O excesso de peso
pode alterar as taxas de tratamento contra o câncer
4 de fevereiro é o Dia Mundial do Câncer
Já há algum tempo, vários estudos têm demonstrado que a
obesidade é fator de risco para o desenvolvimento do câncer de mama após a
menopausa. “A relação entre uma maior incidência de câncer de mama nas mulheres
menopausadas com peso excessivo já é conhecida há algum tempo, e existem pelo
menos três mecanismos suspeitos para este fenômeno”, diz Dr. Felipe Henning
Gaia Duarte, endocrinologista da diretoria da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP).
Segundo o médico, um dos principais motivos para o aumento
na frequência de câncer de mama neste grupo de mulheres seria o estrogênio
(principal hormônio feminino) produzido pelo tecido gorduroso. O tecido
adiposo, a gordura no caso, não é somente um depósito de energia da
alimentação, ele também é considerado um órgão endócrino pois também produz
hormônios, e o estrogênio é um deles. Somando a predisposição genética
para desenvolver um câncer, se uma mulher está acima do peso, ela tem uma carga
maior de estrogênio do uma mulher magra, o que pode estimular o desenvolvimento
e a doença pode aflorar mais rapidamente.
O excesso de peso raramente ocorre sem um desarranjo
metabólico, a conhecida síndrome metabólica da obesidade. Neste
cenário, várias pacientes podem exibir uma inflamação orgânica assintomática,
com produção excessiva de hormônios pró-inflamatórios
(citocinas, TNF-alfa, etc). “Esse quadro inflamatório parece atuar no DNA,
alterando genes que suprimem o surgimento de câncer, levando a um desarranjo no
mecanismo de controle da multiplicação celular de modo que a célula perde a
capacidade de se autorregular e facilitando o desenvolvimento do câncer”,
explica o endocrinologista.
As pacientes com peso excessivo frequentemente apresentam
níveis de insulina mais elevado. Uma das consequências disto é a possível
elevação de um outro hormônio chamado IGF-1. Este hormônio é principal
mediador das ações do Hormônio do Crescimento, aquele que as crianças produzem
para crescer, mas que os adultos também produzem para ajudar a manter o
metabolismo funcionando. “Esse hormônio estimula o crescimento de células,
então numa célula mais propensa a crescer sem controle, como é a célula
tumoral, isso é um estímulo a mais para o seu desenvolvimento”, comenta Dr.
Felipe.
Segundo ele, existem trabalhos (referências abaixo)
documentando que as pacientes acima do peso têm uma taxa maior de insucesso no
tratamento da doença, isso porque o tecido adiposo, que é grande fonte de
hormônio feminino, ‘compete’ com os medicamentos usados para diminuir esses
hormônios.
O endocrinologista ressalta ainda que a ansiedade causada
pelo diagnóstico pode levar essas pacientes a compensar esse transtorno
psicológico por meio dos alimentos: é a comida usada como compensação de
prazer, algo como uma válvula de escape para a tristeza que surge naturalmente
com diagnóstico desta doença. Além disso, muitas acreditam que nessa fase a
dieta seria prejudicial ao tratamento e acabam comendo mais que o necessário
“para ficar mais forte”, o que acaba prejudicando a saúde. “Por isso que o
tratamento requer um controle multidisciplinar, pois a questão psicológica é
bem determinante para o sucesso do tratamento”, finaliza Dr. Felipe.
Segundo dados de 2021 do Instituto Nacional do Câncer (INCA),
estimam-se cerca de 66 mil novos casos de câncer, o que equivale a uma taxa de
incidência de 43 casos por 100 mil mulheres. Quanto mais cedo a doença for
detectada, mais fácil será curá-la.
Sugestão de literatura:
Toshiaki Iwase et al. Body composition and breast
cancer risk and treatment: mechanisms and impact. Breast Cancer Res Treat. 2021
Kyuwan Lee et al. The Impact
of Obesity on Breast Cancer Diagnosis and Treatment, Curr Oncol Rep. 2019
Atilla Engin. Obesity-associated Breast
Cancer: Analysis of risk factors
Adv Exp Med Biol. 2017
SBEM-SP - Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia do Estado de São Paulo
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