No mês de conscientização sobre os cuidados com a saúde mental e emocional, o Dr. Renato Silva, psiquiatra referência no espectro Bipolar, explica as fases do transtorno e como ajudar uma pessoa em crise
Excesso de preocupação, ansiedade, alterações no sono, e cansaço mental. Sinais como esses são um alerta sobre como anda a saúde mental. E como todo início de ano, janeiro traz aquele ar de recomeço, promessas novas e priorização de metas. Não à toa, é neste mês que se inicia a campanha do Janeiro Branco - conscientização sobre os cuidados com a saúde mental e emocional. No TikTok, por exemplo, a hashtag depressão passa de 1,9 bilhão de visualizações em vídeos sobre o transtorno. A campanha é uma oportunidade de repensar, parar e priorizar o autocuidado.
Segundo
o último Relatório Mundial de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde
(OMS), publicado em junho de 2022, um bilhão de pessoas no mundo vivem com um
transtorno mental. Um desses transtornos é o bipolar. Atualmente, o transtorno
afetivo bipolar atinge cerca de 140 milhões de pessoas no mundo, segundo dados
OMS. Apesar de ter diferentes tipos, para o psiquiatra Dr. Renato Silva, podemos enxergá-lo como
um espectro, onde cada pessoa possui uma individualidade e apresenta sintomas e
intensidades diferentes. “Quando falamos de identificar o transtorno
bipolar, estamos falando de identificar as fases, como por exemplo: depressão,
mania e hipomania”, disse.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM - 5), a fase da depressão no transtorno bipolar pode ser
identificada por diversos sintomas. São eles: falta de prazer, apatia, alterações no apetite e no sono, alterações na cognição e mudanças no humor. “É
importante ressaltar que há inúmeras formas de se vivenciar a depressão. Não
existe ‘uma única depressão’”, explica Renato.
Já
na fase da mania, segundo o especialista, pode-se
citar como possíveis sintomas: pensamento acelerado, impulsos aumentados,
autoestima inflada, redução da necessidade de sono, irritabilidade, entre
outros.
A hipomania, segundo Dr. Renato Silva, é a fase mais difícil de ser identificada. “Normalmente
é necessário conhecer a pessoa previamente para identificar que o seu humor e
seu comportamento estão diferentes do normal. O diagnóstico deve ser dado por
um profissional da área de saúde mental que saberá não só identificar, como
sugerir os melhores tratamentos”, explica o psiquiatra.
De acordo com o psiquiatra, por falta de conhecimento aprofundado, um outro transtorno também pode ser confundido com o
bipolar. “Muitas vezes o transtorno bipolar e o
transtorno da personalidade borderline são confundidos, pois os sintomas do
borderline podem parecer com alguns da fase de mania ou hipomania da bipolaridade,
como por exemplo, impulsividade e irritabilidade”, comenta. Ele explica que
a grande diferença entre um e outro é que enquanto o transtorno bipolar
aparece com manifestações periódicas, o de personalidade borderline se
apresenta de maneira fixa, rígida e ao longo da vida da pessoa.
Gatilhos da bipolaridade:
De acordo com o psiquiatra, é importante lembrar que todos os transtornos mentais têm causa multifatorial. “Não há um único agente causador das crises. No caso da história natural da doença, observamos que as crises acontecem inicialmente por um gatilho externo claro, como a briga com um namorado ou morte de um ente querido, por exemplo. No entanto, quanto maior número de crises o paciente tiver ao longo da vida, o início da crise passa de gatilho para espontâneo, ou seja, acontece sem gatilhos aparentes. Por isso sempre ressalto a importância de se prevenir que o indivíduo tenha novos episódios, porque quando um novo episódio ocorre, maiores serão as chances de que eles se repitam e que os sintomas piorem”, explica Dr. Renato Silva.
Duração das crises:
Segundo Renato Silva, não há uma resposta exata sobre quanto tempo
dura uma crise no transtorno afetivo bipolar. “Tudo vai depender de vários
fatores. Mas, por exemplo, a média de duração da depressão no transtorno
bipolar é de cerca de 6 meses. Já a hipomania pode ter um curso mais crônico,
mais demorado, podendo durar dias, meses ou até mesmo anos. Algumas pessoas
passam por um quadro de hipomania por décadas, tanto é que os sintomas dessa fase
se confundem com a sua própria personalidade”, enfatiza o psiquiatra.
O diagnóstico:
Quando falamos em diagnóstico do transtorno afetivo bipolar, é
comum muita gente pensar que pessoas que possuem um parente com o transtorno ou até que simplesmente possuem mudanças
aparentemente repentinas de humor se encaixam no diagnóstico, mas não é tão simples assim. O diagnóstico deve ser
realizado sempre por um profissional especializado. “Para se fazer o
diagnóstico do transtorno bipolar é necessário que a pessoa tenha apresentado
ao menos um episódio de mania ou hipomania. Na bipolaridade, sempre que um novo
episódio ocorre, maiores serão as chances de que eles se repitam e que os
sintomas piorem. Logo, o tratamento é
extremamente importante para evitar que novos episódios aconteçam”, alerta o psiquiatra.
Para alcançar a estabilidade de humor não basta apenas ser medicado. É preciso seguir um conjunto de hábitos saudáveis. Aliar estratégias farmacológicas e não farmacológicas vão resultar numa significativa melhora do quadro. O psiquiatra lista algumas delas: ter uma alimentação balanceada, dormir bem e ter uma rotina de sono regulada, evitar estresse crônico, praticar atividade física e evitar bebida alcoólica e excesso de cafeína.
Ajudando uma pessoa em crise:
O psiquiatra Dr. Renato Silva explica que o conhecimento é sempre o melhor caminho. Aprender sobre as causas, sintomas e alterações biológicas que acontecem com uma pessoa com transtorno bipolar fará com que o familiar ou pessoa próxima compreenda de forma mais empática a situação. “Do mesmo modo, conhecer as características de cada fase da pessoa bipolar é importante para que o familiar fique atento aos perigos que cada uma delas carrega. Uma das melhores maneiras de ajudar um indivíduo em depressão, mania ou hipomania é garantir que siga o tratamento proposto pelo profissional da saúde que o acompanha”, conclui.
Dr. Renato Silva -
médico formado pela Universidade Federal de Uberlândia (2011), com residência
em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP). Referência em
bipolaridade e depressão, o mineiro também é fundador do curso de pós-graduação Especialização em Transtorno de Humor, e da clínica Estabiliza,
especializada em bipolaridade. É criador do Método Voo Bipolar, que já
ajudou milhares de bipolares e seus familiares a vencerem os sintomas da
bipolaridade a alcançarem a estabilidade emocional.
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