Fechando o mês
de maio, no dia 31, temos o Dia Mundial Sem Tabaco, uma campanha global que
busca conscientizar as pessoas a respeito dos males do tabagismo e apoiar as
políticas públicas de restrição ao uso de cigarro. Infelizmente, embora tenha
sido criado em 1987, um dia como esse não é capaz de mudar a cabeça de tantas
pessoas que ainda fumam, mas é um esforço que vale a pena ser mantido.
O
tabagismo é um problema de saúde pública global. Segundo a Organização Mundial
da Saúde (OMS), trata-se da principal causa evitável de morte em todo o
planeta, responsável por cerca de 8 milhões de óbitos todos os anos. Estima-se
que quase 1,3 bilhão de pessoas são adeptas ao tabagismo no mundo, o que
representa cerca de 20% da população adulta global; e o consumo de tabaco é
mais prevalente em países de baixa e média renda, onde as políticas de controle
do tabagismo são menos abrangentes e eficazes. Mesmo sendo parte desse grupo de
países, o Brasil possui bons resultados no controle do tabagismo. Segundo dados
do Ministério da Saúde, o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no
Brasil é de 9,1% (quase 20 milhões de pessoas), com maior concentração no
público masculino.
Embora os dados
do tabagismo no Brasil indiquem uma tendência de redução no número de fumantes
nas últimas décadas, ainda há desafios a serem enfrentados, como a alta
prevalência de fumantes entre pessoas de baixa renda e a exposição ao tabagismo
passivo em ambientes públicos e privados, bem como o advento dos dispositivos
eletrônicos para fumar (DEFs).
O tabagismo é
responsável por uma série de problemas de saúde, incluindo doenças
cardiovasculares, câncer, doenças respiratórias e problemas de saúde mental.
Além disso, o tabagismo também afeta a economia global, causando perdas
significativas em termos de produtividade e custos de saúde.
Sobre os DEFs –
cigarros eletrônicos e vapes – vale lembrar que a importação, venda, propaganda
e publicidade são proibidas em território nacional desde 2009. Segundo a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a decisão foi tomada com
base em estudos que indicavam que esses dispositivos representavam riscos à
saúde pública e que não havia evidências suficientes para comprovar sua
segurança e eficácia. A ANVISA tem reforçado a proibição dos cigarros eletrônicos
e, portanto, sujeitos às mesmas restrições legais que os cigarros convencionais.
Parar de fumar é
difícil, pois trata-se de uma dependência. Ela ocorre principalmente em razão
da nicotina, um alcaloide que age no sistema nervoso central e é responsável
pela sensação de prazer e relaxamento que muitos fumantes relatam sentir ao
fumar. Quando a nicotina é inalada através da fumaça do cigarro, ela é
rapidamente absorvida pelos pulmões e levada para o sistema nervoso central.
Lá, a nicotina se liga a receptores específicos nas células nervosas e
desencadeia a liberação de neurotransmissores, como a dopamina, que produzem
sensação de prazer e bem-estar. O problema é que, com o tempo, o cérebro se
adapta à presença constante da nicotina e os receptores de nicotina se
multiplicam. Isso pode levar a uma maior dependência do alcaloide e a uma
necessidade cada vez maior de fumar para manter a sensação de prazer e evitar
os sintomas de abstinência. Além da nicotina, o cigarro também contém outras
substâncias químicas que podem causar dependência, como a acetaldeído e a
acroleína. Por isso, o cigarro é considerado uma das drogas mais viciantes e
prejudiciais à saúde.
Porém, por mais
desafiador que seja, parar é possível. Demanda esforço e determinação, além de
uma mudança na rotina, pois muito do vício no cigarro se relaciona com os
hábitos do fumante. Vale lembrar que, atualmente, existem diversas alternativas
terapêuticas para a cessação tabágica, que vão desde a psicoterapia até
terapias farmacológicas, com evidências robustas na literatura.
Portanto, se
você é tabagista e já pensou ou tentou cessar o tabagismo e não conseguiu,
procure um profissional de saúde. Caso ainda não tenha considerado parar de
fumar, considere.
Ricardo Siufi - pneumologista e professor do curso de Medicina da
Universidade Santo Amaro – Unisa.
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