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sábado, 16 de setembro de 2023

Entenda o hardballing: forma de relacionamento que promete evitar frustrações

Claudio Brites, professor de Psicologia da Unicid, explica os princípios dessa forma de se relacionar e os cuidados para quem for adotar


Há quem diga que anda cada vez mais difícil se relacionar ou encontrar alguém na mesma “vibe” nos tempos atuais. E nessa busca por um amor em tempos líquidos e contatos rasos, um termo vem se tornando tendência de relacionamento: o harballing. 

Mas e você, já ouviu falar ou vive um hardballing? Em alta na geração Z e Millenials, o termo inglês traduzido para português significa “jogar pesado”. De acordo com o professor de Psicologia da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), Claudio Brites, a ideia nesse modelo de comunicação é dizer logo de cara o que se espera da relação que está sendo estabelecida. “Amizade? Namoro? Algo casual? Deve ser sempre objetivo a demanda do tipo de pessoa que se acredita querer, uma ação dentro do pacote da tão falada responsabilidade afetiva. E como a própria palavra já enuncia: você joga pesado com total sinceridade. Ou seja, se quer só uma coisa pontual, diz e pronto”. 

Brites salienta que, embora esse formato de relacionamento pareça algo novo e criado pelas gerações do século XXI, muitas pessoas já vêm adotando essa postura no mundo a fora e mesmo outras culturas, para além da brasileira, já costumam ser mais sinceras no jogo da conquista. “Esse rodeio nas relações é muito comum no nosso país, mas em outros países é impensável e gera extrema frustração das partes. Aliás, essa é uma questão no hardballing: evitar frustrações”. 

A aparente vantagem de aplicar essa estratégia de relacionamento, segundo o psicológico Claudio, é devido esse formato ter como princípio a sinceridade com o que se quer do outro na relação. “Se você conseguir usar esse tipo de abordagem, mesmo sabendo que esse não é um antídoto para frustrações ou mudanças futuras, poderá encontrar uma forma de demonstrar a tão buscada responsabilidade afetiva com o outro e consigo”. 

Aliás, segundo o professor, tanto a responsabilidade afetiva quanto o hardballing vêm sendo impulsionados como tendência de relacionamento entre os jovens é a dificuldade de lidar com frustrações e a ansiedade advinda do fato que a vida não é algo que está totalmente sob controle. “É uma geração que tem ânsia para saber tudo que o outro espera e dizer tudo o que quer, pois, por meio dessa ação, teria a percepção de que talvez as coisas fiquem sob controle. Fora isso, temos uma sociedade que não quer ‘perder tempo’ com coisas que ‘não dão em nada’; e de algum modo, quando se vai direto ao ponto, há essa ilusão de que irá investir em algo mais ‘certeiro’”, destaca. 

Entretanto, Brites aponta que também é preciso tomar cuidado ao adotar essa tendência. “Primeiramente, os indivíduos têm que saber que, mesmo falando tudo o que deseja da e para a pessoa, e o outro também informando cada detalhe do que espera, esses desejos podem mudar no processo. É importante estar aberto para isso e ser flexível diante dessa ‘alteração nos termos’ e saber lidar com a frustração caso tenha, afinal, não é não. Até porque, muito do ‘direto ao ponto’ vem do medo de mulheres, principalmente, terem que lidar com a violência de homens que não sabem lidar com quebras em suas expectativas”.  

Claudio reforça ainda que a decisão de operar essa forma de relacionamento é uma mudança na demonstração de afetos e na abordagem do que esperamos das relações. “Um alerta aqui é o quanto essa postura tida como direta pode não só nos tornar rígidos em nossas expectativas, não assumindo riscos na escolha das pessoas nas quais desejamos investir, mas também o quanto isso problematiza ainda mais nossa atitude de tornar o outro um objeto a ser consumido ou em um prestador de serviço que deve arcar com aquilo que foi contratado para fazer”. 

Por fim, o professor de Psicologia da Unicid diz que o hardballing não tem um público específico, é como qualquer outra tendência e interação, que insere a pessoa em um universo e a coloca em contato com outras que estão lá. “Cada um tem uma forma de conhecer pessoas, pode ser o método de uma pessoa, mas também pode ser um modo de não conhecer tantas outras. E isso não é só no hardballing, é em qualquer forma de abordagem. Se está à vontade em abordar e ser abordado assim, de forma direta, bem, talvez seja indicado para você”. 

 

Universidade Cidade de São Paulo – Unicid


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