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quarta-feira, 7 de julho de 2021

Um Uruguai e meio é o potencial de crescimento do rebanho bovino brasileiro com recuperação de pastagens

Estudo de pesquisadores brasileiros publicado na revista científica Royal Society Open Science mostra como investimentos já conhecidos podem recuperar pastagens degradadas e contribuir com a expansão agrícola


Recuperar pastagens degradadas é a principal estratégia para expansão da atividade pecuária brasileira em uma retomada verde da economia. Se isso for feito utilizando práticas de intensificação já adotadas por boa parte dos produtores, o país poderá incorporar o equivalente a 1,5 vezes o rebanho bovino do Uruguai sem precisar abrir novas áreas para pastagens. Essa é a principal conclusão da análise feita por pesquisadores brasileiros e publicada hoje na revista científica Royal Society Open Science. A pecuária bovina é responsável por 25% do PIB agropecuário brasileiro com regiões altamente produtivas, mas sistemas extensivos e de baixa tecnologia ainda fazem com que o setor não alcance toda a sua potencial eficiência. O trabalho mostra que a recuperação de pastagens degradadas reconhecidas e declaradas no Censo Agropecuário - e que somam 12 milhões de hectares - poderia gerar uma capacidade suporte adicional de 17,7 milhões de cabeças de gado.

De acordo com o estudo "Pastagens degradadas no Brasil: melhorando a produção pecuária e a restauração florestal", em um cenário de alocação estratégica de pastagens degradadas e nativas, em que as regras do Código Florestal são cumpridas, as pastagens nativas utilizadas atualmente na pecuária poderiam ser destinadas à regeneração natural para cobrir o déficit de Áreas de Preservação Permanente Reservas Legais e, se insuficientes, poderiam ser complementadas por restauração florestal nas pastagens degradadas.

Com a cobertura desses déficits, as pastagens degradadas excedentes poderiam então ser destinadas à recuperação para produção pecuária. Nesse caso, seria possível adicionar uma capacidade suporte de 9 milhões de cabeças (ou 4,9% do rebanho bovino atual) e ainda garantir 12,7 milhões de hectares para restauração, o que seria mais do que suficiente para cobrir as metas brasileiras de restauração assumidas no Acordo de Paris.

Entre as principais medidas para chegar a esses resultados, estão: (1) fortalecer o Plano ABC, realocando recursos hoje destinados a pastagens, mas que não condicionam a aplicação em manejo adequado; (2) priorizar a aplicação desses recursos em regiões com alto potencial produtivo, mas alta concentração de pastagens degradadas e desmatamento; (3) fomentar Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), cuja presença no campo é positivamente correlacionada com o aumento de eficiência pecuária e, (4) adequar as práticas produtivas às exigências crescentes dos mercados doméstico e internacional de zerar o desmatamento, cumprir as leis ambientais, fiscais e trabalhistas, e não tolerar relaxamento nos cuidados com bem estar animal.

Diferentemente de estudos anteriores, que utilizam o potencial de aumento do rebanho baseado na capacidade biofísica das pastagens (o grau máximo de intensificação) e desconsideram restrições orçamentárias, os cenários deste estudo foram realizados com base nas boas práticas regionais de taxa de lotação de pastagens e investimentos já existentes.

"Isso mostra que os produtores e o setor teriam um grande salto de produção e de comprometimento ambiental a partir de ações conhecidas, portanto factíveis no curto prazo, sem necessidade de aportes muito maiores de recursos financeiros", ressaltam os autores Rafael Barbieri, Economista Sênior do WRI Brasil, e José Gustavo Feres, coordenador-geral de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura do IPEA. "A recuperação e restauração de pastagens degradadas é uma estratégia ganha-ganha que pode impulsionar a pecuária e evitar o desmatamento no Brasil, e tem que ser a prioridade estratégica do setor de agronegócio.", completam.

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