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quinta-feira, 16 de novembro de 2023

"Gimga": O segredo para empreender no Brasil

Recentemente fui convidado para dar uma palestra sobre empreendedorismo. O público, estudantes de graduação e pós-graduação, me fez voltar no tempo. Reencontrei o Virgilio de 2006 que estava no último ano da faculdade. Era um poço de ansiedade e cheio de dúvidas e preocupações, para não dizer, medos. Ao me reencontrar, lembrei o quanto eu queria ser empreendedor e o quanto o mundo me falava não. 

Ao comentar sobre meu sonho com meu círculo de amizades, só ouvia coisas do tipo:

 

● Só 33% dos empreendedores têm ensino superior;

● 25% da população economicamente ativa está envolvida com empreendedorismo;

● 21% das empresas, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), fecham as portas no primeiro ano;

● Em 5 anos, segundo o Sebrae, 62% dos negócios fecham.

 

Diante dos fatos, da imaturidade profissional e das alternativas de carreira, quem, em sã consciência, opta por empreender? E, ao optar, quem controla a ansiedade e sabe em que realmente focar para o negócio sobreviver e furar a Estatística? 

Quando estava nessa situação, adotei a postura de colocar o pé em dois barcos. Junto do empreender, fiz mestrado e doutorado. A ideia era ter um seguro; mesmo fracassando, haveria uma opção de prestar algum concurso. 

Ideia boa à época; mas, vista agora, o custo do seguro foi alto. Foco é algo importante para ter sucesso em qualquer coisa da vida. Mas, além de foco, resumi um pouco do que aprendi no acrônimo que eu chamo de Gimga. Quer empreender? Então se prepare, porque terá de ter muita Gimga para ter sucesso.

 

Gente é a base de tudo

Numa empresa, trabalham pessoas. Além disso, todo o negócio precisa de clientes e fornecedores, sendo estes, pessoas. Ou seja, se você não aprender a lidar com pessoas e suas características, não conseguirá ser um bom empreendedor. Aqui: não se acanhe. Nem todos são especialistas em gente. Alguns mais, outros menos, mas todos precisam dominar o básico do trabalho em equipe de gestão de pessoas.

 

Ideias e Inovação na medida certa

Um novo negócio só evolui se houver ideia e inovação. A sacada é identificar algo que já é feito e fazer um pouco melhor. Para o começo, quanto mais fácil for a migração para a sua solução, melhor será. Não precisa revolucionar o mundo no primeiro produto. Pode acontecer? Sim, mas a probabilidade de se perder ou de faltar investimento é grande. 

Agora, tenha em mente que empresas maduras morrem porque não inovam – e novos empreendimentos porque inovam demais. Patinei muito no início da trajetória, e ainda erro hoje, por ser mais inovador do que o mercado necessita. E cada inovação demanda investimento, pesquisa e muito esforço para começar a capturar valor. Então, foco em melhorar um pouco de algo que já é feito. Isso o fará cortar caminhos e fugir da morte prematura do negócio.

 

Marketing é fundamental

Foi difícil para um engenheiro ser convencido de que marketing é investimento, e não gasto. Na minha cabeça, era melhor investir em equipamentos, mesmo sem uso imediato, do que no marketing online. Não precisa ser gênio para saber que eu estava errado. Quando você encontrar a combinação perfeita dos clientes que compram seus produtos ou serviços, invista. 

E não adianta terceirizar. Você vai precisar se debruçar e entender um pouco sobre como os algoritmos funcionam e como configurar uma campanha. Verá que é um aprendizado enorme e que, aos poucos, chegará a um número cada vez maior de clientes que serão seus promotores. Atraí-los é condição fundamental para seu sucesso.

 

Gestão é o que conecta gente aos processos

As pessoas precisam saber o que a empresa espera delas e como podem entregar isso. Quando o negócio começa a crescer, dividir o trabalho e as responsabilidades de cada um é fundamental. Sem uma boa gestão, a equipe irá se sentir desmotivada e as entregas não serão feitas a contento. Invista tempo desenhando a estratégia e os processos, mas invista mais tempo ainda comunicando-os ao time. 

Implante indicadores, meça resultados, descreva padrões; treine e, enfim, garanta que cada pessoa saiba o que se espera dela e o que é necessário construir para alcançar sua próxima promoção. Seja também um embaixador da cultura e dos valores da companhia e só promova ou puna por meio de regras claras. Sem isso, o risco de ficar pelo caminho é grande.

 

Análise de dados, o caminho para evoluir

Todos vão trazer ideias para você. Todo dia, ideias novas vão chegar, assim como explicações bem elaboradas do porquê os resultados foram alcançados ou não. Se você não tiver uma vacina contra explicações e interesses, que são os dados, estará em maus lençóis. Verá que dói demais falar não, apesar de ser fundamental. E, sendo você o empreendedor, não haverá instância superior à sua no negócio. O “não” será atribuído à sua pessoa e contar com os dados para suportá-lo é fundamental. 

Quanto maior a capacidade dos seus colaboradores de análise, mais rápido irá aprender. Os testes, fundamentais no mundo complexo e cheio de mudanças que vivemos, serão melhores e possibilitarão avanços constantes. Por isso, aprenda a analisar dados. Não é fazer gráficos bonitos, mas extrair informações relevantes para o negócio. Respeitando, sempre, as leis da Estatística, tão importantes e esquecidas hoje em dia.

 Por fim, aposto que você se incomodou com a grafia errada de Gimga, afinal, se me referi ao movimento oscilante do corpo; balanço; meneio, a grafia correta será ginga. Regra da língua portuguesa: antes de p e b, utiliza-se m. Para todo resto, n. Agora, pela regra, se for nome próprio, pode fugir a grafia padrão da língua. Então, pela brecha e por querer incluir marketing, apelei para o meu Gimga, com M: Gente, Inovação, Marketing, Gestão e Análise de dados. 

Empreendedor brasileiro deve ter uma coisa em mente: atente-se para a regra, sempre. Um doce industrializado pode ser um bombom e pagar 5% de IPI ou ser um biscoito tipo wafer e ser isento. No Brasil dos empresários, detalhes são tudo.

  

Virgilio Marques dos Santos - dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.


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