Imagem da exposição Luz da manhã, da fotógrafa Tayná Uràz
Dividida
em duas etapas, iniciativa do MIS contempla fotógrafos que se destacam pela
qualidade e inovação nas suas obras, por meio de seleção anual
A partir do dia 26 de
setembro, o MIS – instituição da Secretaria
da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo –
inaugura a segunda parte da exposição Nova Fotografia 2023. Com
visitação gratuita, a nova etapa do projeto ficará em cartaz até o dia 12 de
novembro.
Desde 2011, a iniciativa do Museu seleciona,
por meio de convocatória, seis trabalhos de artistas promissores que se
destacam pela qualidade e inovação. Além das exposições, que ganham um
acompanhamento curatorial individual, esses projetos também passam a fazer
parte do acervo físico e digital do MIS.
Os trabalhos selecionados são expostos em
duas etapas. Nesta segunda seleção da temporada 2023, o público do MIS poderá
conferir as séries Luz da manhã, de Tayná Uràz; Eu nem
faço rap, de João Medeiros; e Vênus como mirada,
de Val Souza. O acompanhamento curatorial fica a cargo de Nancy Betts, Ronaldo
Entler e Carolina Lauriano.
Sobre
as obras
Luz
da manhã – por Nancy
Betts: “A intimidade de Luz da manhã nasce da relação com seu
próprio nome de origem indígena, escolhido por sua mãe, e se refere aos astros
celestes, à estrela da manhã. Ao rever suas primeiras referências de
fotografia, os álbuns de família, muitas respostas não se encontravam nas
poucas imagens, sendo a oralidade de sua mãe e tia-avó essencial para fundar um
imaginário. Assim, as poucas fotografias da família de Tayná tornaram-se
documentos da sua ancestralidade – nos quais a falta de imagem, apagamentos,
violências e traumas fazem parte do passado.
Pela intenção com a prática da transformação,
sua busca por imagens nunca vistas cruza a fronteira do particular. A artista
apresenta sua exposição por meio de um dispositivo – para Foucault, a função do
dispositivo é ser uma estratégia de pensamento –; é essa força de pensar que
revela, com seu processo de ficcionalização. Intervindo em arquivos,
“autoficciona” as andanças de seus ancestrais por esse território; trabalha,
ainda, sobre a terra, para cultivar suas raízes, semeando suas memórias.
Muda a experiência do tempo, as intervenções estabelecem
um kairós
– o momento eternizado, não medido pela linearidade de Chronos, mas sim pelo
afeto. É por meio desse sentimento que seu anseio de pertencimento se completa,
ao preencher lacunas e evidenciar o apagamento. Como ela declara, usa o dispositivo
para ressignificar, ritualizar, para trazer uma consciência e cultuar a imagem
e a não imagem, criando, ao mesmo tempo, seu lugar na ausência e a afirmação de
sua presença.”
Imagem da exposição Luz da manhã, da fotógrafa Tayná Uràz |
Eu nem faço rap – por Ronaldo Entler: “João Medeiros tem intimidade com o rap. Assina uma coluna numa publicação especializada em que discute a cena nacional e internacional do hip-hop e acompanha, com sua câmera, diversos expoentes brasileiros. Mas faz questão de dizer: “eu nem faço rap”. Afinal, é jornalista e fotógrafo; não é músico. No entanto, essa negação conduz a uma pergunta: ele não faz rap, mas do que o rap é feito? Nem todas as respostas estão aqui, mas estas fotos permitem uma constatação: ele é feito também de imagens. O que coloca em dúvida aquilo que foi negado: João Medeiros não faz música, mas há algo do rap que ele ajuda a construir.
As imagens tornam-se cruciais para uma
cultura colocada à margem dos discursos hegemônicos e que, quando representada,
está sempre sujeita aos estereótipos. Porque elas são uma intervenção política
num espaço que se constrói espremido entre a invisibilidade e olhares míopes.”
Imagem da exposição Eu nem faço rap, do fotógrafo João Medeiros |
Vênus
como mirada – por Carolina
Lauriano: “Para o programa Nova Fotografia, Val Souza apresenta o projeto Vênus
como mirada, trazendo novos elementos pictóricos para discutir a
construção do imaginário social sobre o corpo da mulher negra, a partir das
fotografias do alemão Alberto Henschel.
Vênus
como mirada surge para questionar tais imagens produzidas por Henschel,
propondo uma nova leitura contemporânea. Em uma primeira camada, Val Souza nos
instiga a pensar a complexa relação entre fotógrafo e fotografado, tomando como
hipótese inicial os valores político-sociais deterministas projetados no
imaginário, a partir da iconografia sobre o negro produzida por fotógrafos
europeus no século 19. Quando adensamos a camada de gênero, observamos como tal
relação também corroborou para uma intenção de olhar sobre o corpo da mulher
negra, reiterando noções de exotização, produzindo uma dupla violência sobre
esse corpo.
Utilizando-se dos recursos do autorretrato, a
artista criou uma série de lenticulares que sobrepõe imagens de Henschel às
suas próprias, construindo uma narrativa de emancipação, liberdade e direito ao
desejo. Ao observarmos uma imagem do passado transformar-se em uma imagem do
agora, tomamos como direção uma construção de futuro.”Imagem da exposição Vênus como mirada, da fotógrafa Val Souza
Sobre os artistas e curadores
João
Medeiros (Juiz de Fora, MG, 1996) é artista visual e jornalista com
especialização em cultura. Em sua pesquisa artística, a juventude negra
brasileira é o tema que articula uma diversidade de meios de expressão, entre
eles a escrita, a fotografia documental e a videoarte. O retrato, o acesso ao
lazer e as relações familiares são seus principais interesses. No jornalismo,
produz sobre música popular contemporânea e novas mídias.
Ronaldo
Entler (São Paulo, SP, 1968) é pesquisador e crítico de fotografia,
mestre em Multimeios (IA-Unicamp), doutor em Artes (ECA-USP) e pós-doutor em
Cinema (IA-Unicamp). É professor dos cursos de Comunicação e de Artes da FAAP.
Desenvolve pesquisas no campo da estética e das teorias da imagem, orienta e
acompanha projetos de artistas visuais. Foi editor do site Icônica, é autor do
livro de contos Diante da sombra (Confraria do Vento, 2018) e colunista do
site da revista Zum.
Tayná
Uràz (Petrópolis, RJ, 1995) é artista visual. Vive em São Paulo,
trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo. Estuda artes na Universidade Federal
Fluminense. Em seu trabalho, emprega a imagem como memória mágica e conectiva,
explorando seus desejos de conhecimento territorial para reconhecimentos
sociais. Suas pesquisas de retomada são ferramentas para investigar os meios
urbanos que habita, traçando comportamentos, identidades e existências.
Participou da residência artística Capacete e MAM-RJ, em 2020, e da residência
Laboratório de Imagens, em parceria com o IMS-RJ e o Observatório de Favelas,
em 2022.
Nancy
Betts (Manaus, AM, 1946) é mestre em Comunicação e Semiótica pela
PUC-SP e professora de História da Arte na FAAP. Integra o corpo docente dos
cursos de pós-graduação de Audiovisual e Mídias Interativas do SENAC-SP. Em
2005, foi professora convidada da Unichapecó-SC. É pesquisadora CNPq em
Linguagem da Arte e da Artemídia. Integrou projetos de curadoria como Fidalga
’05, no Paço Municipal de Santo André, SP, em 2005; A
subversão dos meios, no Itaú Cultural, em São Paulo, em 2003; Palavra-figura,
no Paço das Artes, SP, em 2002; XS/XL (extra small, extra large),
no Muma (Museu Metropolitano da Arte), em Curitiba, em 1999/2000; além de
curadorias em locais como Espaço Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro;
Galeria Nara Roesler, em São Paulo; Galeria Marina Potrich, em Goiânia; e Muna
(Museu Universitário da Arte), Universidade Federal de Uberlândia, MG.
Val
Souza (São Paulo, SP, 1985) é artista visual e vive entre São Paulo e
Salvador. Sua prática artística atravessa os campos da filosofia e dos estudos
culturais. Com forte interesse pela história e iconografia das mulheres negras,
a artista incorpora fotografia, vídeo e instalação por meio de uma exploração
contínua de autoexposição e subjetividade. Em 2020, recebeu a Bolsa de
Fotografia ZUM/IMS.
Carollina
Lauriano (São Paulo, SP, 1983). Vive e trabalha em São Paulo. É formada em
Comunicação Social com ênfase em Jornalismo. Tem extensão em “Pesquisa em arte,
design e moda”, pela Central Saint Martins/UAL, atuando como curadora
independente desde 2017. Entre 2018 e 2020, foi curadora e gestora do Ateliê397,
um dos principais espaços independentes de arte de São Paulo. Em suas
pesquisas, interessa discutir a inserção, desafios e conquistas de jovens
mulheres artistas no mercado da arte. Entre os principais projetos realizados,
estão as exposições Corpo além do corpo, que discutiu o
corpo queer e a transexualidade feminina e a busca pelo protagonismo de novos
corpos na sociedade; e A noite não adormecerá jamais nos olhos nossos,
na Galeria Baró, primeira exposição a reunir vinte artistas racializadas em uma
galeria comercial para apresentar e discutir a produção de corpos dissidentes
dentro do mercado de arte. Foi curadora adjunta da 13ª edição da Bienal do
Mercosul (2022) e coordenadora da residência artística Usina Luis Maluf.
O Núcleo de Fotografia do MIS tem
como Patrono o Goldman Sachs. A programação é uma realização do Ministério da
Cultura, Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura,
Economia e Indústria Criativas de São Paulo, e Museu da Imagem e do Som, por
meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. O MIS tem como mantenedora a
empresa B3 e tem o apoio institucional das empresas Kapitalo Investimentos,
Vivo, Grupo Travelex Confidence, Grupo Veneza, John Deere, TozziniFreire
Advogados, Siemens e Lenovo. O apoio operacional é da Telium, Kaspersky,
Pestana Hotel Group.
Serviço
Nova Fotografia 2023 - Parte 2
Local: Museu da
Imagem e do Som (MIS) | Espaço Maureen Bisilliat (Expositivo térreo)
Avenida
Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo
Período: de 26.09 a 12.11.2023
Ingresso:
gratuito
Classificação:
livre
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