Estudo de pesquisadores brasileiros publicado na revista científica Royal Society Open Science mostra como investimentos já conhecidos podem recuperar pastagens degradadas e contribuir com a expansão agrícola
Recuperar pastagens degradadas é a
principal estratégia para expansão da atividade pecuária brasileira em uma
retomada verde da economia. Se isso for feito utilizando práticas de
intensificação já adotadas por boa parte dos produtores, o país poderá
incorporar o equivalente a 1,5 vezes o rebanho bovino do Uruguai sem precisar
abrir novas áreas para pastagens. Essa é a principal conclusão da análise feita
por pesquisadores brasileiros e publicada hoje na revista
científica Royal Society Open Science. A pecuária bovina é responsável por 25%
do PIB agropecuário brasileiro com regiões altamente produtivas, mas sistemas
extensivos e de baixa tecnologia ainda fazem com que o setor não alcance toda a
sua potencial eficiência. O trabalho mostra que a recuperação de pastagens
degradadas reconhecidas e declaradas no Censo Agropecuário - e que somam 12
milhões de hectares - poderia gerar uma capacidade suporte adicional de 17,7
milhões de cabeças de gado.
De acordo com o estudo "Pastagens degradadas no Brasil: melhorando a
produção pecuária e a restauração florestal", em um cenário de alocação
estratégica de pastagens degradadas e nativas, em que as regras do Código
Florestal são cumpridas, as pastagens nativas utilizadas atualmente na pecuária
poderiam ser destinadas à regeneração natural para cobrir o déficit de Áreas de
Preservação Permanente Reservas Legais e, se insuficientes, poderiam ser
complementadas por restauração florestal nas pastagens degradadas.
Com a cobertura desses déficits, as pastagens degradadas excedentes poderiam
então ser destinadas à recuperação para produção pecuária. Nesse caso, seria
possível adicionar uma capacidade suporte de 9 milhões de cabeças (ou 4,9% do
rebanho bovino atual) e ainda garantir 12,7 milhões de hectares para
restauração, o que seria mais do que suficiente para cobrir as metas
brasileiras de restauração assumidas no Acordo de Paris.
Entre as principais medidas para chegar a esses resultados, estão: (1) fortalecer
o Plano ABC, realocando recursos hoje destinados a pastagens, mas que não
condicionam a aplicação em manejo adequado; (2) priorizar a aplicação desses
recursos em regiões com alto potencial produtivo, mas alta concentração de
pastagens degradadas e desmatamento; (3) fomentar Assistência Técnica e
Extensão Rural (ATER), cuja presença no campo é positivamente
correlacionada com o aumento de eficiência pecuária e, (4) adequar as
práticas produtivas às exigências crescentes dos mercados doméstico e
internacional de zerar o desmatamento, cumprir as leis ambientais, fiscais
e trabalhistas, e não tolerar relaxamento nos cuidados com bem estar animal.
Diferentemente de estudos anteriores, que utilizam o potencial de aumento do
rebanho baseado na capacidade biofísica das pastagens (o grau máximo de
intensificação) e desconsideram restrições orçamentárias, os cenários deste
estudo foram realizados com base nas boas práticas regionais de taxa de lotação
de pastagens e investimentos já existentes.
"Isso mostra que os produtores e o setor teriam um grande salto de
produção e de comprometimento ambiental a partir de ações conhecidas, portanto
factíveis no curto prazo, sem necessidade de aportes muito maiores de recursos
financeiros", ressaltam os autores Rafael Barbieri, Economista Sênior do
WRI Brasil, e José Gustavo Feres, coordenador-geral de Estudos e Políticas
Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura do IPEA. "A recuperação
e restauração de pastagens degradadas é uma estratégia ganha-ganha que pode
impulsionar a pecuária e evitar o desmatamento no Brasil, e tem que ser a
prioridade estratégica do setor de agronegócio.", completam.
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