Em pleno século
XXI nos deparamos ainda com situações, no mínimo, constrangedoras em relação à
discriminação feminina. Um exemplo, foi o relato chocante em redes sociais, da
capixaba que denunciou a discriminação em seu processo de busca por uma vaga de
emprego.
O fato de ser
mãe, segundo o recrutador, era um impeditivo para a contratação, verbalizado
pela frase: “sempre é difícil contratar alguém com
filhos”. Questionando inclusive, “a rotina de tantos compromissos de um
desempregado”.
Situação que, após
a exposição pública pela vítima, causou muita indignação e constatou que, ainda
existe o preconceito e discriminação velados em relação à maternidade, escolha
do candidato ideal para a vaga e ao desempenho da mulher no mercado de
trabalho.
O universo
feminino sempre vai suscitar uma série de reflexões. Mas quero me atentar a um
tipo de pressão social psicológica muito comum e falsamente inocente, que cobra
e impõe regras em cada etapa da vida das mulheres. Proponho uma reflexão sobre
os impactos psicológicos que essa pressão acarreta, especialmente, quando
confrontamos as expectativas da maternidade com a realidade que ela impõe.
A sociedade acaba
julgando essas mulheres, independente, de suas decisões e podando-as conforme
essas mesmas decisões. Onde está escrito que a mulher com filhos, é menos
produtiva que a mulher que não possui filhos? Onde está escrito que ter o
momento de cuidar da família, verbalizado inclusive como resposta ao insensível
recrutador, é algo errado ou inaceitável? Ou seja, a realidade mostra que, para
ser mãe a mulher enfrenta ainda em tempos atuais, insegurança, retalhações e
desmotivações por pressões alheias.
O desejo por uma
realização profissional, mesmo em um universo que cultua o patriarcado, ainda é
um grande desafio para essa mulher que busca seu lugar ao sol, com muito
respeito e os mesmos direitos. No entanto, assim como esse episódio triste,
muitas histórias escondidas embaixo do tapete, apontam a falta de respeito,
empatia e generosidade para acolher a mulher na dinâmica diária de ser mãe,
profissional e mulher.
Dores que, muitas
vezes, levam a desenvolver sofrimento psíquico, como: ansiedade, depressão,
pânico, transtornos alimentares, entre outros transtornos, decorrentes da
rejeição e complexo de inferioridade estimulados por situações constrangedoras
como essa denunciada pela candidata em questão.
Na verdade, o que
vemos é que a pressão que as mulheres enfrentam não tem nada a ver apenas com
a cobrança em relação a entrega profissional delas, mas sim passa por um
questionamento social constante e massacrante, que não leva em conta seus
desejos, suas vontades e sua capacidade de se virar em múltiplas tarefas,
podendo ser mãe, esposa, filha, trabalhadora exemplar e mulher ao mesmo tempo.
Como consequência,
vemos a autoestima ferida e a aniquilação do querer desta mulher. Arrisco até a
dizer, obrigando-a ignorar e não aceitar o chamado maternal, que é inerente a
toda mulher. Desrespeitando a lei da vida que deixa claro que esse chamado faz
parte da essência de cada alma feminina.
Portanto, o respeito pela maternidade, pela capacitação e acolhimento de cada mulher, é urgente. Nossa bagagem de vida, nossos sonhos, desejos, medos e angústias, falam por nós e ela pode ser mãe e ser produtiva ao mesmo tempo. Quem disse que não? Que os conceitos sociais e corporativos sejam revistos e que o acolhimento e respeito seja peça número um de todo e qualquer processo seletivo, independente de raça ou gênero.
Andrea Ladislau - Psicanalista (SPM); Doutora em Psicanálise, membro da Academia Fluminense de Letras –cadeira de número 15 de Ciências Sociais; administradora hospitalar e gestão em saúde (AIEC/Estácio); pós-graduada em Psicopedagogia e Inclusão Social (Facei); professora na graduação em Psicanálise; embaixadora e diplomata In The World Academy of Human Sciences US Ambassador In Niterói; membro do Conselho de Comissão de Ética e Acompanhamento Profissional do Instituto Miesperanza; professora associada no Instituto Universitário de Pesquisa em Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo; professora associada do Departamento de Psicanálise du Saint Peter and Saint Paul Lutheran Institute au Canada, situado em souhaites; graduada em Letras - Português e Inglês pela PUC de Belo Horizonte.
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