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segunda-feira, 16 de maio de 2022

Registros de ameaça contra meninas e mulheres aumentam mais de 20% em dias de partidas de futebol

  Estudo encomendado pelo Instituto Avon analisou dias de jogos do Campeonato Brasileiro da série A e observou base de dados de violência contra a mulher

 

Os boletins de ocorrências de ameaça contra mulheres aumentam em 23,7% quando um dos times de futebol da cidade joga, é o que mostrou a pesquisa “Violência Contra Mulheres e o Futebol”, idealizada pelo Instituto Avon e encomendada ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Para entender a relação entre o esporte e enfrentamento às violências contra mulheres e meninas, o estudo analisou bases de dados de violência com informações de todos os dias de jogos do Campeonato Brasileiro da série A entre os anos de 2015 e 2018, em cinco capitais brasileiras: Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre.
 


"A pesquisa demonstra que há uma relação entre jogos de futebol e aumento de registros de violência doméstica. Naturalmente, não estamos sugerindo que a causa seja o jogo de futebol, que é uma paixão nacional, mas que este pode funcionar como uma espécie de catalisador das desigualdades de poder entre homens e mulheres, ao interagir com valores ligados a masculinidade, competitividade, rivalidade, hostilidade, pertencimento, virilidade e, por vezes, à frustração", explica a coordenadora das áreas de pesquisa e impacto e enfrentamento às violências contra as meninas e mulheres do Instituto Avon, Beatriz Accioly.  

Entre os registros de lesão corporal dolosa, o aumento em dias de jogos dos times das regiões observadas é de 20,8%. Já nos dias em que o clube é o mandante da partida e joga na própria cidade e estádio, o levantamento identificou o aumento de 25,9% de registros policiais. O estudo “Violência Contra Mulheres e o Futebol” também revela que, em sua maioria, os responsáveis pelas violências são os companheiros e ex-companheiros. 

“A violência relacionada ao futebol não é uma exclusividade brasileira e tampouco acontece apenas entre torcidas organizadas. No mundo, em países como a Inglaterra, por exemplo, quando a seleção perde, a violência doméstica aumenta até 38%, segundo análise entre os anos de 2012 e 2013. Nos Estados Unidos, o mesmo é observado na final do campeonato de futebol americano, que representa um dos piores dias de registros de violência contra meninas e mulheres, com aumento de 40% de casos, segundo um estudo realizado em 1993”, complementa Beatriz. 

A diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, lamenta que poucos estudos do gênero tenham sido realizados no país até o momento, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos e na Inglaterra. "Infelizmente a violência doméstica é uma realidade não só dos brasileiros, como demonstram os levantamentos realizados no exterior. Mas é uma pena que ainda existam poucos trabalhos no Brasil fazendo uma correlação com o futebol. Olhamos pouco para o que ocorre além das quatro linhas e espero que esse estudo possa induzir um debate sério sobre o tema, ainda mais em ano de Copa do Mundo", destaca Samira. 

O estudo revelou que os boletins de ocorrências por ameaça são maioria entre mulheres de 30 e 49 em São Paulo e Rio de Janeiro com percentuais de 49,7% e 49,6%, respectivamente, seguidas por Belo Horizonte com 48% de registros. Na análise de ocorrências por agressão física, a faixa etária mais afetada é de mulheres entre 18 a 29 anos, principalmente em Porto Alegre, cujo percentual corresponde a 37,4% dos casos. São Paulo vem na sequência, com 36,3%, seguida por Rio de Janeiro (35,9%) e Belo Horizonte (35,4%). 

O perfil racial das ocorrências é liderado por mulheres negras em Salvador e Belo Horizonte, que correspondem a mais da metade dos registros por ameaças e agressões. Na capital baiana, o índice ultrapassa 80%. Já no Rio de Janeiro, elas representam 5 em cada 10 mulheres. 

“O esporte e a paixão pelo time não podem abrir procedentes para violências contra meninas mulheres. Para evitar que isso aconteça é importante e necessário o debate sobre o assunto, principalmente com os homens, para isso precisamos contar com os próprios clubes e times. À exemplo, recentemente o São Paulo Futebol Clube e o Sport Club do Recife passaram a integrar a Coalizão Empresarial Pelo Fim das Violências Contra Mulheres e Meninas, assumindo o compromisso de intensificar ações internas com todas as categorias, com potencial de impacto na sociedade”, conclui Beatriz.

 

Coalizão Empresarial Pelo Das Violências Contra Mulheres e Meninas e o futebol brasileiro 

O São Paulo Futebol Clube e o Sport Club do Recife são os primeiros times de futebol a ingressarem na aliança empresarial que une esforços e recursos da iniciativa privada para gerar impacto social por meio da conscientização e mobilização para o fim da violência contra mulheres e meninas. Os clubes integrarão as agendas de treinamentos de lideranças, ações para funcionários e as categorias de base e time principal, implementação de canais e projetos de apoio às suas profissionais para ambientes de trabalho seguros e que priorizem a equidade de gênero. 

 

Sobre o Fórum Brasileiro de Segurança Pública

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública foi constituído em março de 2006 como uma organização não-governamental, apartidária e sem fins lucrativos, cujo objetivo é construir um ambiente de referência e cooperação técnica na área de atividade policial e na gestão de segurança pública em todo o País. Composto por profissionais de diversos segmentos (policiais, peritos, guardas municipais, operadores do sistema de justiça criminal, pesquisadores acadêmicos e representantes da sociedade civil), o FBSP tem por foco o aprimoramento técnico da atividade policial e da governança democrática da segurança pública. O FBSP faz uma aposta radical na transparência e na aproximação entre segmentos enquanto ferramentas de prestação de contas e de modernização da segurança pública, compreendida como direito fundamental e condição para o exercício da cidadania e para justiça social.

 

Instituto Avon


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