As coisas estão de ponta-cabeça e esta é uma dura realidade, principalmente quando se trata de Brasil. Do lado de fora da firma, a taxa de juros continua nas alturas. O preço dos alimentos? Está mais elevado do que um arranha-céu. O valor da gasolina? Voando pela abóbada celeste. E a energia elétrica? Esta já ultrapassou a camada de ozônio, reinando absoluta no espaço sideral.
Com tanta conta
para pagar, como fica a cabeça de quem está no mercado de trabalho? De acordo
com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em 2022, 209.124 mil pessoas
foram afastadas de seu ofício por conta de transtornos mentais. No maior número
relatado desde o início da série histórica, uma coisa é fato: os trabalhadores
não estão bem e precisam de socorro.
Mas será que dá
para perceber quando um funcionário está no seu limite? Para o psicanalista
britânico Wilfred Bion, pioneiro no estudo e aplicação de dinâmicas
psicológicas em grupo, nem sempre o colaborador sabe que está apresentando
sintomas de algum desequilíbrio emocional, uma vez que muitas destas
manifestações são tão intensas que nem sequer foram elaboradas.
São os chamados
elementos beta. Na visão do especialista, o bebê quando nasce não possui as
suas faculdades psíquicas desenvolvidas para lidar com a elevação dos
acontecimentos. Deste modo, se determinada situação for sentida como nociva
para si, ele tenderá a jogar toda a carga emocional no ambiente externo, seja
por meio do golfo, da saliva, da urina ou, ainda, das fezes.
Dependente quase
que exclusivamente da mãe para suportar as coisas que sente, decodificar o que
elas querem dizer e devolvê-las para si no formato de uma linguagem
inconsciente que seja capaz de expressar apoio, amparo e segurança absoluta, o
pequeno ser humano vai, aos poucos, ganhando tenacidade mental até que possua
autonomia suficiente para pensar e sentir sozinho.
Sendo assim,
quando tudo ocorre bem nesta etapa do psicodesenvolvimento infantil, que vai do
nascimento à faixa dos 1,5 anos de idade, pode-se dizer que a criança já
consegue trabalhar com elementos alfa. Ou seja, tendo aprendido com a sua
genitora que uma onda pode ser uma marola, ela poderá usar o raciocínio para
perceber o mundo com um senso maior de realidade.
Entretanto, se
houve falha na passagem da função beta para a função alfa, ainda na infância,
ou, se a envergadura dos fatores externos de um indivíduo adulto exigir além do
que esta última consegue suportar, ele poderá entrar em processo de
fragmentação, passando a se comportar novamente como um bebê que vive em um
mundo repleto sensações e fantasias extremadas.
É neste ponto
que muitos profissionais brasileiros se encontram. Com a função alfa operando
no limite da capacidade, porque o desafio diário, seja ele corporativo ou
pessoal, está cada vez mais exigente, eles não têm outra alternativa senão a
produção de sintomas. Compete a você, gestor, identificar os sinais, entender o
que eles querem dizer e partir para a ação. Vamos lá?
O primeiro
indício de que um trabalhador está entrando em beta é observar os seus olhos.
Se ao redor deles houver uma tonalidade vermelho escuro, parecendo que a região
está mais vascularizada que o normal, atenção. Isto indica que os seus
conteúdos psíquicos voltaram a operar em nível ocular, logo, o liderado
precisará de ajuda para não entrar em surto psicótico.
Acabou de passar
uma instrução para uma atividade de alta importância, mas o liderado não
memorizou quase nada do que foi dito? Fique esperto. A memória, aspecto
importante para a construção do pensamento alfa, fica ligeiramente prejudicada
quando se está em beta. Se este for o caso, certifique-se de passar instruções
por escrito enquanto durar a crise do funcionário.
A pessoa tinha
um vocabulário rico e fluente, mas passou a se expressar de forma simples, como
se faltassem palavras? Outra interferência de beta. Disruptivas em essência, as
emoções beta podem destruir a forma como a psique entrelaçou a sua cadeia de
significantes, gerando falhas simbólico-linguísticas. Caberá a você ter
paciência para realfabetizar as dores do seu liderado.
Precisou se
deslocar até o outro departamento para uma reunião, porém, no caminho, percebeu
que o seu subordinado só faltou tropeçar nos próprios pés? Não é labirintite,
não. A inteligência espacial é uma das expertises que apenas a função alfa
consegue processar devido à quantidade de estímulos captados em sua altitude.
Logo, se fulano cambalear, prepare rápido o tratamento.
Por fim, se as
ocorrências acima não estiverem presentes, mas os indicadores de performance do
seu time estiverem despencando lá do pico da montanha corporativa, não espere
para agir. Volte as atenções para sua equipe, peça para falar com cada um
individualmente e se prepare para suportar o que eles têm a dizer. Afinal, para
toda meta, sempre existirá um elemento beta.
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