Mesmo que para alguns seja um momento feliz para encerrar mais um ciclo, o final do ano é um agravante ao estresse para pessoas que já estão deprimidas. A sensação de que o ano vai acabar aumenta a cobrança de finalizar tudo, avaliar o que não deu certo, antecipar as metas para o próximo ano, comprar e consumir para as festas que estão chegando, se cobrar de estar com a família e rever alguns amigos...e por aí vai. A médica psiquiatra Dra. Jéssica Martani, especialista em comportamento humano e saúde mental, comenta como o cérebro se comporta nessa fase do ano e porque os casos de suicídio também aumentam com a chegada do mês de dezembro.
“O ser humano tem uma ligação forte com datas, quer seja aniversários, Natal ou mesmo a virada do ano. Enquanto para a maioria das pessoas momentos como estes são motivos de alegria e felicidade, para pessoas que estão com o cérebro funcionando de maneira alterada como na depressão, tais momentos podem se tornar motivo de mais cobrança pela felicidade que não sentem e de culpa por estarem doentes e deprimidos. A maneira distorcida do deprimido enxergar a realidade faz com que ele piore os desfechos, pense de maneira pessimista e desesperanças e não veja saída para os problemas. Tudo isso pode aumentar o estresse emocional no final do ano e precipitar desfechos negativos como o suicídio".E isso tem explicação. “Geralmente o indivíduo deprimido apresenta uma distorção das memórias, isto é, lembra mais de fatos passados negativos e do pensamento, pensa mais negativamente, quando está deprimido. Dessa maneira, parece que tudo que aconteceu e o que está para acontecer foi e será ruim. Não há saída. Tudo é mais difícil e tomar decisões se torna absurdamente difícil”, comenta a psiquiatra.
Nem toda pessoa deprimida apresentará ideias de se matar (ideação suicida), mas a presença de algumas características da pessoa ou da família aumentam o risco de suicídio para a pessoa que está deprimida, que são:
- Elevado grau de depressão, desesperança, desamparo e desespero (4 D`s do suicídio);
- Apresentar uma ideia ou um plano de suicídio bem estruturado;
- História de tentativas prévias de suicídio;
- Presença de um transtorno psiquiátrico grave já diagnosticado (esquizofrenia, bipolaridade, alcoolismo);
- Acesso a muitos meios e métodos de autoextermínio;
- Ausência de suporte familiar;
- Fatores de estresse que precipitem o suicídio como estar solteiro ou separado; estar desempregado; estar distante da família; estar sofrendo assédio moral em ambiente de trabalho;
- Doenças médicas graves: câncer, quadros dolorosos, doenças reumatológicas, doenças neurológicas, AIDS, doenças dermatológicas graves, etc.
- Impulsividade aumentada (por exemplo em alguma depressão do espectro bipolar);
- Ausência de fatores de proteção como autoestima elevada; bom suporte familiar; laços sociais bem estabelecidos com família e amigos; religiosidade independente da afiliação religiosa e razão para viver; ausência de doença mental; estar empregado; ter crianças em casa; senso de responsabilidade com a família; gravidez desejada e planejada; capacidade de adaptação positiva; capacidade de resolução de problemas e relação terapêutica positiva, além de acesso a serviços e cuidados de saúde mental.
"Por isso observe se alguma pessoa deprimida apresenta algum destes fatores de risco e principalmente, se aproxime dela neste final de ano impedindo que este momento de festas possa se transformar em um momento de maior sofrimento para ela", finaliza a médica.
Dra. Jéssica Martani - Médica psiquiatra, observership em
neurociências pela Universidade de Columbia em Nova Iorque -- EUA, graduada
pela Universidade Cidade de São Paulo com residência médica em psiquiatria pela
Secretaria Municipal de São Paulo e pós graduação em psiquiatria pelo Instituto
Superior de Medicina e em endocrinologia pela CEMBRAP. CRM 163249/ RQE 86127
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