IMAGEM: Prefeitura de SP/divulgação
Estrutura adotada predominantemente por bares e restaurantes poderia ser adaptada para lojas de brinquedos, livrarias infantis, calçadas repletas de muros ou mesmo outros tipos de estabelecimentos comerciais
Em outubro de 2021, a Urbit,
consultoria especializada em informações territoriais, divulgou um ranking dos
melhores bairros para crianças em São Paulo.
De acordo com o levantamento,
que levou em consideração variáveis como proporção de crianças em escolas,
acesso a parques, qualidade das calçadas, cobertura vegetal, roubos e furtos de
celulares, entre outras, o Jaraguá ficou na primeira posição, seguido por Santo
Amaro, Pirituba, Alto de Pinheiros e Barra Funda.
Ainda não tive acesso a
detalhes do cálculo do indicador e de todas as variáveis que resultaram no
ranking, mas garanto, por experiência própria, que a proximidade de hospitais e
a existência de centros culturais, livrarias infantis ou mesmo lojas de
brinquedos também ajudam bastante no dia a dia com os pequenos.
Em outro artigo aqui no Diário
do Comércio (Por que é desejável pagar mais caro
por livros em lojas de rua?), chamei atenção ao fato de que as
livrarias de rua, ainda que empreendimentos privados, geram preciosos
benefícios para a cidade, uma vez que são espaços de convivência, de
permanência e de encontros que trazem movimento para o bairro e para as
calçadas.
O mesmo pode ser dito das
livrarias infantis e de muitas lojas de brinquedos. Na Vila Pompeia, onde moro,
por exemplo, tenho o privilégio de contar, no quarteirão de casa, com a Roda
Gigante Brinquedos.
Mais do que simplesmente vender
brinquedos, a loja disponibiliza um espaço incrível onde as crianças podem ler,
brincar e participar de atividades de musicalização e contação de histórias,
oferecidas especialmente no período de férias escolares.
Com uma enorme quantidade e
diversidade de brinquedos, uma decoração de muito bom gosto, é um lugar bem
agradável para se passar um tempo – mesmo para quem não é criança. Sem falar da
simpatia e da atenção dos vendedores.
Ali pertinho, abriram as portas
em 2021 as Livrarias Miúda e Pé de Livro,
especializadas em literatura infantil e que costumam realizar eventos de
lançamento, encontros de leitura, oficinas criativas e contações de histórias.
São também dois ótimos espaços para passar um tempo com as crianças, explorar
com elas as obras do gênero e estimular nos pequenos o saudável hábito de
leitura.
Uma vez que estou falando da
Pompeia, não poderia deixar de mencionar o icônico SESC e seu
incrível espaço de brincar; e a Gelateria Primo Amore, que, além
dos deliciosos sorvetes artesanais, oferece aos clientes uma excelente
brinquedoteca por um preço bem razoável (coisa de 10 reais a hora, muito mais
barata do que serviços semelhantes oferecidos em shoppings, por exemplo).
Pegando o carro, as
possibilidades, é claro, aumentam bastante: dá para chegar rapidinho (menos de
10 minutos), por exemplo, no Parque Sabesp (ótimo para
piqueniques ou festas ao ar livre), no famoso Parque da Água Branca (o
preferido do meu filho mais velho), na Praça Horácio Sabino (ótimo
espaço, mas que está precisando de uma bela manutenção) ou na discreta Praça
Jesuíno Bandeira, na vizinha Vila Romana, que conta com uns escorregadores
diferentes do que costumamos ver nas pracinhas convencionais. Para comer,
também na Vila Romana, uma ótima opção é o Projeto Burguer, com um
brinquedão que as crianças adoram!
Bom, mas, apesar de o bairro
ser bastante arborizado, ter calçadas largas (embora muitas sejam irregulares
ou precisem de reparos), muitas escolas e ainda contar com os estabelecimentos
que mencionei, sinto falta de uma praça para ir a pé por ali, de uma área
pública ao ar livre, com brinquedos, para frequentar no dia a dia com as
crianças.
As mais próximas de casa ficam
a mais de um quilômetro de distância, o que pode parecer pouco para um adulto
saudável, mas representa uma enorme caminhada para crianças com menos de quatro
ou cinco anos, especialmente se levarmos em consideração a topografia do
bairro, com suas famosas ladeiras.
Como outros bairros do centro
expandido da capital, a Vila Pompeia não conta mais com terrenos disponíveis
para implantação de parques e praças – e os preços altos dos imóveis na região
inviabilizam qualquer iniciativa de se adquirir espaços para este fim.
Este problema não é exclusivo
de São Paulo e aparece em diversas grandes cidades pelo mundo. Neste contexto,
uma das soluções encontradas em muitos locais foi a implantação de pequenos
parques em sobras de terreno ou mesmo os parklets, já bastante disseminados
pela capital paulista.
Em relação às sobras de
terreno, embora nem sempre visíveis, pois estão escondidas atrás de muros e
grades, elas são resultado de legislações urbanas problemáticas (exigência de
recuos frontais e laterais nas construções, por exemplo) e do perfil das construções,
de maneira geral pouco preocupadas com seu impacto no entorno.
Parece-me que, além da
identificação destes espaços e da vontade de transformá-los, faltam também
incentivos econômicos (desconto no IPTU, transferência de potencial
construtivo?) para que estas áreas privadas e sem uso sejam disponibilizadas ao
público. Até porque, como eu disse, são áreas privadas, de forma que precisaria
haver algum tipo de compensação aos proprietários por parte da prefeitura, uma
vez que eles é que ficariam responsáveis por questões como manutenção e
segurança destes espaços (privados de uso público), por mais que a comunidade
se envolva no processo.
Mesmo no caso de prédios novos,
porém, que se beneficiam da legislação atual, a qual prevê incentivos à fruição
pública nos eixos de estruturação da transformação urbana, sinto falta de maior
interlocução entre as incorporadoras e a população local. Afinal, caso houvesse
maior diálogo, a fruição pública dos muitos prédios que estão subindo no
entorno da futura estação SESC-Pompeia da linha 6-Laranja do Metrô poderia ter
sido planejada de acordo com as necessidades da vizinhança.
Na Rua Harmonia, ali perto da
Vila Pompeia, a discreta e charmosíssima Praça Harmonia dos Sentidos,
um refúgio verde e silencioso em meio aos muitos novos prédios da via, me
parece um ótimo exemplo do que é possível fazer em pouco espaço e com
envolvimento da comunidade. Vale também uma visita!
Deixo também aqui a sugestão do vídeo do canal Not
Just Bikes que mostra como Amsterdã transformou pequenas áreas da cidade em
parques infantis.
Já os parklets, para quem ainda
não conhece, são áreas contíguas às calçadas, onde são construídas estruturas a
fim de criar espaços de lazer e convívio no lugar de vagas de estacionamento de
carros.
Na Vila Pompeia, mais
especificamente na Rua Desembargador do Vale, um dos principais corredores
comerciais do bairro, praticamente todos os bares e restaurantes já contam com
um em frente ao seu estabelecimento.
O sucesso dos parklets parece
fácil de explicar: se, para a população, eles tornam a rua mais agradável, com
mais gente, oferecendo espaços charmosos no lugar onde antes havia carros, para
os estabelecimentos eles representam uma ampliação da área para receber
clientes, ou seja, mais faturamento.
Diante do sucesso dos parklets
nos bares e restaurantes da cidade, será que já não chegou a hora de testarmos
novos modelos, com novos usos e funções, em frente a outros tipos de
estabelecimentos comerciais?
Eu comentei, por exemplo, que
sinto falta de um parquinho ao ar livre ali perto de casa. Já pensou se a
frente da loja de brinquedos se transformasse neste parquinho? Ou se houvesse
um espaço ali para apresentações de música e teatro para as crianças? Ou se, em
frente às livrarias que mencionei, houvesse uma área pública para leitura,
troca de livros e contação de histórias? Ou mesmo se, naquelas calçadas
esvaziadas pelos muros dos condomínios, fossem instalados este tipo de
equipamento para tentar trazer vida de volta aos espaços?
Pois já tem gente muito boa
pensando em novos usos para os parklets. É o caso do projeto Parklets Art Lab,
que, já lá em 2016, apresentou um Circuito Artístico de Parklets, com versões
especiais de espaços de ocupação urbana como os parklets redário, academia,
meditação, musical e playground. Mais detalhes podem ser vistos neste link.
Eu, pelo menos, contudo, ainda
não vi nenhum destes novos modelos pela cidade. Novamente, como no caso das
sobras de terreno, talvez a decisão dos proprietários e empresários esbarre na
falta de incentivos econômicos: se, no caso dos bares e restaurantes, os
parklets representam ampliação do espaço para atendimento de clientes e mais
faturamento, qual o incentivo para uma loja de brinquedos arcar com um
investimento deste e ainda renunciar a vagas de estacionamento em frente ao
estabelecimento, além do simples desejo de tornar a cidade um lugar mais
agradável para as pessoas?
É aí que pode entrar a
Prefeitura de São Paulo, tentando encontrar, junto aos estabelecimentos
comerciais, os incentivos corretos e as parcerias para que tais melhorias sejam
implementadas.
É por isto que deixei minhas
sugestões sobre os parklets em uma consulta pública sobre “Mobiliários para parquinhos e
espaços de brincar para primeira infância”. Também vou fazer de tudo
para que este artigo chegue aos vereadores da cidade e ao subprefeito da minha
região. Conto também com o apoio dos empreendedores leitores do Diário
do Comércio.
Afinal, acredito muito na ideia
da acupuntura urbana, de que pequenas intervenções pontuais, reversíveis, de
baixo custo e fácil execução são capazes de melhorar, e muito, a vida nos
bairros.
Para
passear pela Vila Pompeia e arredores com os pequenos:
- Roda
Gigante Brinquedos
Rua Desembargador do Vale, 197
– Perdizes
- Pé de
Livro
Rua Tucuna, 298 – Pompeia
- Livraria
Miúda
Rua Coronel Melo de Oliveira,
766 – Pompeia
- Sesc
Pompeia
Rua Clélia, 93 – Pompeia
-
Gelateria Primo Amore
Rua Barão do Bananal, 947 –
Pompeia
- Parque
Sabesp Sumaré
Avenida Professor Alfonso
Bovero – Pompeia
- Parque
da Água Branca
Avenida Franciso Matarazzo, 455
– Água Branca
- Praça
Horácio Sabino
Pinheiros
- Praça
Jesuíno Bandeira
Vila Romana
- Projeto
Burguer
Rua Camilo, 222B - Vila Romana
- Praça
Harmonia dos Sentidos
Rua Harmonia, 985 – Sumarezinho
Vitor França - Economista pela FEA-USP e mestre em economia pela FGV-SP
Fonte https://dcomercio.com.br/publicacao/s/que-tal-testarmos-novos-usos-para-os-parklets-em-sao-paulo:
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