Crédito: Mateus Serrer/Comunicação Butantan |
Butantan busca a aprovação também no Brasil e está conduzindo testes em adolescentes; imunizante gerou anticorpos em 98,9% dos voluntários americanos
A vacina contra a chikungunya desenvolvida em parceria
entre o Instituto Butantan, órgão vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de
São Paulo, e a empresa de biotecnologia franco-austríaca Valneva, foi aprovada
nesta quinta (9) para maiores de 18 anos pela agência reguladora dos Estados
Unidos, a Food and Drug Administration (FDA). Trata-se do primeiro imunizante
autorizado no mundo contra a doença. A avaliação levou em conta os dados
americanos do ensaio clínico de fase 3 publicados em junho na revista The Lancet,
que mostraram que a vacina é segura e induziu anticorpos em 98,9% dos
participantes da pesquisa.
A conquista demonstra o potencial do imunizante e
fortalece a possibilidade de sua futura liberação no Brasil. A previsão é que o
Butantan submeta o pedido de aprovação para a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) no primeiro semestre de 2024. O Butantan também está
conduzindo estudo de fase 3 no Brasil, que é considerada uma região onde tem
transmissão do vírus, desta vez em adolescentes. Os resultados, esperados para
breve, podem substanciar a ampliação da indicação da vacina para este grupo
etário.
“É uma ótima notícia para todos. Estamos cada vez mais
próximos de oferecer uma vacina contra chikungunya para a população. O Butantan
tem muito orgulho de participar ativamente deste processo de desenvolvimento”,
afirma o diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás.
No Brasil, a vacina está sendo testada em 750 adolescentes
brasileiros de 12 a 17 anos que residem em áreas endêmicas nas cidades de São
Paulo (SP), São José do Rio Preto (SP), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Belo
Horizonte (MG), Laranjeiras (SE), Recife (PE), Manaus (AM), Campo Grande (MS) e
Boa Vista (RR).
No ensaio clínico conduzido nos Estados Unidos, uma única
dose da vacina da chikungunya induziu produção de anticorpos neutralizantes em
98,9% dos participantes e se mostrou segura. As reações adversas foram
majoritariamente leves, sendo as mais comuns dor de cabeça, fadiga, dores
musculares, dores nas articulações, febre, náusea e sensibilidade no local da
injeção. Depois de seis meses da vacinação, a proteção ainda foi mantida em
96,3% dos voluntários.
Doença pode deixar sequelas graves
A chikungunya é uma doença viral transmitida pelos
mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Alguns casos podem
ser assintomáticos e outros podem causar febre acima de 38,5° e dores intensas
nas articulações de pés e mãos, além de dor de cabeça, dor muscular e manchas
vermelhas na pele.
O principal impacto de saúde pública são as sequelas
deixadas pela chikungunya – as fortes dores articulares podem se tornar
crônicas e durar anos. “Muitos desses casos ocorrem em pessoas jovens, que não
conseguem mais nem trabalhar. Então essa arbovirose acaba tendo consequências
não só na saúde, mas na economia”, aponta a diretora médica do Butantan,
Fernanda Boulos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o vírus
chikungunya já foi identificado em 110 países na Ásia, África, Europa e nas
Américas. No Brasil, os casos aumentaram 78% entre 2021 e 2022. Ainda não existe
tratamento específico para a infecção.
A principal forma de prevenção atualmente é o controle dos
vetores, assim como no caso da dengue. Isso inclui esvaziar e limpar
frequentemente recipientes com água parada, como vasos de plantas, baldes,
pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e sem manutenção, e descartar
adequadamente o lixo.
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