Levantamento Dasa e CHN rastreou, em sua rede, 18.300 pessoas com indicação clínica de rastreio para a doença nas duas cidades. E mais de 8 mil estão em falta com os exames laboratoriais
O diabetes afeta 16,8 milhões de
brasileiros, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes. E um levantamento
feito, recentemente, pela Dasa – a maior rede de saúde integrada do Brasil, da
qual o Complexo Hospitalar de Niterói (CHN) faz parte – identificou, em sua
rede, nas cidades de Niterói e São Gonçalo, 18.300 pacientes com diagnóstico de
diabetes ou pré-diabetes, e 45,5% dessas pessoas não realizaram exames de
acompanhamento no último ano nas unidades laboratoriais da rede.
A análise revela que, na rede Dasa, em
Niterói, são 12.927 pacientes com indicação clínica para acompanhamento
laboratorial do diabetes e 5.397 (41,7%) deles podem estar em defasagem com os
exames. Já em São Gonçalo, são 5.400 pessoas portadoras de diabetes ou
pré-diabetes, e 2.600 indivíduos (49,4%), quase metade desse
público, podem estar com o acompanhamento atrasado.
Segundo Felipe Ribeiro, clínico geral e
gerente médico do CHN, o diabetes mal controlado e sem os cuidados adequados
pode ser um grande complicador para a saúde integral do paciente, causando
consequências como sobrecarga renal, problemas oculares, incluindo a cegueira,
danos aos nervos dos membros inferiores e má circulação nas pernas e nos pés.
“A descompensação do diabetes pela
falta de acompanhamento médico e realização dos exames de rotina é responsável
pela queda da qualidade de vida do portador da doença e aumenta os riscos de
complicações, já que os altos níveis de glicose no sangue provocam sobrecarga
nos rins, que acumulam proteínas sem conseguir filtrá-las. Além disso, com o
descontrole da taxa glicêmica, o paciente com diabetes tem mais chance de
desenvolver glaucoma, que é pressão elevada nos olhos, e 60% de possibilidade
de ter catarata, doença que pode causar cegueira. Sem contar os simples
machucados nos pés, que, por causa da perda de sensibilidade na região, podem
agravar e levar, por exemplo, ao desenvolvimento de úlceras de difícil
cicatrização. Atualmente, a principal causa de amputações não traumáticas de
membros inferiores no Brasil é por complicações do diabetes”, afirma o dr.
Felipe Ribeiro.
O perigo do pré-diabetes
O diabetes é caracterizado pelo déficit
ou má absorção da insulina, hormônio responsável por regular os níveis de
glicose no sangue e transformá-la em energia para o organismo. O médico explica
a diferença entre o tipo 1 e o 2 da doença: “O diabetes tipo 1 é uma doença
crônica e hereditária, menos comum entre os brasileiros, em que o próprio
sistema imune cria anticorpos contra as células do pâncreas responsáveis por
produzir a insulina. Já o diabetes tipo 2 ocorre quando a resistência à
insulina se desenvolve ao longo da vida, sobretudo como consequência de maus
hábitos alimentares. Nesse caso, a glicose acaba acumulada no corpo”, detalha o
dr. Felipe.
Contudo, o especialista chama a atenção
para o pré-diabetes, condição que pode ser agravada caso haja falta de
acompanhamento médico e diagnóstico tardio: “O pré-diabetes é um estágio em que
o risco de progressão do diabetes tipo 2 é maior. Nesse cenário, os índices
glicêmicos estão elevados, mas abaixo de valores para a classificação da
doença, e a homeostase ou o equilíbrio do metabolismo da glicose está alterado.
O grande perigo do pré-diabetes é o fato de ele ser assintomático, assim, o
paciente não toma conhecimento de sua condição por não buscar exames ou
acompanhamento ambulatorial, não fica atento aos fatores de risco, como
obesidade e sedentarismo, e não adota as medidas de prevenção”, alerta o
especialista.
Convivendo bem com o diabetes
De
acordo com o médico, o quadro de pré-diabetes pode ser totalmente revertido e
prevenido com a adoção de hábitos saudáveis, como a prática de atividades
físicas e uma boa alimentação. Já os pacientes com diagnóstico confirmado de
diabetes podem levar uma rotina normal, mantendo sob controle a taxa glicêmica,
além de cuidar da pressão arterial e da alimentação e evitar o consumo de
álcool e tabaco.
Diagnóstico
precoce favorece tratamento do diabetes
A
principal medida de prevenção ao diabetes tipo 2 é a mudança de estilo de vida,
incluindo adesão a uma dieta saudável combinada com atividades físicas
regulares. Segundo a endocrinologista Paula Bruno Araújo, gerente médica de
Análises Clínicas do Sérgio Franco, unidade diagnóstico da Dasa, a pesquisa de
diabetes deve ser feita em qualquer paciente que apresente sintomas sugestivos,
como excesso de sede, excesso de urina, fome aumentada e perda de peso em
qualquer idade. Durante a gestação também é indicada a pesquisa entre 24 e 28
semanas de gestação.
“Além
disso, é recomendado o rastreamento para todos os indivíduos com 45 anos ou
mais, mesmo sem fatores de risco. Também é recomendado o diagnóstico para
pessoas com sobrepeso ou obesidade que tenham pelo menos um fator de risco
adicional, como histórico familiar, doença cardiovascular, passado de diabetes
gestacional, hipertensão, síndrome do ovário policístico, HIV e pré-diabetes”,
explica a especialista. Aos que apresentam histórico familiar da doença, a
médica completa que o rastreamento deve se iniciar ainda na infância, com 10
anos, ou depois do início da puberdade se o indivíduo apresentar sobrepeso ou
obesidade.
Já
para os pacientes com diabetes, o controle glicêmico deve ser individualizado,
de acordo com a situação clínica. “É recomendada a realização de exames de
glicemia de jejum e HbA1C duas vezes ao ano, quando o paciente se encontra com
a meta glicêmica estabelecida. Já para os casos em que essa meta de HbA1C
esteja acima de 7%, essa avaliação deve ser feita a cada três meses”, ressalta
a médica do Sérgio Franco.
Além do controle glicêmico, o
paciente com diabetes deve realizar rastreio para as complicações crônicas,
como retinopatia, nefropatia, neuropatia e doenças cardiovasculares. Segundo a
especialista, os exames de sangue, urina e ocular, além de exames de imagem,
auxiliam nesse acompanhamento, de acordo com cada caso.
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