Francisco Gomes
Junior, advogado especialista em direito digital e crimes cibernéticos, escreve
artigo sobre o papel da tecnologia na localização das pessoas que invadiram
prédios em Brasília
Este artigo não é sobre política, não se trata de
defender posição à direita, esquerda ou centro. Todos os cidadãos têm o direito
de ter suas opiniões e preferências e todas elas devem ser respeitadas, nos
termos de nossas leis.
No último domingo, 8 de janeiro, presenciamos atos
orquestrados com o objetivo de atacar o Estado democrático de Direito, com
ações terroristas e de vandalismo e invasão aos prédios dos Poderes da
República, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do
Planalto.
Segundo o Ministro da Justiça, Flávio Dino, após
muita quebradeira no patrimônio público, a situação está normalizada, centenas
de golpistas foram detidos e presos e investiga-se quem seriam os organizadores
e financiadores deste movimento.
O Governo Federal, decretou intervenção federal até
31 de janeiro no Governo do Distrito Federal, o que se ampliou por meio da
decisão do Ministro Alexandre de Moraes, o Governador do Distrito Federal,
Ibaneis Rocha, foi afastado por 90 dias.
Frustrado a tentativa de Golpe de Estado, busca-se
agora os responsáveis e o que muito se ouve é sobre a dificuldade de realizar
provas da conduta dos envolvidos, inicialmente pela multidão envolvida, o que
impede individualizar condutas, e porque todos os suspeitos negam participação.
Tradicionalmente, após um evento controvertido, são
feitas notas de repúdio. Com todo respeito, insuficientes as notas de repúdio
para tentativa de Golpe de Estado. A busca deve ser pelos responsáveis e o
direito digital será fundamental para o avanço das investigações. Ouve-se muito
que se deve seguir o dinheiro, o “follow the money” para que se chegue aos financiadores,
mas essa pesquisa dissociada dos meios digitais pode não dar o resultado
esperado. Outras medidas são necessárias.
De fato, parece evidente que os atos foram
financiados, por meio de dezenas de ônibus alugados, alimentação para todos os
manifestantes e ocupantes das frentes de quartéis pelo país, um número
exagerado de fogos de artifício que diariamente são ativados, entre tantos
outros artefatos de logística que são necessários para que se mantenha uma
grande estrutura.
Entretanto, chegar aos responsáveis logísticos,
financeiros e políticos dos atos não parece tarefa fácil. É trabalhoso, mas
possível. Por exemplo, para saber quem efetivamente invadiu prédios públicos,
basta verificar se o suspeito possui telefone celular e requisitar à respectiva
operadora de telefonia a geolocalização do aparelho. Esse tipo de investigação
aconteceu nos EUA após a invasão do Capitólio e permitiu identificar centenas
de invasores e puni-los. Mas, além de saber quem eram os invasores, é possível
saber pelo monitoramento das redes sociais quais as lideranças que convocaram
os atos e foram mais atuantes. A partir daí, pode-se quebrar o sigilo
telemático para verificar as conexões de tais pessoas, bem como deve-se obter o
IP (Internet Protocol) dos suspeitos e verificar acessos e comunicações em
internet. Pode-se inclusive verificar se há IPs fora do país e de onde ordem
podem ter sido emanadas. Ressalto, ainda que se use um celular frio, pré-pago
ou sem identificação, a geolocalização permitirá saber de onde foi feita a
comunicação com as lideranças. Na era digital, difícil que uma articulação
desse porte não tenha deixado rastros.
Ao que tudo indica, parte dos apontamentos citados
pelo especialista já estão em andamento. O Ministro Alexandre de Moraes
requisitou a quebra de sigilo e geolocalização de linhas celulares de suspeitos
investigados, o que deverá se ampliar após a tentativa golpista deste domingo.
Além disso, áreas de inteligência monitoram as mídias sociais e atividades
suspeitas terroristas.
Mesmo com cuidados e protocolos de segurança, a baderna não foi impedida, a invasão dos prédios e o vandalismo foi divulgada por toda a mídia, o que indica que algum ou alguns dos órgãos responsáveis pela segurança no Distrito Federal apresentaram falha, seja por omissão ou por má-fé. Aguardemos o andamento das investigações e as responsabilizações.
Francisco
Gomes Júnior - Sócio da OGF Advogados. Presidente da Associação de Defesa de
Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP). Autor do livro Justiça Sem Limites.
Instagram: https://www.instagram.com/franciscogomesadv/
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