Agentes de mudança social, as mulheres são referências dentro de seus núcleos familiares, representam parte fundamental da força de trabalho na educação e também na atenção básica à saúde. No tocante à sua saúde, as mulheres também são foco de grandes campanhas de prevenção: câncer de mama, câncer de colo de útero, HPV. Mas por que não inserir também neste rol a prevenção à saúde mental?
Algumas estatísticas refletem a realidade de grande parte das mulheres. De acordo com a Mental Health Foundation, um estudo realizado em 2016 no Reino Unido evidenciou que uma em cada cinco mulheres, entre 16 e 25 anos, apresenta sofrimento psicológico, com relatos de automutilação e prevalência dos casos de suicídio.
No contexto nacional, uma pesquisa realizada entre maio e junho de 2020 - conduzida no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP - mostrou que, durante a pandemia, as mulheres foram as mais afetadas, respondendo por 40,5% de sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse.
Nessa discussão, precisamos adotar um olhar que vai além da perspectiva biológica e considerar as condições de gênero, que sobrecarregam e impactam a saúde mental, implicando diferentes suscetibilidades e exposições a riscos específicos de sofrimento psicológico.
Além do perfil multitarefa, a World Health Organization considera que consequências negativas podem se associar a violências domésticas e reprodutivas, desvantagem socioeconômica, educacional e em termos de oportunidades no mercado de trabalho, status social baixo ou subordinado, responsabilidade incessante pelo cuidado de outras pessoas, padrões irreais de estética e outros. Os obstáculos são ainda maiores para mulheres negras e periféricas, submetidas a outros contextos de discriminação.
Estes dados evidenciam a
necessidade de fortalecermos a conscientização coletiva da sociedade e
individual sobre a importância da prevenção na saúde mental das mulheres. Um primeiro passo para edificar essas iniciativas de
informação é o levantamento Caminhos em Saúde Mental, conduzido pelo
Instituto Cactus, em parceria com o Instituto Veredas. O levantamento promove
um apanhado sobre os principais consensos nacionais e internacionais em saúde
mental, bem como um resgate histórico do tema no país. Por meio de um olhar
dedicado a grupos negligenciados, como mulheres e adolescentes, o material
convida à construção de estratégias e políticas públicas de atuação em esforços
conjuntos de governos, academia, setores de saúde e assistência, além da
sociedade civil. Vamos amplificar o debate sobre saúde mental e normalizar a
conversa sobre o tema, pavimentando o olhar e o investimento na área e atuando
preventivamente no cuidado com a saúde mental da mulher?
Maria
Fernanda Quartiero e Luciana Barrancos do Instituto Cactus, organização que
promove ações de advocacy e grant making em Saúde Mental.
Nenhum comentário:
Postar um comentário