Ao detalhar o efeito positivo do levodopa em portadores da doença, trabalho conduzido na Unesp contribui para otimizar o tratamento. Resultados foram divulgados na revista Brain Research (fotos: Fabio Barbieri/Movi-Lab)
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Cientistas do Laboratório de Pesquisa
do Movimento Humano (Movi-Lab) da
Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Bauru, conseguiram mensurar o
impacto do medicamento levodopa para o controle da postura e do equilíbrio em
pacientes com doença de Parkinson. Eles também estabeleceram o período que dura
o efeito do remédio: de 60 a 120 minutos após a ingestão.
Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Brain Research e,
segundo os autores, ajudam a otimizar o tratamento da doença. O grupo teve
apoio da FAPESP por meio de dois projetos (17/19516-8 e 18/03448-6).
Considerado
essencial no tratamento do Parkinson, o fármaco levodopa age aumentando a
quantidade de dopamina no cérebro, o que reduz os sintomas. No estudo, a equipe
monitorou a ingestão da primeira dose do medicamento em 15 pacientes que se
encontram em estágio leve a moderado da doença. Todos já faziam uso de levodopa
há mais de seis meses e muitos também usavam outros fármacos.
“Trabalhamos com pacientes em estágio
da doença entre 1 e 3 [em uma escala que vai até 5]. Esses estágios leve e
moderado apresentam as primeiras alterações posturais e de equilíbrio do paciente,
mas ainda sem perda da independência. A maioria dos estudos foca nessa etapa,
procurando melhorar a qualidade do tratamento”, explica Fabio Augusto Barbieri, professor do Departamento de Educação Física da Faculdade de Ciências
da Unesp e do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento-Interunidades.
O grupo
optou por estudar o impacto da primeira dose diária do remédio, por ser a que
tem menos oscilações, levando em conta o período para o início do efeito e o
tempo de duração. “E, mesmo assim, há variação de paciente para paciente.
Entretanto, pode-se dizer que o efeito da primeira dose é mais regular”, disse
o pesquisador, lembrando que a quantidade de doses que cada paciente toma
diariamente varia com o grau de evolução da doença e outros fatores.
Para
Barbieri, dois aspectos do trabalho devem ser salientados. “O estudo avança na
determinação de um período adequado para a avaliação do controle postural e
equilíbrio, ou seja, de determinar o período padrão para que os efeitos do
medicamento possam ser avaliados por outros estudos; e também no tratamento,
uma vez que, determinando a duração de efeito da medicação no equilíbrio, é
possível estabelecer o período “ideal” para a prescrição de exercícios físicos,
pensando em melhorar o efeito da intervenção. Porém, é importante lembrar que
os achados do estudo só valem para controle postural e equilíbrio, que foram o
foco deste trabalho. Para marcha ou controle de membros superiores, por
exemplo, pode ser que essas ‘janelas’ sejam um pouco diferentes.”
Efeito cortical
Barbieri
ressalta que, no experimento, foi usada uma tarefa postural que exigia bastante
do paciente. “Ele tinha de ficar parado por um minuto, descalço, com um pé na
frente do outro e os braços relaxados ao lado do corpo, olhando para um ponto
estático a mais ou menos um metro de distância. E repetia essa tarefa três
vezes. Em estudos anteriores, com os pés posicionados lado a lado, não foi encontrado
efeito positivo do levodopa. Mas era uma tarefa postural mais fácil. Há
estudos anteriores que corroboram essa hipótese do efeito positivo em
tarefas mais difíceis.”
Os voluntários fizeram duas visitas
ao Movi-Lab, separadas por no mínimo sete e no máximo 14 dias. Em ambas,
compareceram ao laboratório sem tomar a medicação e com um mínimo de 12 horas
desde a ingestão da última dose. Isso porque eles foram avaliados antes e
depois da ingestão do levodopa (que os cientistas chamam de período OFF e período ON da
medicação, respectivamente). Neste último caso, os pacientes foram avaliados a
cada 30 minutos, por três horas após a primeira dose matinal. Em um dos dias
foram avaliadas variáveis clínicas e, no outro dia, o controle postural.
Os
cientistas mediram a oscilação do centro de pressão do paciente (CoP, na sigla
em inglês) usando uma plataforma de força. Mensuraram também a atividade
muscular, com um eletromiógrafo, e a atividade cortical, com um
eletroencefalograma, procedimento que afere a atividade das diferentes regiões
do córtex por meio dos sinais elétricos no cérebro.
“Medimos
as variáveis do CoP, da atividade muscular e da atividade cortical em
diferentes momentos após a ingestão do levodopa e comparamos. Vimos que,
60 minutos após a ingestão do levodopa, há um aumento na atividade elétrica, o
que mostra que o paciente está ativando mais as regiões do córtex estudadas e
lidando melhor com os efeitos que a doença tem no cérebro para o controle
postural. Assim, o paciente consegue produzir um sinal motor mais adequado para
controlar melhor a postura.”
Todos os
sinais medidos (CoP, atividade muscular e cortical) foram sincronizados
eletronicamente e analisados no Matlab, um software de cálculo numérico de alta
performance. “Até onde sabemos, este é o primeiro estudo a investigar a
dinâmica do controle postural [atividade cortical, atividade muscular e
movimento corporal] em resposta ao levodopa durante uma tarefa desafiadora em
pé”, afirma.
Janelas
Para o
professor, tendo em vista o tratamento da doença, que inclui exercício físico,
os resultados do trabalho podem ajudar a direcionar as prescrições de
intervenções motoras para pacientes com Parkinson.
“Se
quisermos que o tratamento tenha efeito maior no controle postural, o exercício
físico deve ser realizado dentro da janela entre 60 e 120 minutos após a
ingestão da primeira dose, para garantir que o paciente consiga o melhor
rendimento possível.” Ele afirma que o grupo não esperava que o efeito do
remédio durasse tanto (duas horas), embora a marca dos 60 minutos já
tivesse sido delimitada por outros estudos.
O próximo
passo, de acordo com Barbieri, é propor intervenções que possam auxiliar no
controle postural e no equilíbrio do paciente, pensando em como combinar a
medicação com a realização de exercício físico e também determinar o período
mais indicado para prescrever esse exercício.
“Temos
visto estudos na literatura que combinam vários tipos de reabilitação –
medicação, exercícios físicos, fonoaudiologia, fisioterapia e outros – para
reduzir a progressão da doença. Se a intervenção for feita no melhor momento, é
possível diminuir ainda mais o ritmo de progressão. Entretanto, faltam estudos
que mostrem qual é o momento ótimo para intervir. É nesse âmbito que nosso
trabalho se insere.”
Parkinson precoce
Há dois
subtipos de Parkinson idiopático (sem causa determinada) mais conhecidos:
aquele que provoca instabilidade postural e distúrbios da marcha e aquele que
provoca tremor. “O que se sabe até agora é que a doença pode ser causada por
vários fatores: genética, exposições ambientais, estilo de vida [hábitos não
saudáveis, alimentação, sedentarismo], execução de trabalho que envolva
substâncias tóxicas, lesões no sistema neural ou mesmo consumo de drogas.”
Segundo
Barbieri, o perfil do enfermo tem mudado. “Era uma doença que atingia mais os
idosos, principalmente acima dos 60 anos. Mas o perfil está mudando. Temos
visto muitos casos de Parkinson precoce, abaixo dos 50 anos. Possivelmente, o
diagnóstico hoje é mais precoce por conta do avanço da tecnologia. A doença
também teve mais visibilidade nos últimos anos, falou-se mais dela
publicamente. Esses fatores parecem interferir na idade de diagnóstico da doença,
melhorando a caracterização dos pacientes com Parkinson.”
O artigo Temporal dynamics of cortical activity and postural control in
response to the first levodopa dose of the day in people with Parkinson’s
disease pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0006899321005849?dgcid=author.
Karina Ninni
Agência
FAPESP
https://agencia.fapesp.br/estudo-confirma-periodo-de-eficacia-de-medicamento-para-controle-postural-em-pacientes-com-parkinson/38302/
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