Instituto Global para o Controle do Tabaco e ACT
Promoção da Saúde se juntam em pesquisa que determina densidade de bitucas em
vias urbanas, seu impacto ambiental e a presença do mercado ilegal de cigarros
Pesquisadores vinculados à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com o apoio do Instituto para o Controle Global do Tabaco (IGTC) da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, Instituto Nacional do Câncer (INCA) e da ACT Promoção de Saúde, acabam de divulgar um relatório abordando o impacto ambiental do descarte inadequado de bitucas de cigarro e uma estimativa do mercado ilegal com base em um estudo realizado em áreas urbanas do município de Guarujá, no estado de São Paulo.
Como parte do estudo, foram coletadas mais de 4,3 mil bitucas de cigarro em vias públicas, entre março e abril de 2023. As bitucas de cigarro, que normalmente consistem em uma pequena porção do cigarro que não foi queimada e plástico não-biodegradável, contêm milhares de substâncias potencialmente tóxicas, como metais, hidrocarbonetos, compostos nitrogenados, aminas aromáticas, entre outras. As bitucas são o principal resíduo gerado pelo ser humano e estima-se que, dos 5,5 trilhões de cigarros produzidos anualmente em todo o mundo, 4,5 trilhões de bitucas sejam descartadas de forma inadequada.[1]
Ao coletar as bitucas de cigarro, os pesquisadores realizaram experimentos para estimar a taxa de poluição das bitucas com base no Índice de Poluição das bitucas de cigarro (CBPI), contendo seis classes de poluição que variam de "muito baixa" a "severa". Depois de considerar outras influências ambientais, como o tipo de solo e a precipitação anual, verificou-se que os contaminantes resultantes das bitucas de cigarro geraram um nível "severo" de poluição ambiental, com estimativas de vazamento de contaminantes atingindo proporções alarmantes.
"Além de tudo o que sabemos sobre os efeitos tóxicos do uso do tabaco entre os seres humanos e os impactos ambientais da cadeia produtiva do tabaco, como a degradação do solo e o desmatamento, este estudo demonstra que a poluição do cigarro ocorre também em uma taxa severa depois que os produtos são consumidos e descartados indevidamente", disse Graziele Grilo, Coordenadora Sênior do Programa de Pesquisa e Líder Regional para a América Latina do IGTC.
De acordo com o IGTC, esses resultados também enfatizam a importância de proibir o uso de filtros nos cigarros, o que não apenas reduziria o impacto ambiental do lixo de bituca de cigarro (já que os filtros não são biodegradáveis), mas também poria fim às falsas alegações de menor risco associadas aos filtros que são usadas pela indústria do tabaco há décadas:
"Já temos pesquisas indicando que os filtros não trazem benefícios à saúde para as pessoas que usam cigarros, e sua utilização pelas empresas e alegações enganosas a seu respeito realmente ajudam a tornar o produto ainda mais atraente para os adolescentes[2] – o efeito dessas alegações apenas serve aos interesses da indústria do tabaco. As descobertas do nosso estudo sobre seu impacto ambiental podem apoiar os esforços existentes para banir os filtros de cigarros por meio de políticas destinadas a reduzir a poluição plástica", explicou Graziele.
A identificação da marca (que não é comum em monitoramentos deste tipo) foi outra consideração singular deste estudo. As marcas de cigarros foram identificadas por meio de logotipos ou nomes em mais de 80% das bitucas coletadas, sendo que mais de 57% foram identificadas como tendo sido fabricadas pela BAT Brasil ou Philip Morris Brasil. A identificação da marca também possibilitou estimar o status de legalidade dos produtos encontrados nas áreas pesquisadas, com base na lista de marcas aprovadas pela Anvisa. Os resultados indicaram semelhanças entre a presença de bitucas de cigarro ilícitas nas áreas pesquisadas da cidade de Guarujá e da cidade vizinha de Santos (com base em estimativas anteriores utilizando a mesma metodologia).
"Embora a existência de marcas e logotipos nas bitucas de cigarro represente valor de marketing pós-consumo para as empresas de tabaco, o fato de termos conseguido identificar as marcas nas bitucas dos cigarros descartados neste estudo também é um passo essencial para responsabilizar as empresas. Isso é especialmente importante para embasar ações que busquem indenização das empresas fumadoras pelos danos à saúde", comentou Mariana Pinho, Coordenadora de Projetos do Projeto Tabaco da ACT Promoção de Saúde. "Dessa forma, também poderíamos considerar a adoção de mecanismos de compensação ambiental pelas autoridades competentes para reparar os impactos causados pelas bitucas de cigarro, tais como a criação de um fundo de protecção ambiental, taxas de impacto ambiental, entre outros", acrescentou.
Para mais informações sobre o estudo: Link.
Sobre o Instituto para o Controle Global do Tabaco
Criado em 1998, o Instituto para o Controle Global do Tabaco informa as medidas de controle do tabaco em países ao redor do mundo há 25 anos. Como parte do Departamento de Saúde, Comportamento e Sociedade da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, o instituto é parceiro da Bloomberg Initiative to Reduce Tobacco Use and a Collaborating Centre of the World Health Organization, guiado pela missão de prevenir mortes e doenças causadas por produtos de tabaco, gerando evidências para apoiar intervenções relacionadas ao tabaco.
Sobre a ACT Promoção da Saúde
Criada em 2006, a ACT Promoção da Saúde é uma organização não governamental que atua na promoção e defesa de políticas de saúde pública, especialmente nas áreas de controle do tabagismo, alimentação saudável, controle do álcool e atividade física. Juntas, essas quatro pautas representam os principais fatores de risco evitáveis para as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), que incluem doenças cardiovasculares e pulmonares, diabetes e câncer e são a maior causa de mortes no mundo. A atuação da ACT também inclui os direitos humanos e a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
[1] Organização Mundial da Saúde: link para acesso.
[2] British Medical Journal: link para acesso.
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