Ingerir bebidas alcóolicas, muito quentes e fumar aumentam em até 5 vezes as chances de desenvolver a doença. Oncologista comenta importância da prevenção e tratamento
O mês de abril, que leva a cor azul, traz a importância do diagnóstico e tratamento precoce contra o câncer de esôfago. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), foram identificados 11.390 casos, sendo 8.690 em homens e 2.700 mulheres em 2020. Além disso, o Atlas de Mortalidade por Câncer mostrou que em 2019 houveram 8.716 óbitos pela doença, que é considerada o sexto tipo de câncer mais frequente no público masculino e o 15º no feminino.
O câncer de esôfago acontece quando as células do revestimento interno do esôfago - tubo que vai da garganta ao estômago - passam a aumentar de maneira descontrolada. Contudo, a doença pode crescer, invadindo outras camadas do órgão ou mesmo outros órgãos ao redor.
No mundo, a neoplasia está entre a
oitava mais frequente e seu tipo mais comum é o adenocarcinoma, seguido pelo
carcinoma de células escamosas. De acordo com a Dra. Renata D'Alpino,
oncologista da Oncoclínicas em São Paulo, é possível ainda que outros tipos de
câncer também ocorram no esôfago. "Linfomas, melanomas e sarcomas podem
surgir na região, mas vale lembrar que eles são bastante raros", comenta.
Tipos de câncer de
esôfago
- Carcinoma de células escamosas -- a camada interna do esôfago (mucosa) é revestida por células
escamosas. O câncer que começa nessas células é chamado de carcinoma de
células escamosas. Ele pode ocorrer em qualquer lugar ao longo do esôfago,
mas é mais comum na região do pescoço (esôfago cervical) e nos dois terços
superiores da cavidade torácica (esôfago torácico superior e médio); e
- Adenocarcinoma -- Os cânceres que
começam nas células da glândula (células que produzem muco) são chamados
de adenocarcinomas. São frequentemente encontrados no terço inferior do
esôfago (esôfago torácico inferior).
Sintomas
Quanto aos sinais da doença, a oncologista explica que na grande maioria dos casos o câncer de esôfago é assintomático em fases iniciais, podendo dificultar o diagnóstico do paciente.
"No entanto, quando os sintomas
aparecem, é possível notar dificuldade de deglutição, dando a sensação de que a
comida está presa na garganta ou no peito. Isso ocorre devido a obstrução da
passagem de líquidos e alimentos; outro sinal é a dor no peito, como se fosse
uma pressão ou queimação; e ainda a perda de peso sem causa aparente, que pode
chegar até 10% ou mais do peso corporal do paciente", explica Renata
D'Alpino.
Outros sintomas
possíveis do câncer do esôfago podem incluir:
- Rouquidão;
- Tosse persistente;
- Vômitos;
- Hemorragia digestiva.
"Caso os sintomas não passem, é
muito importante procurar por ajuda médica. No entanto, vale lembrar que nem
sempre esses sinais são relacionados aos casos de câncer de esôfago, por isso,
o diagnóstico correto é fundamental para o início do tratamento mais adequado
ao paciente", reforça a médica.
Prevenção
Como forma de prevenção, é fundamental
evitar alguns hábitos que podem aumentar os riscos de desenvolvimento da
doença. São eles:
- Ingerir bebidas quentes demais (em temperatura igual ou
superior 65ºC)
- Tabagismo
- Inalar poeiras de construção civil, vapores de combustíveis,
entre outros
- Consumir bebidas alcóolicas
- Exposição a ambientes com radiação ionizantes (raio X e Gama)
- Obesidade
De acordo com um estudo publicado no
periódico Annals of Internal Medicine, beber chá quente demais pode aumentar os
riscos da doença. Contudo, se junto ao hábito o paciente também consumir bebida
alcóolica ou fumar, as chances podem ser cinco vezes maiores.
“Felizmente, o câncer de esôfago pode
ser prevenido, mas é importante que a população em geral deixe alguns hábitos
de lado. Manter uma dieta equilibrada, não fumar, praticar atividades físicas
regularmente e não ingerir bebidas alcóolicas ou quentes demais, como chás,
chimarrão, entre outros, são alternativas para contornar o problema. Vale
lembrar ainda que a vacinação contra o HPV é fundamental para evitar que a
doença seja causada pelo vírus. Além do câncer de esôfago, ela também pode
auxiliar na prevenção do câncer do colo do útero, ânus, boca, etc", alerta
a médica.
Diagnóstico
Após a queixa do paciente, o médico irá
solicitar uma endoscopia digestiva alta (EDA) com biópsia e em seguida, após a
confirmação da doença, exames de imagem para analisar o estadiamento da
neoplasia. Os mais comuns são:
- Endoscopia -- exame realizado
com o paciente sedado em que um endoscópio com câmera avalia a parte
interna do esôfago. Durante a endoscopia, são retirados fragmentos de
lesões identificadas;
- Ultrassom endoscópico -- uma sonda que emite ondas sonoras fica no final de um
endoscópio. Este teste é feito ao mesmo tempo que a endoscopia digestiva
alta e é útil para determinar o tamanho de um câncer de esôfago e o quanto
ele cresceu em áreas próximas. Também ajuda a mostrar se os gânglios
linfáticos foram afetados pelo câncer;
- Broncoscopia -- pode ser feita
para cânceres que estão localizados na parte superior do esôfago. O
intuito é ver se ele está invadindo a traqueia ou brônquios (tubos que
conduzem o ar da traqueia aos pulmões);
- Toracoscopia e laparoscopia -- são exames que permitem que o médico veja os gânglios
linfáticos e outros órgãos próximos ao esôfago dentro do tórax (por
toracoscopia) ou no abdômen (por laparoscopia) por meio de uma câmera.
Também podem ser usados para obter amostras de biópsia. São exames realizados com o paciente
anestesiado; e
- Tomografia computadorizada (TC) -- a TC de tórax, abdomen e pelve desempenha um papel crucial
na detecção de linfonodos metastáticos, de metástases hematogênicas e
também na avaliação do grau de acometimento local do tumor.
- PET-CT - o exame mostra
se existem alterações no metabolismo celular, produzindo imagens com
tecnologia digital e recursos de raio-x. Além disso, ele analisa em qual
estágio o tumor está, para que seja possível planejar o tratamento. O
procedimento consiste na aplicação de uma substância que emite baixas
doses de radiação à base de glicose por via venosa. Com isso, o
especialista poderá investigar o consumo de glicose no organismo e
eventuais problemas.
Tratamento
A partir do diagnóstico, o oncologista
irá indicar o melhor tratamento para o câncer de esôfago, podendo variar entre
cirurgia, radioterapia e quimioterapia (isolada ou combinada).
"Dependendo de cada situação, o
médico pode indicar a combinação de tratamentos, como o caso da quimioterapia,
podendo ser associada com a radioterapia antes da cirurgia. O objetivo, neste
caso, é de eliminar células cancerosas não observadas e ainda diminuir o
tamanho do tumor", finaliza a oncologista da Oncoclínicas em São Paulo.
Quando o câncer de esôfago já se espalhou para outros órgãos, o tratamento
envolve quimioterapia e, em alguns casos, imunoterapia.
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