A
desigualdade de gênero ainda existe no mercado de trabalho e acaba criando
obstáculos e conflitos psicológicos e profissionais para as mulheres.
Muitas vezes, o assédio dentro do ambiente corporativo é um dos casos mais graves
sofridos. Para se ter ideia, de acordo com uma pesquisa do Instituto
Patrícia Galvão, feita em parceria com o Instituto Locomotiva e apoio da Laudes
Foundation, 40% das mulheres já foram xingadas ou já ouviram gritos no
trabalho, contra 13% dos homens. Além disso, 92% dos entrevistados acreditam que
as mulheres sofrem mais situações de constrangimento e assédio no ambiente de
trabalho do que os homens.
O
assédio e a importunação sexual são uma das ferramentas utilizadas pela
socialização patriarcal para intimidar mulheres a ocupar espaços de trabalho.
Quando ocupamos espaços, eles nos reduzem a corpos que servem apenas para pegar
café, anotar compromissos e para serem assediados. Quando ocupamos espaços, o
sistema patriarcal nos pune. Por isso, cada dia é mais essencial que as
mulheres que conseguem ocupar espaços, usem o seu privilégio dentro dos
ambientes corporativos para remodelar esses espaços e ajudar com que sejam
lugares seguros para as mulheres.
Acredito
ser essencial que as mulheres dentro do ambiente corporativo lutem e ajudem
umas às outras. Percebo que muitas mulheres quando assumem postos de poder,
acabam “jogando” com o patriarcado, encobrindo colegas assediadores, rindo de
piadas machistas. O ambiente corporativo é um ambiente competitivo e
extremamente patriarcal, é necessário que as mulheres se conscientizem de que
só a união faz a força. É preciso parar de rivalizar umas com as outras e se
unir, para juntas combater essas práticas dentro das empresas.
Como
identificar o assédio e importunação sexual nas empresas?
Um
dos maiores identificadores é que, quem sofre assédio ou importunação sexual,
na grande maioria das vezes, acaba com a saúde mental afetada. A situação se
agrava quando ocorre no ambiente de trabalho, uma vez que as mulheres já sofrem
com a famosa “crise de impostora” - quando você sente constantemente que o que
você faz não é bom o suficiente. Quando essas situações acontecem dentro do
trabalho, a autoestima e autoconfiança são extremamente abaladas. Isso acontece
porque o potencial, a inteligência e dedicação começam a ser questionados, já
que essas condutas fazem as mulheres se sentirem como se fossem reduzidas a um
corpo.
O
que deve ser feito quando se identifica um caso como este?
Nestes
casos, a principal solução é o canal de denúncia 180 ou procurar recursos
internos dentro da empresa, caso exista, junto ao Compliance ou RH. O maior
erro das empresas é não abordar e não investir no combate e na conscientização
do assédio, principalmente dentro dos cargos mais altos, uma vez que essas
denúncias geralmente são dirigidas ao “top management” da empresa. Além de
tudo, também existe uma dificuldade em relação ao canal de denúncia interno, já
que as vítimas têm medo de denunciar e perder o emprego caso sejam identificadas.
Existe também a falta de informação e treinamento, para que as pessoas saibam
diferenciar uma conduta e outra e saibam como agir diante das situações e a
quem recorrer.
Caso
exista, dentro da empresa, um setor de Compliance, esse deve ser o responsável
para implementar medidas de conscientização. A empresa deve investir em
contratação de treinamento e investimento em educação, até a investigação
interna através da instauração de um canal de denúncias anônimas. Temas como
esses não são de muito interesse das direções corporativas mas deveria ser, já
que um assédio ou importunação sexual que pode ocorrer dentro da empresa, pode
gerar danos à imagem e reputação irreversíveis.
A
verdade é que pautas relacionadas às mulheres dentro do ambiente corporativo,
só vão progredir quando as empresas e líderes também atuarem proativamente no
intuito de produzir uma cultura de união entre mulheres, e não o de rivalidade.
Mayra Cardozo - advogada especialista em Direitos Humanos e
trabalha com Empoderamento Feminino
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