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quinta-feira, 11 de maio de 2023

Que tal testarmos novos usos para os parklets em São Paulo?

IMAGEM: Prefeitura de SP/divulgação

Estrutura adotada predominantemente por bares e restaurantes poderia ser adaptada para lojas de brinquedos, livrarias infantis, calçadas repletas de muros ou mesmo outros tipos de estabelecimentos comerciais

 

Em outubro de 2021, a Urbit, consultoria especializada em informações territoriais, divulgou um ranking dos melhores bairros para crianças em São Paulo.

De acordo com o levantamento, que levou em consideração variáveis como proporção de crianças em escolas, acesso a parques, qualidade das calçadas, cobertura vegetal, roubos e furtos de celulares, entre outras, o Jaraguá ficou na primeira posição, seguido por Santo Amaro, Pirituba, Alto de Pinheiros e Barra Funda.

Ainda não tive acesso a detalhes do cálculo do indicador e de todas as variáveis que resultaram no ranking, mas garanto, por experiência própria, que a proximidade de hospitais e a existência de centros culturais, livrarias infantis ou mesmo lojas de brinquedos também ajudam bastante no dia a dia com os pequenos.

Em outro artigo aqui no Diário do Comércio (Por que é desejável pagar mais caro por livros em lojas de rua?), chamei atenção ao fato de que as livrarias de rua, ainda que empreendimentos privados, geram preciosos benefícios para a cidade, uma vez que são espaços de convivência, de permanência e de encontros que trazem movimento para o bairro e para as calçadas.

O mesmo pode ser dito das livrarias infantis e de muitas lojas de brinquedos. Na Vila Pompeia, onde moro, por exemplo, tenho o privilégio de contar, no quarteirão de casa, com a Roda Gigante Brinquedos.

Mais do que simplesmente vender brinquedos, a loja disponibiliza um espaço incrível onde as crianças podem ler, brincar e participar de atividades de musicalização e contação de histórias, oferecidas especialmente no período de férias escolares.

Com uma enorme quantidade e diversidade de brinquedos, uma decoração de muito bom gosto, é um lugar bem agradável para se passar um tempo – mesmo para quem não é criança. Sem falar da simpatia e da atenção dos vendedores.

Ali pertinho, abriram as portas em 2021 as Livrarias Miúda e Pé de Livro, especializadas em literatura infantil e que costumam realizar eventos de lançamento, encontros de leitura, oficinas criativas e contações de histórias. São também dois ótimos espaços para passar um tempo com as crianças, explorar com elas as obras do gênero e estimular nos pequenos o saudável hábito de leitura.

Uma vez que estou falando da Pompeia, não poderia deixar de mencionar o icônico SESC e seu incrível espaço de brincar; e a Gelateria Primo Amore, que, além dos deliciosos sorvetes artesanais, oferece aos clientes uma excelente brinquedoteca por um preço bem razoável (coisa de 10 reais a hora, muito mais barata do que serviços semelhantes oferecidos em shoppings, por exemplo).

Pegando o carro, as possibilidades, é claro, aumentam bastante: dá para chegar rapidinho (menos de 10 minutos), por exemplo, no Parque Sabesp (ótimo para piqueniques ou festas ao ar livre), no famoso Parque da Água Branca (o preferido do meu filho mais velho), na Praça Horácio Sabino (ótimo espaço, mas que está precisando de uma bela manutenção) ou na discreta Praça Jesuíno Bandeira, na vizinha Vila Romana, que conta com uns escorregadores diferentes do que costumamos ver nas pracinhas convencionais. Para comer, também na Vila Romana, uma ótima opção é o Projeto Burguer, com um brinquedão que as crianças adoram!

Bom, mas, apesar de o bairro ser bastante arborizado, ter calçadas largas (embora muitas sejam irregulares ou precisem de reparos), muitas escolas e ainda contar com os estabelecimentos que mencionei, sinto falta de uma praça para ir a pé por ali, de uma área pública ao ar livre, com brinquedos, para frequentar no dia a dia com as crianças.

As mais próximas de casa ficam a mais de um quilômetro de distância, o que pode parecer pouco para um adulto saudável, mas representa uma enorme caminhada para crianças com menos de quatro ou cinco anos, especialmente se levarmos em consideração a topografia do bairro, com suas famosas ladeiras.

Como outros bairros do centro expandido da capital, a Vila Pompeia não conta mais com terrenos disponíveis para implantação de parques e praças – e os preços altos dos imóveis na região inviabilizam qualquer iniciativa de se adquirir espaços para este fim.

Este problema não é exclusivo de São Paulo e aparece em diversas grandes cidades pelo mundo. Neste contexto, uma das soluções encontradas em muitos locais foi a implantação de pequenos parques em sobras de terreno ou mesmo os parklets, já bastante disseminados pela capital paulista.

Em relação às sobras de terreno, embora nem sempre visíveis, pois estão escondidas atrás de muros e grades, elas são resultado de legislações urbanas problemáticas (exigência de recuos frontais e laterais nas construções, por exemplo) e do perfil das construções, de maneira geral pouco preocupadas com seu impacto no entorno.

Parece-me que, além da identificação destes espaços e da vontade de transformá-los, faltam também incentivos econômicos (desconto no IPTU, transferência de potencial construtivo?) para que estas áreas privadas e sem uso sejam disponibilizadas ao público. Até porque, como eu disse, são áreas privadas, de forma que precisaria haver algum tipo de compensação aos proprietários por parte da prefeitura, uma vez que eles é que ficariam responsáveis por questões como manutenção e segurança destes espaços (privados de uso público), por mais que a comunidade se envolva no processo.

Mesmo no caso de prédios novos, porém, que se beneficiam da legislação atual, a qual prevê incentivos à fruição pública nos eixos de estruturação da transformação urbana, sinto falta de maior interlocução entre as incorporadoras e a população local. Afinal, caso houvesse maior diálogo, a fruição pública dos muitos prédios que estão subindo no entorno da futura estação SESC-Pompeia da linha 6-Laranja do Metrô poderia ter sido planejada de acordo com as necessidades da vizinhança.

Na Rua Harmonia, ali perto da Vila Pompeia, a discreta e charmosíssima Praça Harmonia dos Sentidos, um refúgio verde e silencioso em meio aos muitos novos prédios da via, me parece um ótimo exemplo do que é possível fazer em pouco espaço e com envolvimento da comunidade. Vale também uma visita!

Deixo também aqui a sugestão do vídeo do canal Not Just Bikes que mostra como Amsterdã transformou pequenas áreas da cidade em parques infantis.

Já os parklets, para quem ainda não conhece, são áreas contíguas às calçadas, onde são construídas estruturas a fim de criar espaços de lazer e convívio no lugar de vagas de estacionamento de carros.

Na Vila Pompeia, mais especificamente na Rua Desembargador do Vale, um dos principais corredores comerciais do bairro, praticamente todos os bares e restaurantes já contam com um em frente ao seu estabelecimento.

O sucesso dos parklets parece fácil de explicar: se, para a população, eles tornam a rua mais agradável, com mais gente, oferecendo espaços charmosos no lugar onde antes havia carros, para os estabelecimentos eles representam uma ampliação da área para receber clientes, ou seja, mais faturamento.

Diante do sucesso dos parklets nos bares e restaurantes da cidade, será que já não chegou a hora de testarmos novos modelos, com novos usos e funções, em frente a outros tipos de estabelecimentos comerciais?

Eu comentei, por exemplo, que sinto falta de um parquinho ao ar livre ali perto de casa. Já pensou se a frente da loja de brinquedos se transformasse neste parquinho? Ou se houvesse um espaço ali para apresentações de música e teatro para as crianças? Ou se, em frente às livrarias que mencionei, houvesse uma área pública para leitura, troca de livros e contação de histórias? Ou mesmo se, naquelas calçadas esvaziadas pelos muros dos condomínios, fossem instalados este tipo de equipamento para tentar trazer vida de volta aos espaços?

Pois já tem gente muito boa pensando em novos usos para os parklets. É o caso do projeto Parklets Art Lab, que, já lá em 2016, apresentou um Circuito Artístico de Parklets, com versões especiais de espaços de ocupação urbana como os parklets redário, academia, meditação, musical e playground. Mais detalhes podem ser vistos neste link.

Eu, pelo menos, contudo, ainda não vi nenhum destes novos modelos pela cidade. Novamente, como no caso das sobras de terreno, talvez a decisão dos proprietários e empresários esbarre na falta de incentivos econômicos: se, no caso dos bares e restaurantes, os parklets representam ampliação do espaço para atendimento de clientes e mais faturamento, qual o incentivo para uma loja de brinquedos arcar com um investimento deste e ainda renunciar a vagas de estacionamento em frente ao estabelecimento, além do simples desejo de tornar a cidade um lugar mais agradável para as pessoas?

É aí que pode entrar a Prefeitura de São Paulo, tentando encontrar, junto aos estabelecimentos comerciais, os incentivos corretos e as parcerias para que tais melhorias sejam implementadas.

É por isto que deixei minhas sugestões sobre os parklets em uma consulta pública sobre “Mobiliários para parquinhos e espaços de brincar para primeira infância”. Também vou fazer de tudo para que este artigo chegue aos vereadores da cidade e ao subprefeito da minha região. Conto também com o apoio dos empreendedores leitores do Diário do Comércio.

Afinal, acredito muito na ideia da acupuntura urbana, de que pequenas intervenções pontuais, reversíveis, de baixo custo e fácil execução são capazes de melhorar, e muito, a vida nos bairros.


Para passear pela Vila Pompeia e arredores com os pequenos:

- Roda Gigante Brinquedos

Rua Desembargador do Vale, 197 – Perdizes

- Pé de Livro

Rua Tucuna, 298 – Pompeia

- Livraria Miúda

Rua Coronel Melo de Oliveira, 766 – Pompeia

- Sesc Pompeia

Rua Clélia, 93 – Pompeia

- Gelateria Primo Amore

Rua Barão do Bananal, 947 – Pompeia

- Parque Sabesp Sumaré

Avenida Professor Alfonso Bovero – Pompeia

- Parque da Água Branca

Avenida Franciso Matarazzo, 455 – Água Branca

- Praça Horácio Sabino

Pinheiros

- Praça Jesuíno Bandeira

Vila Romana

- Projeto Burguer

Rua Camilo, 222B - Vila Romana

- Praça Harmonia dos Sentidos

Rua Harmonia, 985 – Sumarezinho

 

Vitor França - Economista pela FEA-USP e mestre em economia pela FGV-SP
Fonte https://dcomercio.com.br/publicacao/s/que-tal-testarmos-novos-usos-para-os-parklets-em-sao-paulo:


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