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Varejo brasileiro pode vender
até mais do que em 2019, se recorrer a importados, de acordo com o IEMI. Vale a
pena arriscar em cenário econômico ainda desfavorável ao consumo?
O país voltou seis anos na
produção de confecção, podendo alcançar 5,7 bilhões de peças neste ano, número
parecido com o de 2016 (5,69 bilhões de peças).
A projeção é do IEMI –
Inteligência de Mercado, empresa de consultoria que acompanha a performance do
setor têxtil brasileiro há cerca de três décadas.
Os efeitos da pandemia do
novo coronavírus são a principal razão de a produção de confecção no Brasil em
2022 sequer atingir os números de 2019 (5,94 bilhões de peças).
“Este setor chegou ao fundo
do poço em 2020, com retração de até 90%, e ainda está em processo de
recuperação”, afirma Marcelo Prado, sócio-diretor do IEMI.
As vendas no varejo de confecção, no entanto, podem ultrapassar as de 2019, de acordo com projeções da consultoria, se os lojistas recorrerem aos importados.
Neste ano, a expectativa da
consultoria é que o varejo (físico mais e-commerce) venda 6,48 bilhões de peças
de roupas, número um pouco maior do que o de 2019 (6,45 bilhões).
A previsão é que os importados
ocupem espaço da produção nacional. Agora, isso se a guerra na Ucrânia e a nova
onda de covid na China, diz Prado, não se alastrarem.
Para que os números do
comércio sejam superiores aos de 2019, de acordo com Prado, a importação de
roupas tem de atingir cerca de 1 bilhão de peças neste ano.
“Não sabemos se isso vai
acontecer, mas o fato é que, no primeiro bimestre deste ano, as importações
estão pouco mais de 50% acima das de igual período de 2021”, diz.
Com a pandemia, o consumo de
peças de roupas por habitante caiu de 30,7 peças para 28 peças em 2021, podendo
chegar 30 peças neste ano, de acordo com projeção do IEMI.
“A melhora deste setor será
aos poucos, com o retorno presencial das atividades, redução do desemprego e
crescimento da economia”, afirma.
Especializada em moda
feminina, a rede MOB começou 2022 com volume de vendas, em média, 5% abaixo do
registrado em igual período de 2019.
“Algumas lojas já superam
vendas de 2019. Outras, não. Mas as que estão com faturamento menor enfrentam
problemas localizados”, diz Ângelo Campos, sócio-diretor da rede.
Lojas localizadas em outlets,
de acordo com ele, chegam a ter faturamento até 20% maior neste ano em relação
a 2019. A grande expectativa é se a retomada nas vendas irá se manter.
Em faturamento, as vendas do
varejo continuam abaixo das registradas no período pré-pandemia, de acordo com
a PMC (Pesquisa Mensal do Comércio), do IBGE.
Em 2021, o volume de vendas
do varejo de confecções atingiu R$ 161,6 bilhões, R$ 22 bilhões a menos do que
em 2019 (R$ 183,3 bilhões), em valores atualizados.
No estado de São Paulo, os
números são R$ 54,9 bilhões em 2019 e R$ 44,5 bilhões em 2021. Isto é, R$ 10
bilhões a menos em vendas.
Os números de janeiro deste
ano no país ainda mostram uma retração de 13,9% em relação a fevereiro de 2020,
mês que antecede o início da pandemia do novo coronavírus.
Além do cenário
macroeconômico, o que tem inibido as vendas de roupas são os preços, de acordo
com Fábio Bentes, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio).
Em janeiro, a inflação
acumulada em 12 meses no setor de vestuário atingiu 12,1%. Um ano antes, em
fevereiro de 2021, a inflação acumulada era de 0,4%.
“Houve uma grande mudança,
uma inflexão nos preços do vestuário. Os lojistas seguraram os reajustes até
quando conseguiram, mas chegou um momento que tiveram de repassar.”
Ainda assim, diz ele, os
lojistas repassaram praticamente a metade das altas de custos que tiveram de
enfrentar no último ano.
Enquanto os preços no varejo
de vestuário subiram 12,1%, no atacado a alta foi de 20,3% nos últimos 12 meses
encerrados em janeiro deste ano.
O comércio ainda está retendo
uma parte dos aumentos de custos, de acordo com Bentes, até porque o cenário
macroeconômico não está favorável ao consumo.
“A expectativa que existia de
que a volta da circulação de pessoas iria garantir a retomada das vendas do
setor foi descartada”, diz Bentes.
O número de pessoas às ruas
já está praticamente igual ao do período pré-pandemia, mas as vendas ainda
estão aquém.
Inflação e juros em alta,
elevado desemprego, guerra na Ucrânia, eleições à vista criam ambiente de
incertezas, diz ele, desestimulando o consumo.
Aldo Macri, vice-presidente
do Sindilojas-SP, lembra ainda do alto endividamento das famílias (ao redor de
70%), mais um indicador desfavorável aos gastos.
PERFIL DOS CONSUMIDORES
Pesquisa do IEMI feita no
final do ano passado mostrou que 69% dos compradores de peças do vestuário são
mulheres e 64% têm entre 25 e 44 anos.
Pessoas com mais de 45 anos
representam 14% do total dos consumidores.
Para Prado, esses dados
revelam que as confecções brasileiras não estão aproveitando um mercado
importante de clientes mais velhos.
“A população brasileira está
envelhecendo, e as marcas de moda não focam neste público. Está na hora das
grifes comporem um mix para o público mais velho, que é mal suprido”, diz.
A Loony, especializada em
jeans e linha plus size, informa que o público com mais de 45 anos, que é o
alvo da marca, representa pelo menos 40% do faturamento da loja.
“E está crescendo”, afirma
Nelson Tranquez, diretor da Loony.
A pesquisa também revelou que
20% dos consumidores foram impactados por influenciadores de redes sociais, dos
quais 80% citaram o Instagram.
“O fenômeno do influencer no
mundo da moda vem crescendo ano a ano. Os lojistas precisam prestar cada vez
mais a atenção nisso”, diz Prado.
A maioria dos consumidores
(58%) também informou que, antes de tomar a decisão de compra, tinha visto o
produto em algum lugar, como redes sociais ou revistas especializadas.
Desse grupo de consumidores,
26% viram o produto anteriormente na própria loja onde fizeram a compra. “Esse
dado mostra que, se o produto for bem exposto, vende.”
A pesquisa de preços na internet
também faz parte do processo de compra de roupas. Dos consumidores ouvidos, 40%
fizeram checagem antes de comprar.
“A prática começou com os
produtos mais caros, chegou às gôndolas dos supermercados e agora atingiu
também o setor de vestuário”, diz Prado.
Jornalista especializada em
economia e negócios e editora do site varejoemdia.com
Fonte: https://dcomercio.com.br/categoria/economia/producao-de-roupas-no-brasil-volta-a-2016
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