Embora inflação e juros estejam
cedendo, desempenho da economia brasileira para o próximo ano vai depender de
fatores externos e do aquecimento do consumoThinkstock
O Brasil deve terminar o ano de
2023 com desempenho positivo da economia. As projeções para o Produto Interno
Bruto (PIB) deste ano variam de 2,89% - pelas expectativas atuais do mercado
financeiro - a 3,1% - segundo previsão do Fundo Monetário Internacional
(FMI).
A melhora das condições
econômicas atuais é influenciada pela alta das exportações do agronegócio e da
indústria extrativa, além de alguns fatores internos, como a melhora da renda e
do mercado de trabalho, elementos que estimulam o consumo.
No entanto, para o próximo ano,
ainda há muita incerteza segundo o economista Ulisses Ruiz de Gamboa, da
Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que destaca alguns aspectos que podem
interferir de forma negativa e positiva na economia do país no próximo ano:
Guerra no
Oriente Médio: entre os fatores negativos para
o próximo ano está a guerra entre Israel e o Hamas, que não tem previsão de fim
e já impacta de forma moderada o preço do petróleo.
Mesmo os países envolvidos no
conflito não sendo grandes exportadores da matéria-prima, um eventual
alastramento da guerra para outros países, como o Irã, um dos principais
produtores de petróleo e financiador dos Hamas, pode levar a uma redução nas
exportações da matéria-prima, impactando o seu preço no mercado internacional.
O aumento no preço do petróleo
é sentido em toda a cadeia produtiva, uma vez que ele entra na composição do
frete. Afeta também o Comércio, que depende cada vez mais de entregas por meio
do e-commerces. O combustível mais caro é um fator de pressão inflacionária,
que acaba inibindo o consumo.
Desaceleração
da economia chinesa: a China, segunda maior
economia do mundo e principal parceira comercial do Brasil, é outra interrogação
para 2024 segundo o economista da ACSP. A economia do país asiático está em
desaceleração, problema agravado pela alta taxa de desemprego entre os mais
jovens e pela queda de desempenho do setor imobiliário.
De acordo com George Magnus,
economista do Centro Chinês da universidade de Oxford, a China é responsável
por 40% do crescimento mundial. Ou seja, qualquer problema na economia do país
asiático afeta diretamente a economia global.
A desaceleração da China é um
grande problema para o Brasil, já que o país asiático é o principal comprador
de produtos agrícolas brasileiros. A possível redução da demanda chinesa pode
resultar em baixa nos preços das commodities e, consequentemente, uma redução
no PIB brasileiro, já que hoje o agronegócio é o setor que mais influencia o
crescimento da economia por aqui.
Inadimplência
das famílias: a elevada inadimplência é outra
preocupação para o Brasil em 2024. “A inadimplência é enorme, as pessoas não
conseguem pagar contas básicas, como água e luz”, comenta Ruiz de Gamboa.
A proporção de famílias
endividadas no país vem diminuindo, mas ainda é bastante elevada. Segundo a
Confederação Nacional do Comércio (CNC), em outubro, 76,9% das famílias
brasileiras carregavam dívidas, sendo que desse total, 29,7% estavam inadimplentes.
“Um dos fatores que contribui
para essa inadimplência elevada é a alta taxa de juros. As pessoas atrasam o
pagamento da fatura e os juros que incidem transformam a dívida em uma bola de
neve, não conseguem sair dessa situação”, diz o economista da ACSP.
Ruiz de Gamboa lembra que,
mesmo com as recentes reduções na Taxa Básica de Juros (Selic) feitas pelo
Banco Central (BC), ela ainda está elevada, em 12,25% ao ano. Para 2024, a
expectativa do mercado financeiro é que a Selic caia para 9,25% ao ano, mas o
impacto dessa redução da taxa na economia não é imediato.
A inadimplência pode ser uma
das principais preocupações para o lojista em 2024, diz o economista, porque
ela reduz o ímpeto de consumo.
Aumento na
renda: mas nem tudo no horizonte de
2024 é ruim, segundo Ruiz de Gamboa, que destaca a importância das políticas de
transferência de renda do governo e a melhora do mercado de trabalho, que devem
ajudar o consumo no próximo ano.
Esses fatores implicam no
aumento da confiança do consumidor, que pelo Índice Nacional de Confiança
(INC), elaborado pela ACSP, registrou a quinta alta seguida no mês de outubro,
ao avançar 4,8% sobre o resultado de setembro.
Vale lembrar que a confiança do
consumidor é um importante termômetro para as vendas do comércio.
Inflação: um outro elemento de otimismo para 2024 é a inflação, que segundo
Ruiz de Gamboa, deve ficar sob controle, apesar de fatores externos, como a
guerra entre Israel e o Hamas, que pressionam os preços.
O economista da ACSP diz que as
perspectivas para o próximo ano são de que a inflação se mantenha estável,
estando dentro da meta estipulada pelo BC, de 3%, podendo oscilar entre 1,75% e
4,75%.
“A inflação está sob controle,
o que pode facilitar a redução dos juros ao longo do próximo ano”, diz. “Com a
queda dos juros, o consumo é estimulado, assim como os investimentos no país”,
complementa.
https://dcomercio.com.br/publicacao/s/com-guerra-e-desaceleracao-da-china-2024-e-incerto-para-o-brasil
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