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sexta-feira, 1 de abril de 2022

Produção de roupas no Brasil volta a 2016

Thinkstock

Varejo brasileiro pode vender até mais do que em 2019, se recorrer a importados, de acordo com o IEMI. Vale a pena arriscar em cenário econômico ainda desfavorável ao consumo?

 

O país voltou seis anos na produção de confecção, podendo alcançar 5,7 bilhões de peças neste ano, número parecido com o de 2016 (5,69 bilhões de peças).

A projeção é do IEMI – Inteligência de Mercado, empresa de consultoria que acompanha a performance do setor têxtil brasileiro há cerca de três décadas.

Os efeitos da pandemia do novo coronavírus são a principal razão de a produção de confecção no Brasil em 2022 sequer atingir os números de 2019 (5,94 bilhões de peças).

“Este setor chegou ao fundo do poço em 2020, com retração de até 90%, e ainda está em processo de recuperação”, afirma Marcelo Prado, sócio-diretor do IEMI.


As vendas no varejo de confecção, no entanto, podem ultrapassar as de 2019, de acordo com projeções da consultoria, se os lojistas recorrerem aos importados.

Neste ano, a expectativa da consultoria é que o varejo (físico mais e-commerce) venda 6,48 bilhões de peças de roupas, número um pouco maior do que o de 2019 (6,45 bilhões).

A previsão é que os importados ocupem espaço da produção nacional. Agora, isso se a guerra na Ucrânia e a nova onda de covid na China, diz Prado, não se alastrarem.

Para que os números do comércio sejam superiores aos de 2019, de acordo com Prado, a importação de roupas tem de atingir cerca de 1 bilhão de peças neste ano.

“Não sabemos se isso vai acontecer, mas o fato é que, no primeiro bimestre deste ano, as importações estão pouco mais de 50% acima das de igual período de 2021”, diz.

Com a pandemia, o consumo de peças de roupas por habitante caiu de 30,7 peças para 28 peças em 2021, podendo chegar 30 peças neste ano, de acordo com projeção do IEMI.

“A melhora deste setor será aos poucos, com o retorno presencial das atividades, redução do desemprego e crescimento da economia”, afirma.

Especializada em moda feminina, a rede MOB começou 2022 com volume de vendas, em média, 5% abaixo do registrado em igual período de 2019.

“Algumas lojas já superam vendas de 2019. Outras, não. Mas as que estão com faturamento menor enfrentam problemas localizados”, diz Ângelo Campos, sócio-diretor da rede.

Lojas localizadas em outlets, de acordo com ele, chegam a ter faturamento até 20% maior neste ano em relação a 2019. A grande expectativa é se a retomada nas vendas irá se manter.

Em faturamento, as vendas do varejo continuam abaixo das registradas no período pré-pandemia, de acordo com a PMC (Pesquisa Mensal do Comércio), do IBGE.

Em 2021, o volume de vendas do varejo de confecções atingiu R$ 161,6 bilhões, R$ 22 bilhões a menos do que em 2019 (R$ 183,3 bilhões), em valores atualizados.

No estado de São Paulo, os números são R$ 54,9 bilhões em 2019 e R$ 44,5 bilhões em 2021. Isto é, R$ 10 bilhões a menos em vendas.

Os números de janeiro deste ano no país ainda mostram uma retração de 13,9% em relação a fevereiro de 2020, mês que antecede o início da pandemia do novo coronavírus.

Além do cenário macroeconômico, o que tem inibido as vendas de roupas são os preços, de acordo com Fábio Bentes, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio).

Em janeiro, a inflação acumulada em 12 meses no setor de vestuário atingiu 12,1%. Um ano antes, em fevereiro de 2021, a inflação acumulada era de 0,4%.

“Houve uma grande mudança, uma inflexão nos preços do vestuário. Os lojistas seguraram os reajustes até quando conseguiram, mas chegou um momento que tiveram de repassar.”

Ainda assim, diz ele, os lojistas repassaram praticamente a metade das altas de custos que tiveram de enfrentar no último ano.

Enquanto os preços no varejo de vestuário subiram 12,1%, no atacado a alta foi de 20,3% nos últimos 12 meses encerrados em janeiro deste ano.

O comércio ainda está retendo uma parte dos aumentos de custos, de acordo com Bentes, até porque o cenário macroeconômico não está favorável ao consumo.

“A expectativa que existia de que a volta da circulação de pessoas iria garantir a retomada das vendas do setor foi descartada”, diz Bentes.

O número de pessoas às ruas já está praticamente igual ao do período pré-pandemia, mas as vendas ainda estão aquém.

Inflação e juros em alta, elevado desemprego, guerra na Ucrânia, eleições à vista criam ambiente de incertezas, diz ele, desestimulando o consumo.

Aldo Macri, vice-presidente do Sindilojas-SP, lembra ainda do alto endividamento das famílias (ao redor de 70%), mais um indicador desfavorável aos gastos.     

PERFIL DOS CONSUMIDORES

Pesquisa do IEMI feita no final do ano passado mostrou que 69% dos compradores de peças do vestuário são mulheres e 64% têm entre 25 e 44 anos.

Pessoas com mais de 45 anos representam 14% do total dos consumidores.

Para Prado, esses dados revelam que as confecções brasileiras não estão aproveitando um mercado importante de clientes mais velhos.

“A população brasileira está envelhecendo, e as marcas de moda não focam neste público. Está na hora das grifes comporem um mix para o público mais velho, que é mal suprido”, diz.

A Loony, especializada em jeans e linha plus size, informa que o público com mais de 45 anos, que é o alvo da marca, representa pelo menos 40% do faturamento da loja.

“E está crescendo”, afirma Nelson Tranquez, diretor da Loony.  

A pesquisa também revelou que 20% dos consumidores foram impactados por influenciadores de redes sociais, dos quais 80% citaram o Instagram.

“O fenômeno do influencer no mundo da moda vem crescendo ano a ano. Os lojistas precisam prestar cada vez mais a atenção nisso”, diz Prado.

A maioria dos consumidores (58%) também informou que, antes de tomar a decisão de compra, tinha visto o produto em algum lugar, como redes sociais ou revistas especializadas.

Desse grupo de consumidores, 26% viram o produto anteriormente na própria loja onde fizeram a compra. “Esse dado mostra que, se o produto for bem exposto, vende.”

A pesquisa de preços na internet também faz parte do processo de compra de roupas. Dos consumidores ouvidos, 40% fizeram checagem antes de comprar.

“A prática começou com os produtos mais caros, chegou às gôndolas dos supermercados e agora atingiu também o setor de vestuário”, diz Prado.

 

Fátima Fernandes 

Jornalista especializada em economia e negócios e editora do site varejoemdia.com

Fonte:  https://dcomercio.com.br/categoria/economia/producao-de-roupas-no-brasil-volta-a-2016


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