A imigração é um fenômeno milenar inerente ao ser humano que possibilitou o desbravamento de novos territórios. Por definição, imigrante é quem sai de um país e vai para outro e migrante é quem sai de uma cidade e vai para outra no mesmo país. Podemos discutir, porém, o conceito de (i)migração de uma forma mais ampla, quase filosófica.
Penso que migrar pode significar recomeçar a vida
em um cenário diferente. Por isso, defendo que todos somos migrantes ou
imigrantes em algum momento de nossas jornadas. Quando você deixa a casa dos
pais para estudar fora ou para formar uma nova família, você é um (i)migrante.
Nesta linha, migrar significa sair do seu próprio
conforto de cenários, cultura e relações conhecidas para o oposto: o completo
desconhecido. Para que isso aconteça, é necessário um processo de ruptura,
quase sempre dolorido, em que se deixa tudo para trás e enfrenta-se o novo e
assustador desconhecido.
Na prática, saímos da casa de nossos pais por
vários motivos, mas principalmente porque o ninho deles não é o nosso. Queremos
construir algo novo, com a nossa cara. E quem diz que um casamento não
representa esta ruptura também? Sair da rotina comida, roupa lavada e boletos
pagos para enfrentar os desafios da vida a dois? Um verdadeiro choque cultural!
A (i)migração é um fenômeno que produz morte e
vida. Morte “matada”, morte “acidental” e morte “natural”. Explico: só
conseguimos sair de casa quando “matamos” ou enterramos os sonhos relacionados
ao lugar em que nascemos. Fazemos isso para um dia talvez voltar. Ou não.
Ainda durante nosso trajeto, podemos sofrer
“acidentes” e decepções, que “matam” os desejos antigos. E na nova vida, que
pode ser além-mar, em outro estado ou um novo bairro na mesma cidade,
descobriremos sonhos que viverão muito tempo e morrerão um dia, bem velhinhos,
de morte “natural”.
Estas andanças (i)migratórias são repletas de
novidades com mudanças de cenários, perspectivas e relações. Sair da nossa zona
de conforto nos permite conhecer novas culturas e formas de pensar. Só assim, a
vida se reinventa, geralmente para melhor.
Migrar é como colocar um enxerto na velha árvore,
dando força aos galhos e frutos que nascerão. Fica então o convite: que tal
(i)migrar para conquistar novos mundos?
Marcos Vinícius De Bortolli - professor
universitário, palestrante das áreas de ciência, tecnologia e inovação e autor da
trilogia “Quando Meninos Viram Homens”, saga familiar que retrata a luta por
sobrevivência no interior do Brasil.
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