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sábado, 20 de novembro de 2021

Mitos X Verdades sobre a Positividade Tóxica

A imposição da felicidade plena se torna cada dia mais frequente, mas essa atitude diante dos próprios sentimentos e dos outros, podem trazer quadros de ansiedade e depressão; especialistas esclarecem as principais dúvidas sobre o tema


 

Você já ouviu falar sobre a positividade tóxica? É praticamente uma “overdose” de felicidade que é comprada e imposta pela sociedade. Esse é um fenômeno contemporâneo e cada vez mais evidente, são as preocupações/ obrigações de se mostrar feliz o tempo todo. 

De acordo com a advogada Mayra Cardozo, especialista em Direitos Humanos, as redes sociais, em especial o Instagram, amplificaram esse fenômeno através do “fear of missing out” - medo de perder as oportunidades. “Existe uma aproximação entre ambos os fenômenos, mas a positividade tóxica é algo mais amplo que transpassa a esfera das redes sociais e acaba sendo incorporada em todos os âmbitos da nossa vida”, explica a especialista. 

 

A incessante exposição da suposta “vida perfeita” ou “corpo perfeito” também pode gerar esse ambiente de positividade tóxica. “Esse termo é bastante utilizado para a pressão propagada pelos discursos falsamente positivos aliados a uma vida editada para as redes sociais. Os influencers ditam tendências e pregam a felicidade como estilo de vida. O problema é quando essas pessoas não usam o bom senso. Cabe a cada usuário e a cada rede social tomar as devidas providências. É importante que os influenciadores alinhem o seu trabalho à responsabilidade de criar um propósito em prol do bem-estar de todos e da saúde como um todo. A palavra chave é sempre equilíbrio e escolha consciente”, alerta a psicóloga Vanessa Gebrim.

 

Abaixo, as especialistas esclarecem os principais mitos e verdades sobre positividade tóxica. Confira: 

 

1- A positividade tóxica está apenas no Instagram?

MITO. A positividade tóxica pode estar tanto nas redes sociais, como no ambiente de trabalho e até familiar. “Muitas vezes ela é algo que foi muito proliferado por alguns coaches, eu particularmente faço severas críticas à indústria que pertenço, por vezes terapeutas muito bem intencionados acabam sendo irresponsáveis ao invalidar ou suprimir algumas experiências e sentimentos dos seres humanos", revela Mayra. 


 

2 - Só não é feliz quem não quer?

MITO. “Alguns profissionais sempre acabam trazendo a ideia de que se você não é feliz é culpa sua, ignorando os mecanismos de opressões existentes. Isso é muito perigoso”, revela Mayra. 

 

Segundo Vanessa Gebrim, muitas pessoas acabam jogando os sentimentos “debaixo do tapete” para tentar estar sempre feliz, mas também precisamos passar pelas dores. “Não podemos e conseguimos apagar nossas dores ou questões. Não existe uma fórmula para a felicidade, precisamos trabalhar nossas dores e não anestesiá-las com o que a sociedade coloca como padrão”, alerta. 

 

3 - Existem profissionais que incentivam essa positividade tóxica?

VERDADE. Alguns profissionais sempre acabam trazendo a ideia de que se você não é feliz é culpa sua, ignorando os mecanismos de opressões existentes. “Um dos problemas que acredito que ocorrem quando as (os) coaches não possuem uma consciência inclusiva é que o processo não pode atingir seu resultado real. Hoje vivemos um momento histórico particular porque em tese somos livres, porém nossa própria liberdade causa coerção”, orienta Mayra. 

 

Ainda de acordo com ela, o maior problema é que alguns terapeutas e coaches não possuem uma lógica inclusiva e acabam reforçando essa lógica da positividade tóxica e de produção desenfreada que acabam sendo uma das causadoras do colapso psicossocial.

 

4 - A base da positividade tóxica é a felicidade.

VERDADE. “Porém, felicidade pressupõe liberdade, podemos dizer que liberdade pressupõe ausência de coerção, porém, atualmente nos deparamos com a seguinte situação: o sujeito que se considera livre, é, na realidade, um servidor absoluto que se explora voluntariamente”, complementa Mayra. 

 

5 - Quanto mais fingimos a felicidade, mais triste estamos?

VERDADE. “Estamos enfrentando um colapso psicossocial inerente: somos confrontados com uma epidemia de doenças mentais, especialmente ansiedade e depressão, e inúmeros registros de insatisfação no trabalho. Na maioria dos países, os níveis de “felicidade” ou “satisfação com a vida” permanecem estagnados mesmo quando a renda aumenta”, comenta Mayra. 

 

Ainda de acordo com ela, o nosso sistema econômico se baseia na autoexploração e essa é a inteligência desse regime, pois a autoexploração não permite o surgimento de resistências. ”Conclui-se que estamos diante de uma crise inexorável de liberdade e da consequente ausência de felicidade, na qual se utiliza uma técnica de poder, como a positividade tóxica e a produtividade desenfreada seguida pelo lema “trabalhe enquanto eles dormem”, que não rejeita nem oprime a liberdade, mas a explora”, complementa.  

As pessoas são controladas pela técnica de dominação neoliberal e patriarcal que visa explorar não só a jornada de trabalho, mas a pessoa por completo. “O autoconhecimento, através de narrativas como a da positividade tóxica, está sendo utilizado como mecanismo para aumentar a produtividade, uma vez que bloqueios, fragilidades e erros devem ser removidos terapeuticamente para melhorar a eficiência e o desempenho. Por isso é fundamental unir o processo de coaching ao desenvolvimento de uma consciência inclusiva e emancipatória”, finaliza Mayra Cardozo.

 


Mayra Cardozo - Advogada especialista em Direitos Humanos pela Universidade Pablo de Olavide (UPO) – Sevilha. A professora de Direitos Humanos da pós-graduação do Uniceub - DF, é palestrista, mentora de Feminismo e Inclusão e Coach de Empoderamento Feminino. Membro permanente do Conselho Nacional de Direitos Humanos da OAB e do Comitê Nacional de Combate à Tortura do Ministério da Mulher e dos Direitos Humanos.

 

Vanessa Gebrim - Pós-Graduada e especialista em Psicologia pela PUC-SP. Teve em seu desenvolvimento profissional a experiência na psicologia hospitalar e terapia de apoio na área de oncologia infantil na Casa Hope e é autora de monografias que orientam psicólogos em diversos hospitais de São Paulo, sobre tratamento de pacientes com câncer (mulheres mastectomizadas e oncologia infantil). É precursora em Alphaville dos tratamentos em trauma emocional, EMDR, Brainspotting, Play Of Life, Barras de Access, HQI, que são ferramentas modernas que otimizam o tempo de terapia e provocam mudanças no âmbito cerebral. Atua também como Consteladora Familiar, com abordagem sistêmica que promove o equilíbrio e melhora relações interpessoais.


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