Conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza retomaram terror por conflitos sangrentos mundialmente; psicóloga Vanessa Gebrim explica como isso pode afetar crianças
A vivência em
áreas de guerra e conflito é uma realidade brutal para
inúmeras crianças em todo o mundo. A exposição constante à violência
e ao medo em contextos de guerra deixa cicatrizes profundas no desenvolvimento
emocional e psicológico das crianças. Os recentes conflitos na Faixa de
Gaza e na Ucrânia reacenderam uma preocupação global sobre guerras.
Hoje, existem
cinco conflitos em atividade no mundo que, somados, já deixaram centenas de
milhares de mortos que diariamente estão nos noticiários e nas redes
sociais. Para se ter ideia, de acordo com dados compilados pela agência de
notícias Al Jazeera (emissora estatal da monarquia do Qatar), a guerra entre
Israel e o grupo extremista Hamas já conta com mais de 11 mil mortos confirmados.
O estresse e o
trauma associados à guerras resultam em consequências emocionais
profundas, como o desenvolvimento de traumas, medo, ansiedade,
depressão e isolamento. As crianças, muitas vezes incapazes de compreender
a complexidade dos conflitos, enfrentam um fardo emocional pesado, que pode
afetar profundamente sua autoestima, confiança e senso de segurança.
Para a
psicóloga Vanessa Gebrim, especialista
em Psicologia Clínica pela PUC de SP, essas situações de
estresse podem afetar até o aprendizado dos pequenos. "O
estresse altera a química cerebral e as áreas de funcionamento do
aprendizado, como memória e raciocínio, apresentando regressão no
desempenho escolar, problemas de memória e raciocínio", revela.
Efeitos
da guerra: uma cicatriz psicológica
O medo de perder a
vida, sair de casa, ou até mesmo frequentar a escola torna-se uma parte
avassaladora de suas vidas. Os pesadelos noturnos e a insônia são sintomas
comuns, deixando-as em estado de hipervigilância constante.
"As crianças começam a sentir medo de morrer, de sair de casa,
de ir para a escola, pesadelos à noite, causando insônia, situações onde fica
hipervigilante o tempo todo", enumera a psicóloga.
Esta exposição
contínua à violência e ao medo não apenas afeta o presente das crianças,
mas também deixa um impacto duradouro em seu futuro. “Podem deixar
sequelas, como um TEPT (transtorno de estresse pós traumático) que
traz sintomas como insônia, irritabilidade, mudanças de humor,
agitação, quadros de ansiedade, uma depressão e também uso abusivo de álcool e
também o suicídio”, alerta.
Essas alterações
de humor em áreas de conflito estão diretamente ligadas com a forma na qual
nosso cérebro lida com esses impulsos. “Toda vez que acontece uma situação de
violência causando estresse é liberado um hormônio chamado cortisol que acaba
alterando as áreas relacionadas ao aprendizado, memória e raciocínio”, explica.
Além disso,
as guerras também afetam quem não está nela
fisicamente, crianças que acompanham os conflitos pelas redes sociais
ou pela televisão também podem ficar marcadas psicologicamente.
“Acompanhar os perfis por telas pode desencadear sensações de medo,
angústia, problemas de sono e quadros de ansiedade. Essa reação é agravada
em crianças por não estarem acostumadas com esse tipo de violência
brutal e com a existência de mortes”, indica.
O ideal seria que houvesse um esforço para preservar a saúde mental dessas pessoas, um povo traumatizado por uma guerra necessita de muito apoio psicológico na superação do trauma vivenciado. Nestes casos, a psicoterapia é muito efetiva. “É necessário reforçar os programas de ajuda humanitária, como apoio a programas para a saúde mental, além de promover a cooperação internacional para evitar guerras. Estamos vivendo em uma sociedade com alto índice de comprometimento na saúde mental. O risco de desenvolvimento de transtornos mentais e problemas de saúde são enormes”, finaliza Vanessa Gebrim.
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