Ao falarmos sobre a educação no Brasil pensamos primeiro no presente, nas crianças e universitários. Mas a reflexão que proponho hoje é sobre como a falta de investimento público na educação impacta na economia e no desenvolvimento do país. Cada vez que é negligenciado o investimento na educação brasileira como um todo, as empresas são impactadas com a falta de mão de obra qualificada e com o aumento na necessidade de desenvolver as pessoas dentro das organizações. A criação de startups e novas tecnologias, que demandam um estudo técnico, também diminui, em contraponto ao trabalho informal que cresce vertiginosamente.
Com o anúncio recente do governo do bloqueio de R$
2,4 bilhões do orçamento do MEC (Ministério da Educação) deste ano, os
institutos da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica
terão uma perda de R$ 300 milhões (somando os cortes que já haviam tido no
ano). Nas universidades federais, a soma anual até o momento é de uma perda de
R$ 763 milhões, com relação ao orçamento aprovado para 2022. Esses
desinvestimentos terão impacto direto nas futuras gerações que sofrerão com a
falta de qualificação profissional.
Anunciar cortes nas universidades não é uma questão
ideológica de “tirar dinheiro dos pesquisadores das áreas humanas”.
Florianópolis é um exemplo concreto de como esse investimento faz a diferença.
Conhecida como uma das cidades do “Vale do Silício Brasileiro”, Santa Catarina
reúne cerca de 19 mil startups, resultado da visão de futuro de antigos
governantes. Há cerca de 40 anos os professores universitários, especialmente
nas áreas de Engenharias e afins, fizeram cursos no exterior. O objetivo na
época era fortalecer a vocação industrial do Estado, mas os frutos colhidos
foram além, com o desenvolvimento tecnológico de toda a região. Afinal, as
competências básicas para criação de uma startup incluem empreendedorismo,
visão de negócios e a parte de programação, a habilidade técnica que envolverá
a solução.
Desta forma, ao diminuir os investimentos nas
universidades agora, estamos enfraquecendo a capacidade empreendedora do país
nos próximos anos, nos quais desenvolveremos menos competências técnicas nos
futuros profissionais e, consequentemente, teremos um apagão de mão de obra
qualificada e de skills técnicas – não só na área de humanas, mas também
biológicas e exatas, incluindo programação, interpretação de dados, cyber
segurança, dentre inúmeras outras possibilidades.
Atualmente, o mercado de trabalho já demonstra esse
impacto especialmente na área de digitalização, na qual sobram vagas e faltam
profissionais. Uma pesquisa realizada pela Agência Alemã de Cooperação
Internacional (GIZ) em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (Senai) mostra especialmente as novas necessidades no setor
agrícola, com vagas para operador de drones, engenheiro agrônomo digital,
cientista de dados e engenheiro de automação. Outra pesquisa do Senai indica
que nos próximos dois anos o setor de tecnologia contratará mais de 400 mil
profissionais, mas atualmente há apenas 106 mil trabalhadores capacitados.
Nas empresas, os investimentos em treinamentos
técnicos são a maioria para os colaboradores de nível não gerencial, segundo o
estudo “O Panorama do Treinamento no Brasil”, realizado pela Associação
Brasileira de T&D (ABTD) em parceria com a Integração Escola de Negócios. A
distribuição do investimento em treinamento e desenvolvimento de competências
técnicas é de 47% para operação e indústria, 46% para as áreas administrativas
e 43% para a equipe comercial. As porcentagens só são invertidas - com o
aumento no incentivo das competências comportamentais - para a alta liderança,
com 52%, e para gerentes e supervisores, com 48%.
Já estamos pagando um preço alto pelo descaso
histórico de governos anteriores, que não priorizaram como deveriam a educação,
e o buraco fica cada vez mais profundo, com impacto direto na mão de obra
qualificada em diversas carreiras não operacionais. As empresas podem até
absorver parte desse custo, mas não é o suficiente. É urgente olharmos – e
cobrarmos - o comprometimento de nossos governantes com a educação. Com
profissionais preparados, aliados a inteligência e criatividade do brasileiro,
as possibilidades de crescimento do país serão infinitas.
Luís Fernando Guggenberger -
executivo de Marketing, Inovação e Sustentabilidade da Vedacit, responsável
pela coordenação das iniciativas de Inovação Aberta e Sustentável e pelo
Instituto Vedacit. Formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade
Guarulhos e pós-graduado em Comunicação Empresarial pela Faculdade Cásper
Líbero. Sua experiência profissional é marcada pela passagem em fundações
empresariais como Fundação Telefônica e Instituto Vivo, além de organizações
sociais na cidade de São Paulo. Luis participa do Conselho de Governança do
GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, do Conselho Consultivo da GRI
Brasil e do Conselho Fiscal do ICE – Instituto de Cidadania Empresarial. É
mentor de startups de impacto socioambiental.
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