Claudio Brites,
professor de Psicologia da Unicid, explica os princípios dessa forma de se
relacionar e os cuidados para quem for adotar
Há quem
diga que anda cada vez mais difícil se relacionar ou encontrar alguém na mesma “vibe” nos tempos atuais. E
nessa busca por um amor em tempos líquidos e contatos rasos, um termo vem se
tornando tendência de relacionamento: o harballing.
Mas e você,
já ouviu falar ou vive um hardballing?
Em alta na geração Z e Millenials, o termo inglês traduzido para português
significa “jogar pesado”. De acordo com o professor de Psicologia da
Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), Claudio Brites, a ideia nesse modelo
de comunicação é dizer logo de cara o que se espera da relação que está sendo
estabelecida. “Amizade? Namoro? Algo casual? Deve ser sempre objetivo a demanda
do tipo de pessoa que se acredita querer, uma ação dentro do pacote da tão
falada responsabilidade afetiva. E como a própria palavra já enuncia: você joga
pesado com total sinceridade. Ou seja, se quer só uma coisa pontual, diz e
pronto”.
Brites
salienta que, embora esse formato de relacionamento pareça algo novo e criado pelas
gerações do século XXI, muitas pessoas já vêm adotando essa postura no mundo a
fora e mesmo outras culturas, para além da brasileira, já costumam ser mais
sinceras no jogo da conquista. “Esse rodeio nas relações é muito comum no nosso
país, mas em outros países é impensável e gera extrema frustração das partes.
Aliás, essa é uma questão no hardballing:
evitar frustrações”.
A aparente
vantagem de aplicar essa estratégia de relacionamento, segundo o psicológico
Claudio, é devido esse formato ter como princípio a sinceridade com o que se
quer do outro na relação. “Se você conseguir usar esse tipo de abordagem, mesmo
sabendo que esse não é um antídoto para frustrações ou mudanças futuras, poderá
encontrar uma forma de demonstrar a tão buscada responsabilidade afetiva com o
outro e consigo”.
Aliás,
segundo o professor, tanto a responsabilidade afetiva quanto o hardballing vêm sendo
impulsionados como tendência de relacionamento entre os jovens é a dificuldade
de lidar com frustrações e a ansiedade advinda do fato que a vida não é algo
que está totalmente sob controle. “É uma geração que tem ânsia para saber tudo
que o outro espera e dizer tudo o que quer, pois, por meio dessa ação, teria a
percepção de que talvez as coisas fiquem sob controle. Fora isso, temos uma
sociedade que não quer ‘perder tempo’ com coisas que ‘não dão em nada’; e de
algum modo, quando se vai direto ao ponto, há essa ilusão de que irá investir
em algo mais ‘certeiro’”, destaca.
Entretanto,
Brites aponta que também é preciso tomar cuidado ao adotar essa tendência.
“Primeiramente, os indivíduos têm que saber que, mesmo falando tudo o que
deseja da e para a pessoa, e o outro também informando cada detalhe do que
espera, esses desejos podem mudar no processo. É importante estar aberto para
isso e ser flexível diante dessa ‘alteração nos termos’ e saber lidar com a
frustração caso tenha, afinal, não é não. Até porque, muito do ‘direto ao
ponto’ vem do medo de mulheres, principalmente, terem que lidar com a violência
de homens que não sabem lidar com quebras em suas expectativas”.
Claudio
reforça ainda que a decisão de operar essa forma de relacionamento é uma
mudança na demonstração de afetos e na abordagem do que esperamos das relações.
“Um alerta aqui é o quanto essa postura tida como direta pode não só nos tornar
rígidos em nossas expectativas, não assumindo riscos na escolha das pessoas nas
quais desejamos investir, mas também o quanto isso problematiza ainda mais
nossa atitude de tornar o outro um objeto a ser consumido ou em um prestador de
serviço que deve arcar com aquilo que foi contratado para fazer”.
Por fim, o
professor de Psicologia da Unicid diz que o hardballing
não tem um público específico, é como qualquer outra tendência e interação, que
insere a pessoa em um universo e a coloca em contato com outras que estão lá.
“Cada um tem uma forma de conhecer pessoas, pode ser o método de uma pessoa,
mas também pode ser um modo de não conhecer tantas outras. E isso não é só no hardballing, é em qualquer forma
de abordagem. Se está à vontade em abordar e ser abordado assim, de forma
direta, bem, talvez seja indicado para você”.
Universidade Cidade de São Paulo – Unicid
Nenhum comentário:
Postar um comentário