Médica especializada em saúde mental, com foco
em ansiedade e depressão, Dra. Tamires Cruz explica as características do
distúrbio e comenta a respeito dos vários tipos desse transtorno
O
distúrbio de ansiedade é uma questão de saúde pública no Brasil. Para se ter
uma ideia da dimensão do problema, em 2019, conforme a Organização Mundial de
Saúde (OMS), o país apresentava 18,6 milhões de pessoas (quase 10% da
população) sofrendo com esse transtorno, o que o colocava naquele momento em
primeiro lugar no ranking das nações mais ansiosas.
Justamente
por isso, faz-se necessário conhecer mais sobre o tema. Médica especializada em
saúde mental, com foco em ansiedade e depressão, Dra. Tamires Cruz explica que
a ansiedade é um fenômeno natural. “Quando o cérebro detecta o perigo, ele
envia sinais de alarme ao corpo, que reage conforme o aviso.”, explica. Dessa
forma, segundo ela, sentir-se um pouco ansioso ao enfrentar grandes eventos da
vida é normal.
Quando
esses sentimentos de preocupação persistem, mesmo quando tudo está sob
controle, o que é natural torna-se patológico. Caracteriza-se dessa forma o
transtorno de ansiedade, que pode acarretar diversos problemas de ordem
emocional”, diz a médica. Segundo Dra. Tamires, quem sofre do distúrbio costuma
apresentar autoestima e autoconfiança muito baixas, pois fica com a mente cheia
de pensamentos negativos sobre seu valor e suas habilidades. Além disso,
conforme a médica, a tensão constante pode causar dores de cabeça e tensão
muscular.
Como
muitas questões de saúde mental, a ansiedade vem carregada de estigma social.
Segundo a médica, porque não acreditam que os outros entenderão o que estão
sentindo, porque se preocupam com o fato de serem julgados e de serem vistos
como fracos, as pessoas ansiosas muitas vezes optam por não falar sobre suas
preocupações, o que acaba agravando a situação. “Assim, quem sofre com o
transtorno se culpa pelo modo como se sente e passa também a apresentar sinais
depressivos”, ressalta.
Conforme
Dra. Tamires, embora ainda não exista cura, os tratamentos disponíveis podem
ajudar quem sofre com o transtorno a se sentir melhor. Não obstante, é preciso
que o paciente procure ajuda profissional quando apresentar sintomas. O
problema é que falta conhecimento a respeito do assunto. “Por isso a necessidade
da difusão de um maior número de informações sobre o distúrbio de ansiedade,
para a pessoa ter uma melhor compreensão do que está enfrentando”, diz a
médica.
Tipos
de ansiedade
Por
exemplo, segundo Dra. Tamires, muitos não sabem, mas o distúrbio de ansiedade
não acomete todos da mesma forma. Há vários tipos, tais como: o transtorno da
ansiedade generalizada (TAG); transtorno do pânico; transtorno da ansiedade
social; fobias; transtorno obsessivo compulsivo (TOC); transtorno de estresse
pós-traumático (TEPT); e transtorno de ansiedade de separação.
O
transtorno de ansiedade geral (TAG), por exemplo, caracteriza-se por preocupação e medo
duradouros em razão de diversas situações e acontecimentos. “Os sentimentos
ocasionados por essas preocupações se tornam irreais, o que pode afetar o
desempenho de quem sofre de TAG em seus esforços diários, devido à incapacidade
de controle”, explica Dra. Tamires. Conforme a médica, os sintomas sãos os
mesmos da ansiedade comum (dores de cabeça e estômago, irritabilidade,
inquietação, fadiga, falta de concentração sudorese, dificuldade para dormir,
sensação de destruição constante e iminente) porém mais crônicos e graves.
O
transtorno do pânico
distingue-se por seus ataques de intenso medo, que podem incluir, entre outros
sintomas: tremores, palpitações cardíacas, falta de ar, medo de perder o
controle, formigamento, e medo extremo da morte e desgraça iminente. “Os
ataques surgem repentinamente e atingem o nível de pânico em minutos, podendo
durar horas”, explica Dra. Tamires. Segundo a médica, aqueles que sofrem do
transtorno costumam evitar certos lugares, pessoas e situações por medo de que
possam desencadear um ataque de pânico.
Evitar
a socialização, pelo medo de julgamentos negativos e embaraços públicos é ação
mais comum de quem sofre de transtorno
de ansiedade social. Dra. Tamires relata que indivíduos que
apresentam esse quadro, quando se encontram em situações em que são forçados a
interagir com outras pessoas, começam a sentir sintomas físicos extremos de
desconforto, como aumento da frequência cardíaca, náusea, tontura e sudorese.
“Para ser diagnosticado com esse tipo de transtorno, a pessoa deve apresentar
esses sintomas a maior parte do tempo, por pelo menos seis meses”, diz.
As fobias são um sentimento
irracional de medo de algo ou de uma situação específica. Existem diversos
tipos de fobias, de altura, de aranhas, de voar, de lugares apertados, de
multidões etc. Segundo Dra. Tamires, pessoas com fobias tentam ao máximo
driblar esses objetos ou situações a fim de evitar ataques de pânico
desencadeados por esses medos irracionais, que podem ser incontroláveis. “Para
receber o diagnóstico da doença, o medo deve impactar negativamente o cotidiano
da pessoa, sendo sentido de maneira excessiva e persistente por pelo menos seis
meses”, afirma.
Quem
sofre de transtorno
obsessivo compulsivo (TOC) apresenta pensamentos ou ações
angustiantes e repetitivas, que não conseguem ser evitadas, por mais que se
saiba que se trata de uma reação irracional. Conforme Dra. Tamires, indivíduos
com TOC buscam justificar suas ações com sentimentos supersticiosos, como, por
exemplo, limpar obsessivamente itens pessoais, andar no mesmo padrão, lavar as
mãos constantemente, e verificar inúmeras vezes o mesmo objeto, como fogões a
gás e interruptores de luz.
O transtorno de estresse pós-traumático
(TEPT) é um distúrbio de ansiedade que, geralmente, decorre de
uma experiência anterior em que houve risco de perder a vida. Segundo Dra.
Tamires, os ataques de pânico do TEPT costumam acontecer quando as pessoas são
confrontadas com um fator desencadeante que remete ao evento traumático.
“Esse quadro, muitas vezes está associado a homens e mulheres que servem ou
serviram nas forças armadas, mas pode afetar qualquer pessoa que tenha passada
por uma situação de quase morte”, comenta.
Por
fim, o transtorno de
ansiedade de separação apresenta-se como uma intensa exibição
de pânico quando a pessoa experimenta um afastamento de alguém, lugar ou
objeto. Conforme Dra. Tamires, os sintomas deste distúrbio são tipicamente
observados em crianças pequenas quando separadas das mães ou dos principais
cuidadores.
Dra.
Tamires Cruz - graduada em Medicina (FMJ) e graduada e pós-graduada em Gestão e
Administração Hospitalar (Estácio). Pós-graduação em Docência (Estácio),
Especialização em Cuidados Paliativos (Instituto Paliar) e Saúde Mental
(Estácio) com foco em Ansiedade e Depressão. Mestre e Doutoranda em Saúde
Pública (Faculdade de Medicina - ABC/SP). Criadora do Método Saúde de Gigantes,
metodologia que já ajudou centenas de pessoas no controle da ansiedade e
tratamento da depressão, sem uso de remédios. Autora do Livro: Seja
(im)perfeito, Editora Gente
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