Idosos enfrentam
longa internação hospitalar após ataques cardíacos, enquanto pacientes sem
sequelas são considerados verdadeiros milagres
Administrar uma loja de ferragens, passar mais
tempo em família e reservar finais de semana para curtir a praia com a esposa.
Até o dia 18 de março, a vida do comerciante Emilio Gaspari Filho, de 71 anos,
era bastante ativa e rodeada por pregos, parafusos e acabamentos residenciais.
Uma rotina intensa que foi interrompida inesperadamente por um infarto agudo do
miocárdio, que evoluiu para um tromboembolismo pulmonar. Em estado grave,
Emilio precisou travar uma batalha incansável enquanto permanecia internado no
Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba (PR). Foram 42 dias, entre
cateterismo, intubação, traqueostomia e angioplastia, até receber a notícia
mais aguardada: estava pronto para voltar para casa e sem nenhuma
sequela.
"Senti uma dor no peito, uma leve falta de ar
e uma sensação parecida com a de uma indigestão. Não imaginava que fosse motivo
para ir até o hospital", relata Emilio. Com o olhar atento e preocupado,
foi a filha e enfermeira Ana Paula Gaspari que o levou até uma unidade de
pronto atendimento para realizar um eletrocardiograma e receber o diagnóstico.
"Ele parecia bem quando saiu de casa, mas, como é hipertenso e estava com
a pressão um pouco alterada, achei melhor buscar atendimento médico. Foi um
susto descobrir o infarto e, mais difícil ainda, foram os dias que seguiram com
ele bastante debilitado e instável no hospital", recorda emocionada.
Do susto à superação
O infarto do miocárdio, ou ataque cardíaco, é a
morte das células de uma região do músculo do coração por conta da formação de
um coágulo que interrompe o fluxo sanguíneo de forma súbita e intensa. "No
caso do paciente Emílio, evoluiu para um quadro grave de falta de oxigenação no
sangue, com tromboembolismo pulmonar. Isso fez com que precisássemos realizar
diversos procedimentos e repensar estratégias para que ele pudesse se recuperar
o mais rápido possível", explica a médica intensivista Giovanna Cerri
Lessa, que cuidou do paciente ao longo dos 26 dias na UTI. "Esse período
foi marcado pela proximidade com a família para o cuidado individualizado. Os
familiares testemunharam os nossos esforços cotidianos e comemoraram a alta
junto conosco, em especial por não haver nenhuma lesão neurológica",
relembra.
Agora, Emílio retorna ao convívio de sua família, carregado de gratidão pela vida e esperança pela oportunidade de recomeçar. "Foram longos dias no hospital, mas com todo o suporte da equipe médica estou evoluindo bem, transbordando de alegria em poder dar novos passos", revela o paciente. Para Ana Paula, que acompanhou de perto a internação do pai, o sentimento é de vitória e de alívio. "Só sei ser grata pelos médicos não terem desistido dele, em momento algum, e por darem espaço para criar vínculo com a equipe e explicarem os cuidados após a alta. Sei que teremos ainda alguns desafios, mas estar com ele em casa é o mais importante de tudo", acrescenta a filha.
Cada minuto importa
Emílio está entre as 400 mil pessoas que sofrem
infarto ao longo do ano no Brasil. Os números do Ministério da Saúde são
preocupantes, com uma pessoa tendo um ataque cardíaco a cada dois minutos e 100
mil delas perdendo a vida anualmente. Estilo de vida, sedentarismo, tabagismo,
estresse, hipertensão arterial e diabetes são os principais fatores causadores
dessa situação de emergência, que se agrava com a dificuldade em reconhecer os
sintomas. As chances de sobrevivência, assim como as sequelas, variam de acordo
com a gravidade do ataque.
As doenças cardiovasculares figuram como a
principal causa de morte nas Américas, segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS). No caso de um ataque cardíaco, cada minuto importa: quanto menor o tempo
para receber atendimento médico, menores os danos ao coração. Apesar da metade
das vítimas morrerem antes de chegar ao hospital, estudos da Universidade de
Harvard apontam que 90% dos pacientes hospitalizados sobrevivem. Para a
cardiologista Lídia Zytynski Moura, o alto índice de sobrevida é resultado do
avanço do conhecimento, da tecnologia e da ciência.
A combinação dos recursos humanos, tecnológicos,
infraestrutura e políticas de controle de risco hospitalar torna-se essencial
para o sucesso de procedimentos complexos. No Hospital Universitário Cajuru,
com atendimento 100% via SUS, o trabalho das equipes multidisciplinares
colabora para que a unidade seja habilitada como centro de referência em alta
complexidade cardiovascular. "Nosso esforço está em garantir qualidade,
certificação e segurança, sem deixar de lado elementos importantes como
humanização e equipe especializada. Além disso, ao atendermos os pacientes de
forma global, queremos mostrar que é possível fazer a diferença com uma
assistência de alta qualidade no SUS", completa Lídia, coordenadora do
setor de cardiologia.
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