Estudo inédito desenvolvido pelo Portal Solar, franqueadora de projetos fotovoltaicos no País, indica que a demanda extra por energia elétrica no Brasil, decorrente da eletrificação da frota de veículos e da produção de hidrogênio verde, deve movimentar o mercado nacional de energia solar em cerca de R$ 2,2 trilhões até 2050.
O
relatório aponta que a energia solar deve ser protagonista nesse cenário de
demanda adicional que virá nas próximas três décadas, oriundo da
descarbonização das economias, tendo a necessidade de adicionar cerca de 540 GW
em sistemas fotovoltaicos, sejam centralizados e distribuídos, bem como a
aplicação de baterias para armazenamento energético.
Embora outras fontes renováveis devam crescer para acompanhar a nova onda de
demanda por energia no País, a solar fotovoltaica se configura como uma das
mais competitivas e atrativas neste cenário que se avizinha.
O estudo, feito a partir de cruzamento de dados oficiais e projeções de
entidades setoriais, órgãos de governo e institutos internacionais, destaca,
por exemplo, a queda dos preços de equipamentos fotovoltaicos, a melhora na
geração por metro quadrado das placas solares e os projetos de rápida
instalação e de baixo custo da geração descentralizada, o que fazem da solar a
tecnologia mais adequada para atender o crescimento exponencial do
consumo.
“Em razão de exigências ambientais, custos de investimentos e possibilidade de geração
elétrica próxima ou junto ao local de consumo, a energia solar fotovoltaica se
posiciona, portanto, como a tecnologia mais viável para atender esse
crescimento de demanda”, explica Rodolfo Meyer, CEO do Portal Solar.
O executivo lembra que diversos fatores em conjunto fizeram com que o mercado
de energia solar crescesse 36 mil vezes no Brasil entre 2012 e 2023, saindo de
8 MW para quase 30 GW de capacidade instalada, colocando a fonte solar
fotovoltaica como a segunda maior da matriz elétrica, atrás apenas da hídrica,
com aproximadamente 110 GW.
“A resolução normativa 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que
criou o mercado de geração distribuída, abriu o caminho para que combinação
entre a inflação das tarifas de energia e a redução de custos dos equipamentos
fotovoltaicos catapultassem o crescimento vertiginoso da energia solar no
País”, explica Meyer.
Há também o avanço tecnológico do mercado internacional. Conforme dados da
Agência Internacional para as Energias Renováveis (IRENA), o preço dos painéis
solares caiu 90% no mercado global entre 2010 e 2019. Na última década, esses
equipamentos também passaram a gerar 80% mais energia por metro quadrado.
Paralelamente, a tarifa média da classe residencial explodiu no Brasil, saindo
de R$ 284,67/MWh para R$ 632,62/MWh entre 2013 e 2022, segundo evolução
histórica da Aneel, um aumento de mais de 122%.
MIGRAÇÃO DA FROTA
O estudo elaborado pelo Portal Solar aponta que a transição energética total da
atual frota de veículos circulantes do Brasil traria uma demanda adicional de
403 terawatts-hora/ano (TWh/ano), um volume que se aproxima da capacidade total
de geração energia elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN) e exigiria o
equivalente a cinco novas hidrelétricas de Itaipu.
Uma matéria da Bloomberg New Energy Finance (BNEF) indica que os veículos
elétricos deverão se tornar mais baratos que veículos a combustão por volta de
2027. O ponto de paridade indica o momento em que os fabricantes poderão
construir e vender os dois tipos de automóveis com a mesma margem, assumindo
que não existam subsídios.
As tecnologias de carregamento também avançaram muito. Conforme publicação da
Agência Internacional de Energia (IEA), em 2022, mais de 900 mil pontos de
carregamentos públicos foram instalados globalmente, representando um
crescimento de 55% em relação a 2021. Atualmente, o país que mais investe nesse
mercado é a China.
“Uma vez que todos os grandes fabricantes automotivos já estão colocando em
prática a migração de suas linhas de produção para veículos elétricos, a
transição da frota de veículos se torna eminente no mundo, incluindo no
Brasil”, diz o CEO do Portal Solar.
Segundo a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), a frota de
veículos elétricos do País saltou de 77 mil para 126 mil de 2021 para 2022. A
associação reporta também que, no primeiro trimestre de 2023, as vendas
cresceram 55% em relação ao mesmo período do ano passado, levando a frota de
veículos elétricos para mais de 140 mil carros em circulação.
“Embora ainda pequeno, esse mercado tem uma curva de crescimento que se
assimila a registrada em revoluções tecnológicas anteriores, como nos mercados
de chips, internet, smartphones e painéis solares. Agora, chegou a vez dos
veículos elétricos, baterias e hidrogênio verde”, afirma Meyer.
Segundo dados do Ministério dos Transportes, da Secretaria Nacional de Trânsito
(SENATRAN) e do Registro Nacional de Veículos Automotores (RENAVAN) existem
aproximadamente 120 milhões de veículos automotores no país.
De acordo com o Relatório da Frota Circulante (2023) publicado pelo Sindicato
Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) e
pela Associação Brasileira da Indústria de Autopeças (Abipeças),
aproximadamente 60 milhões desses veículos, metade do total, estão efetivamente
circulando nas ruas diariamente.
Com base na quilometragem média por classe de veículos circulantes, o Portal
Solar, estima que a migração total da frota trará uma demanda de energia
adicional de 403 TWh/ano. Considerando o fator de capacidade médio de 17% dos
sistemas fotovoltaicos residenciais, isso representará uma necessidade
adicional de 270 GW de capacidade instalada na matriz energética
brasileira.
A maior parte dessa demanda de energia, aproximadamente 75%, virá de ônibus e
caminhões, que rodam mais quilômetros por ano e possuem eficiência energética
menor, devido ao peso. Carros representariam aproximadamente 17%. Motos menos
de 2%.
HIDROGÊNIO VERDE
O estudo destaca ainda que a demanda de energia no País irá aumentar por uma
série de outros fatores além eletrificação da frota de veículos, entre eles o
crescimento do PIB, a eletrificação de outros setores, como a indústria, e a
“nova onda” mundial do hidrogênio verde.
Segundo matéria publicada no Estado de São Paulo em 13 de junho de 2023, a
presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em visita ao Brasil,
anunciou que o bloco vai investir o equivalente a R$ 10,5 bilhões no País para
produção de hidrogênio verde, considerado o combustível mais limpo do mundo, porém
altamente intensivo em energia.
O composto, produzido no processo de eletrólise da água, tem três vezes mais
energia que a gasolina e atrai a atenção de grandes empresas.
Segundo artigo publicado pela McKinsey, o Brasil pode se tornar um dos líderes
mundiais na produção de hidrogênio verde dado seu potencial de energia eólica e
solar abundante, um sistema elétrico integrado e de baixo carbono e uma posição
geográfica vantajosa para alcançar a Europa e a costa leste norte-americana,
além de uma relevante indústria doméstica.
De acordo com Luiz Piauhylino Filho, da Secretaria de Hidrogênio Verde (SHV) do
Instituto Nacional de Energia Limpa (INEL), a Europa, por exemplo, precisará
instalar 3.350 GW de energia renovável para viabilizar a eletrificação e
produção de hidrogênio verde, necessárias para atingir a meta de
descarbonização até 2050. Porém, o continente europeu só tem capacidade de
instalar 20% desse total.
Segundo relatório do Portal Solar, se o Brasil quiser atender 10% dessa
demanda, teria que instalar 268 GW adicionais de projetos renováveis para a
produção de hidrogênio verde e seus derivados nos próximos 27 anos. Este
cenário desconsidera a necessidade de investimento para servir ao mercado
doméstico – em particular o transporte de carga por caminhões, a siderurgia e
outros usos energéticos industriais.
O estudo do Portal Solar, acima de tudo, apresenta o panorama do futuro que já
começa a se formatar, demonstrando o verdadeiro tamanho potencial do mercado de
energia solar no Brasil. O artigo, ao fundamentar o cenário com dados e
projeções de entidades de classe nacionais e internacionais, traça um breve
roteiro para ajudar os participantes do mercado a desbloquear todo o potencial
do setor.
Portal Solar
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