino, o câncer de testículo é responsável por 5% de todos os tumores malignos detectados nos homens. Contudo, se descoberto no início, as chances de cura ultrapassam 95%.
“O paciente pode perceber um nódulo, que na grande maioria das
vezes é indolor, ou ainda um aumento e endurecimento do testículo. Apesar de
não haver nenhum incômodo ao urinar, é possível notar um volume maior no local
da bolsa escrotal. Já durante a higiene, o autoexame periódico pode permitir a
detecção precoce de qualquer alteração na região, pois ao palpar, é possível
identificar que algo está fora do normal”, sintetiza o oncologista.
Já o câncer de pênis, que representa 2% de todos os tumores
malignos masculinos, tem uma relação íntima com fatores relativos a hábitos de
vida: a falta de uma boa higiene – leia-se não limpar o órgão com a devida
atenção – sendo um fator causal relacionado à grande maioria dos casos, podendo
levar a mais de mil amputações todos os anos. Outro fator de risco é a infecção
– geralmente via relação sexual - por HPV (papilomavírus humano). Segundo o
Ministério da Saúde, são estimados que haja entre 9 e 10 milhões de pessoas
infectadas pelo HPV no Brasil e que surjam 700 mil novos casos de infecção por
ano.
"Dentre os principais sinais do câncer de pênis, podemos citar úlceras e feridas persistentes. Por isso, caso algum sinal seja percebido, é de extrema importância buscar aconselhamento médico para o início precoce do tratamento", finaliza Denis Jardim.
Oncoclínicas
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