Uma em cada dez brasileiras sofre com sintomas de endometriose e muitas ficam em dúvida se essa doença pode evoluir para um câncer de endométrio. Especialista explica as diferenças entre as duas doenças ligadas ao aparelho reprodutor feminino e localizadas no endométrio (corpo do útero)
Uma a cada 10 mulheres sofre com os sintomas da
endometriose no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, que registrou em 2021
mais de 26,4 mil atendimentos e 8 mil internações somente no Sistema Único de
Saúde (SUS). O câncer de endométrio, por sua vez – terceiro tumor ginecológico
mais comum no país (atrás apenas de colo do útero e ovário) – deverá ser
diagnosticado em 2022 por 6.540 brasileiras, segundo estimativas do Instituto
Nacional de Câncer (INCA). Em 2020, o número de mortes por câncer de endométrio
no Brasil chegou a 1,9 mil, segundo Atlas da Mortalidade por Câncer.
Uma dúvida recorrente no atendimento a pacientes
com endometriose é se a doença pode evoluir para câncer de endométrio. É
importante esclarecer isso. As duas doenças estão relacionadas ao aparelho
reprodutor feminino. Mais que isso, ambas estão localizadas no endométrio (tecido
do corpo humano que está localizado no interior do útero, também chamado de
corpo do útero). As duas doenças implicam na proliferação de lesões e precisam
ser tratadas de maneira precoce. “No entanto, não existe evidência de que
a endometriose evolua para câncer de endométrio”, informa a oncologista
clínica Andréa Gadêlha Guimarães, do Instituto de Urologia, Oncologia e
Cirurgia Robótica (IUCR). Entenda melhor:
Endometriose - A
endometriose é uma doença que, embora benigna, pode acometer mulheres de diversas
faixas etárias, da primeira menstruação (menarca) até a menopausa, e que
impacta diretamente na qualidade de vida das pacientes. Ela ocorre quando o
tecido que reveste o interior do útero (endométrio), cresce fora do útero. A
causa exata da endometriose não é conhecida, mas a maioria das teorias se
concentra em como suas células, hormônios e sistema imune funcionam.
Geralmente são diagnosticadas através do exame pélvico, ultrassom ou
laparoscopia. Os sintomas mais comuns são dor pélvica, principalmente durante
período menstrual, dor durante a atividade sexual, sangramento vaginal anormal
e infertilidade. “Mais frequentemente, o tecido endometrial pode se implantar e
crescer anormalmente nos ovários, resultando na formação dos chamados cistos de
chocolate, mas também nas trompas de Falópio, ligamentos uterossacros, trato
gastrointestinal e, menos frequentemente, na pleura, pericárdio ou sistema
nervoso central”, afirma. Em linhas gerais, o tratamento da endometriose a
depender da intensidade dos sintomas e extensão, pode ser realizado por
meio de medicamentos que suspendem a menstruação e caso de lesões maiores
ou mais extensas, é possível que o médico indique cirurgia.
Câncer de endométrio - O câncer
de endométrio, por sua vez, é uma doença maligna caracterizada pela
proliferação anormal das células do endométrio, com o potencial de se espalhar
para outras partes do corpo (metástase). Acomete, principalmente, mulheres após
a menopausa, em geral acima dos 60 anos. “Apenas cerca de 20% das mulheres com
câncer de endométrio estão na fase de pré-menopausa, mas principalmente
com aumento da obesidade ”, diz Andréa Guimarães.
Entre os sinais de alerta e possíveis sintomas
estão sangramentos anormais e fluxo menstrual mais intenso que o habitual, ou
ainda qualquer sangramento vaginal em mulher que se encontra na menopausa.
“Dentre os sintomas, cerca de 90% das mulheres com câncer de endométrio têm
sangramento vaginal anormal após a menopausa ou entre períodos menstruais.
Entre 5% e 20% delas na pós-menopausa, com esse sintoma, têm câncer de
endométrio. Isso pode indicar também uma série de outras doenças, mas é preciso
consultar um especialista para saber a causa”, recomenda a especialista.
Diagnóstico precoce é fundamental – A
descoberta do câncer de endométrio em fase inicial é importante para o sucesso
do tratamento. De acordo com o levantamento SEERs, da American Cancer Society,
quando a doença está restrita ao corpo do útero (endométrio), 96% das pacientes
estão vivas após cinco anos. Quando a doença se espalha
do útero para estruturas próximas ou linfonodos a taxa de cura é de 71%. No
câncer de endométrio metastático, se espalhando para partes distantes do corpo
uterino, como pulmões, fígado ou ossos, as chances de cura em cinco anos cai
para 20%.
Os principais sinais de alerta de câncer de
endométrio são sangramento vaginal anormal principalmente na pós-menopausa, dor
na pelve persistente, presença de massa na região pélvica e perda de peso
inexplicável. A cirurgia é o tratamento padrão para o câncer de endométrio,
consistindo em histerectomia (remoção do útero), geralmente acompanhada por
retirada das trompas e dos ovários (salpingooforectomia bilateral) e dos
gânglios linfáticos da pelve e retroperitônio.
O procedimento, explica Andréa Gadêlha, pode ser
feito com técnicas minimamente invasivas, como laparoscopia e cirurgia
robótica. Dependendo do tipo de câncer e da extensão do tumor, quimioterapia e
radioterapia também podem ser usadas no tratamento. A incidência desse tipo de
câncer tem aumentado, potencialmente devido a uma variedade de fatores,
principalmente a aumento crescente da obesidade , diabetes e mudanças nos
comportamentos reprodutivos, como alta taxa de nuliparidade (mulheres sem
filhos). Por isso, fatores como a gravidez, a prática de atividade física
frequente e a manutenção do peso corporal saudável, atuam como prevenção.
Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia
Robótica Dr. Gustavo Guimarães - IUCR
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