Desde que tomei conhecimento do 3D,
conheci diversas formas de aplicar seu uso no setor da saúde. A primeira
invenção que vi na medicina foi uma prótese de membro superior (braço e mão).
Era um projeto simples, nada muito caro, nem complexo. Se tem algo que chama a
atenção no 3D é a capacidade da tecnologia de criar o simples, sem muitas
firulas. No que diz respeito às próteses, elas evoluíram muito e,
consequentemente, o planejamento cirúrgico.
Hoje existem próteses definitivas
internas, próteses de um osso, de narizes, orelhas. Das minhas experiências,
ainda não tive contato com um órgão tecnológico, como um coração por exemplo,
mas acredito seguramente que na evolução e revolução ainda maior no setor da
saúde em breve seremos surpreendidos nesse sentido. Tenho para mim que 2022 e
2023 serão anos marcados pela impressão 3D na medicina e que veremos muita
coisa legal chegando. Quem viver verá!
Muito se engana quem acredita que a
impressão 3D chegou para substituir as soluções convencionais. Nunca foi sobre
trocar a solução por outra, mas sim observar qual delas traz mais vantagens
para o paciente e para o médico, para que então eles possam escolher a melhor
opção. Entretanto, naturalmente os benefícios do 3D irão sempre se destacar.
Isso porque, o primeiro lance desta
etapa é ver o valor e analisar o que a tecnologia entrega de diferente. Até
porque, a impressão 3D é apenas a forma que as soluções são concebidas, é uma
parte do processo. O que realmente a difere, falando particularmente da startup
nordestina Fix it, é a impressão 3D para suas órteses, design e material
utilizado. As órteses poderiam ter sido criadas em material injetado ou vários
tipos de tecnologias com as quais são fabricadas qualquer produto em plástico.
Mas, não!
Aqui a questão do desperdício é
inexistente pois trata-se de uma tecnologia chamada manufatura aditiva, onde o
plástico é desenhado e aditivado. A vantagem de ser por impressão 3D, pensando
economicamente e ambientalmente, é a questão do desperdício que é inexistente.
Não é preciso cortar e nem desperdiçar nenhum tipo de material na concepção do
produto.
Em geral, acredito que soluções em
plástico, com a questão de adaptação da anatomia e design inovador é o que
realmente chama a atenção. Isso é o que provoca os setores a trocarem os
imobilizadores convencionais pelas órteses produzidas em PLA - o famoso ácido
polilático. Qualquer um pode imprimir em 3D, mas é preciso tirar o melhor da
tecnologia. O tratamento de imobilização já é difícil, imobilizar uma
articulação com coceira, com calor, com fedor, com dermatites e usando algo que
não pode molhar é ainda pior. Desse modo, é preciso fazer algo que solucione
esses problemas, utilizando o 3D, como a startup mencionada acima.
Atualmente, a principal dificuldade de
se implantar setores 3D em hospitais e empresas é que estes lugares não querem
“possuir” uma impressora, ou seja, uma máquina própria. Por isso, hoje existem
locais do setor da saúde, por exemplo, que trabalham com a locação de
impressoras.
Outro, e talvez o mais importante,
desafio é a questão do tempo. A produção de um imobilizador ainda é algo lento,
que leva em torno de três a quatro horas, e isso é considerado lento para a
rotina hospitalar. Por isso, criamos alguns braços de padronização de soluções
para facilitar a entrega da solução. Assim, quando o paciente chegar ao
hospital poderá contar com uma peça padronizada a sua disposição e ele poderá
ser atendido imediatamente. Foi uma decisão totalmente de BI (Business
Intelligence ou Inteligência de Negócios), analisamos muitos dados antes de
criar as soluções padronizadas.
O BI é crucial para qualquer um que
deseja inovar com o 3D, superar as dificuldades de se implantar a tecnologia e
trazer uma solução de qualidade para os pacientes. O exemplo desse sucesso é a
startup ter atendido até hoje mais de 10 mil pacientes e cada um deles com sua
vida transformada. O mesmo se aplica ao planejamento cirúrgico, que consiste em
utilizar um exame de imagem de um paciente, seja ressonância ou tomografia, e
transformar aquela imagem em objeto 3D impresso. Com isso o médico consegue
materializar as estruturas do membro lesionado e fazer um planejamento de
cirurgia bem mais assertivo.
Acompanhamos uma equipe que conseguiu
planejar toda uma cirurgia, determinando o tamanho de placa, parafuso,
rescisões, sincronicidade da aplicação das placas. Desse modo, tiveram redução
de material hospitalar e tempo, o que é muito bom para o hospital e paciente,
uma vez que reduz o risco de contrair infecções por passar muito tempo com a
ferida aberta.
Já no caso das órteses, por exemplo,
elas ajudam a driblar as dificuldades que alguns pacientes adotam no uso do
gesso e que são pouco seguras, como uma régua por dentro para dar uma coçadinha
aqui, a ponta da caneta para dar outra coçadinha ali. Tudo isso aumenta os
riscos de ferimentos sem que o paciente perceba. Além disso, a aplicação e
utilização do gesso envolvem diversos cuidados, pois a má aplicação ou seu mau
uso, podem resultar em sérias complicações como a compressão dos vasos
sanguíneos ou dos nervos, dormência, formigamento, perda de sensibilidade e até
mesmo cianose -- condição médica que ocorre quando os tecidos não recebem a
quantidade adequada de oxigênio.
Esse cenário tende a nos mostrar a
extrema importância dos grandes players apostarem em inovação, dando espaço
para que startups entrem e resolvam os problemas internos deles, usando a
tecnologia como uma maneira de encurtar os caminhos seguidos por empresas
tradicionais. É claro que não é só chegar com a aspirina, é preciso chegar com
a vitamina. O que eu quero dizer com isso? Que as startups devem estar atentas
em trazer inovação junto com a resolução de uma dor latente dessas empresas.
Por outro lado, as companhias devem entender que vão necessitar dessas
tecnologias para resolver problemas já existentes, ou até mesmo outros que
ainda nem sabem que existem.
Felipe Neves -
fisioterapeuta, Pós-Graduado em Neurogerontologia, é CEO e cofundador da Fix
it.
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