Pesquisador Renato Alves explica que pessoas acostumadas a uma verdadeira enxurrada de estímulos, por conta do celular, desenvolvem cérebros mais preguiçosos
O celular que facilita a vida em diversos aspectos,
como fazer chamadas, enviar mensagens, usar o GPS, compras, transações
bancárias, entre outras ações, necessita que a sua utilização seja feita com
inteligência, para não afetar negativamente algumas funções necessárias do
cérebro. O uso excessivo pode ser nocivo, inclusive para os estudos.
Renato Alves,
escritor, pesquisador, palestrante internacional e o primeiro a receber o
título de Melhor Memória do Brasil, mostra que a neurociência coletou dados
importantes e que chamam atenção para esses danos. E os exemplos aparecem em
costumes aparentemente inofensivos. “A calculadora do celular, por exemplo, é
uma aliada para confirmar os resultados de uma conta complexa do trabalho ou da
faculdade, mas a partir do momento em que ela começa a substituir a capacidade
lógico-matemática, isso se torna um problema”, alerta.
O motivo, segundo o especialista, é que quanto mais
se usa a calculadora, mais lento o cérebro fica. “E quando as pessoas precisam
fazer uma conta e não tiverem nenhuma calculadora por perto, o cérebro vai
demorar mais para raciocinar”, revela.
Renato explica que, nesse mesmo contexto, a
memorização pode ser afetada. “Até poucos anos atrás era preciso estimular a
própria memória para encontrar um número de telefone e conseguir ligar para
alguém. Agora, isso acontece com um único clique, ou dando um comando de voz.
Ou seja, estamos perdendo a habilidade de guardar números na memória”,
constata.
O pesquisador mostra, ainda, que o celular se
tornou um “sequestrador de atenção”. “Quantas vezes alguém estava fazendo algo
importante e bastou chegar uma notificação para perder o foco e começar a vagar
sem rumo pelas redes sociais? Esses alertas que chegam de forma constante no
celular funcionam como um gatilho neurológico”, adverte.
O problema, segundo Renato, é que esse gatilho não
tem hora para disparar. “E cada vez que chegar uma notificação ou uma mensagem,
o usuário vai receber uma descarga de hormônios como o cortisol, quando
reconhece que o conteúdo da mensagem é algo estressante ou de dopamina, quando
o assunto for causa de prazer e bem-estar”.
A dopamina, assim como o efeito das drogas no
cérebro, provoca uma vontade maior de utilizar o celular, funcionando como um
verdadeiro estímulo. “Ou seja, antes, 15 minutos no celular eram suficientes
para provocar satisfação e agora são necessárias horas para conseguir atingir
essa sensação”, analisa.
Circular pela casa com o celular nas mãos,
checando-o todo o tempo, provoca uma perda de 40% do tempo produtivo do
cérebro. Há, também o risco de entrar em estado de preguiça mental. “Alguns
pesquisadores descobriram que pessoas acostumadas com essa enxurrada de
estímulos por conta do celular desenvolvem cérebros mais preguiçosos”.
Outro dado que também chama a atenção são os danos
do celular em cérebros que ainda estão em formação, ou seja, de crianças e
adolescentes, que precisam receber estímulos do ambiente, ter contato com a
natureza e com experiências diferentes. “Porém, ao interagir muito com o
celular, esse contato fica prejudicado e a criança pode sofrer dificuldades na
linguagem, em lidar com as próprias emoções e com outras pessoas”, alerta.
E o que fazer para evitar esses efeitos negativos?
“Na verdade, a resposta é bem simples: assumir o controle, ou seja, equilibrar
a vida com o uso da tecnologia. Uma forma de atingir esse objetivo é deletar os
aplicativos que drenam a sua energia e também restringir o uso do celular em
momentos em que a atenção é crucial, como, por exemplo, durante os estudos.
Para fazer isso, é possível colocar o celular em outro cômodo ou desligá-lo
enquanto estiver lendo ou estudando”, recomenda.
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